Salão de Motos da China se quadruplica e mostra grande salto da indústria de duas rodas

Da Infomoto*

A arquitetura mescla vidro e aço e o imponente edifício do Centro de Exposições de Chongqing, com cerca de 40.000 m² de área, só não impressiona mais que a vitalidade desta cidade de 32 milhões de habitantes elevada ao status de província e, desde 1997, comandada diretamente pelo governo central da China. Arranha-céus dominam o horizonte, milhares de prédios em construção e obras públicas marcam a metrópole localizada entre os rios Jialing e Yangtzé (maior da China e terceiro maior do mundo), assim como o trânsito carregado nas principais vias.
  • Gustavo Epifanio/Infomoto

    Faixa de superesportiva marca fachada do Centro de Exposições de Chongqing, sede do evento

O principal motor deste polo de desenvolvimento no centro oeste da China são as indústrias automobilística e motociclística que, somadas, respondem por 71% da economia local. Em 2008, foram produzidos 1,09 milhão de automóveis (a quarta maior produção na China) e 10,63 milhões de motocicletas na cidade, o que lhe confere o título de capital chinesa das motos. As principais montadoras chinesas de motocicletas têm unidades na cidade: Jialing, Lifan, Loncin, Qingqi, Shineray, Haojue e Zongshen, entre outras. Um terço das motocicletas exportadas para o mundo sai das linhas de montagem de Chongqing.

Não à toa, a única feira nacional dedicada exclusivamente ao setor de duas rodas acontece em Chongqing. Neste ano a 8ª edição da CIMAMotor (Feira Internacional do Mercado de Motocicletas Chinês) aconteceu entre 17 e 20 de setembro no monumental Centro de Exposições.

A feira se profissionalizou e cresceu. Passou a ser organizada pela UNIDO SPX-CQ -- parceria entre a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial e a cidade de Chongqing -- em conjunto com a VNU, uma empresa holandesa do ramo. E assim como tudo na China atual, o tamanho e os números do evento impressionam: 333 expositores, dos quais 27 eram montadoras chinesas de motos representando mais de 70% do mercado. Quatro vezes maior que a edição de 2008. Durante os quatro dias de feira, mais de 50.000 mil pessoas conheceram as principais novidades do segmento de duas rodas.

EXPANSÃO
Não fossem pelos ideogramas chineses e marcas desconhecidas, o visitante incauto poderia imaginar que se tratava de um enorme e tradicional salão de motos europeu. Afinal, o pavilhão de exposições trazia uma enorme faixa com a imagem de uma esportiva Suzuki GSX-R, marca japonesa também estava presente à CIMAMotor.

Alguns detalhes, porém, davam cores chinesas à exposição. A começar pelo exército de funcionários das fábricas todos usando roupas azuis. Apesar da mesma cor, cada exército de operários "azuis" representava a fábrica para a qual trabalhavam identificados pelo nome da companhia escrito nas costas. Uma cena inusitada na formal cerimônia de abertura, seguida por show de acrobacias sobre duas rodas.

No piso térreo do pavilhão, dedicado às montadoras, grandes estandes mostravam que as marcas chinesas descobriram a importância de se investir em marketing. Nada de estandes discretos e sisudos, pelo contrário. As fábricas chinesas disputavam a atenção dos visitantes com shows mirabolantes e música (muito) alta. Ao todo, cerca de 100 novos modelos de motocicletas foram lançados no evento. No estande da Loncin, que produz 300.000 motos por ano, um desajeitado robô (imitando os Transformers) chamava o público a conhecer os lançamentos da marca e parecia anunciar a transformação pela qual passa a indústria chinesa de motos.

Para Wang Wei, diretor da UNIDO SPX-CQ, a indústria de motos chinesa pode crescer ainda mais nos próximos anos. Mesmo que os 27 milhões de unidades produzidas em 2008 já garantam à China a posição de maior produtor de motocicletas do mundo.

"As vendas para o mercado externo têm crescido de 20 a 40% nos últimos anos, porém o mercado interno só aumentou 15%", lamenta Wang. Em função da crise financeira mundial as exportações de motos em 2009 devem crescer somente 10% -- mesmo assim acima dos 8% de aumento do PIB chinês projetados para este ano.
  • Gustavo Epifanio/Infomoto

    Sigla SUV, neste caso, se refere a modelo da chinesa Zongshen, recém-chegada ao Brasil


O DESAFIO
"Em todos os lugares onde há uma motocicleta rodando, há uma motocicleta de origem chinesa". Mesmo que as motos chinesas pareçam estar em todos os países, como resumiu Guong Pin, presidente da Jialing Group, o principal desafio na visão do diretor da UNIDO de Chongqing é alavancar as vendas domésticas. "É o principal mercado para as fábricas de motos chinesas", declara o executivo.

Dos 27 milhões de motos produzidas na China, "somente" 15 milhões são vendidas dentro do país. Pouco se considerarmos a população de 1,3 bilhão de habitantes. O principal entrave são as leis que restringem a circulação de motos em muitas cidades, como por exemplo, Xangai. Nas estradas e rodovias também não podem circular motos, mesmo as de grande capacidade cúbica, como as Harley-Davidson e Ducati, que estavam expostas no CIMAMotor 2009.

Chongqing é uma das poucas exceções, talvez por pressão dos fabricantes ali instalados. Nas avenidas e ruas, podem-se ver algumas motos de baixa cilindrada circulando, porém poucas se levarmos em consideração o trânsito caótico e o número de motos ali produzidas.

Os fabricantes esperam que isso mude, mas não defendem a bandeira abertamente. Resultado de quase 60 anos (que serão completados em 1º de outubro) de um governo comunista e autoritário e encabeçado pelo Partido Comunista Chinês que restringe liberdades individuais e de imprensa.

"Podemos atingir 50 milhões de motos produzidas por ano", aposta o presidente da Jialing. Ou seja, praticamente o dobro do que é produzido atualmente. Grande parte dessas motos seria destinada aos chineses, creem os fabricantes, visando uma população que deve se tornar majoritariamente urbana e vai buscar um meio de locomoção acessível e barato.
  • Gustavo Epifanio/Infomoto

    Japonesa Yamaha é uma das marcas tradicionais atentas ao potencial do mercado chinês


O GRANDE SALTO
Mas não é apenas o mercado chinês de motos pequenas -- entre 50 e 90 cc -- que a CIMAMotor quer fomentar. Harley-Davidson, Ducati, Yamaha, Suzuki estavam presentes ao evento expondo suas motos de grande capacidade cúbica. Todos de olho nas centenas de milionários chineses que o assombroso crescimento econômico faz surgir todos os anos. Apesar do comunismo, marcas como BMW, Audi, Ferrari, Gucci, Prada, Salvatore Ferragano, entre outras, já fazem parte do imaginário chinês. As motos de luxo também querem seu espaço.

Presente na China desde 2005, a Harley tem revendas em Pequim, Xangai e Hong Kong. Porém ainda enfrentam as restrições para aumentarem suas vendas. "Convidamos motociclistas de toda a China e queremos incentivar o uso da moto como lazer", declarou Wang Wei, da UNIDO.

As fábricas chinesas também querem difundir a cultura de duas rodas em seu país. Prova disso são os lançamentos de 250cc ou até mesmo de maior capacidade cúbica de marcas como a Jialing e Zongshen. A Shineray apresentou na feira a X2, a primeira moto off-road profissional fabricada na China. "Comando duplo de válvulas, refrigeração líquida e balança de alumínio", explicava orgulhoso Victor Huang, gerente de vendas da marca. "Os amortecedores também são reforçados e estamos disputando campeonatos internacionais com esse modelo de 250cc", completou Huang, mostrando que a indústria de motos chinesas está pronta para dar um grande salto. (por Arthur Caldeira, em Chongqing, China)

*Viagem a convite da UNIDO SPX-CQ

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