A Vila Madalena, bairro na Zona Oeste de São Paulo, é conhecida pela sua intensa vida noturna, pelos ateliês de decoração e artes e também por seus centros culturais e teatros. É neste ambiente meio boêmio, meio alternativo, que está inserida a Garage Metallica, empresa de customização e fabricação de peças artesanais para motos. A especialidade do "estúdio" é transformar uma Harley-Davidson "careta" em uma versão no melhor estilo "Old School", com cara das motos dos anos 50, 60 e 70. Ou seja, construir um exemplar único, cheio de atitude e com atualizações mecânicas e ciclísticas condizentes com os dias de hoje.
Para dar vida a um quadro de Harley de 1963, com balança redonda, a Garage Metallica trabalhou apenas seis meses no projeto de revitalização da moto. O primeiro passo do dono da moto, Constantin Sotos, empresário do ramo de autopeças, foi comprar motor e câmbio e depois importar algumas peças para começar a montar este grande quebra-cabeça.

Em função de sua configuração, não há nesta moto bateria para alimentar a parte elétrica. Então, para deixar a HD "viva", há um magneto (Morris M5 automático) com estabilizador, que gerencia a distribuição de carga elétrica. A corrente passa por apenas seis fios. Além disso, esta releitura sobre duas rodas conta com sistema de freios compartilhado.
O grande charme desta Pro Street Old School, além da parte estética, é o motor de dois cilindros em "V" HD Shovel Head 1200, ano 1978, que gera cerca de 80 cv. Apesar de ser um propulsor mais antigo da linha HD, a Garage Metallica deixou-o novo em folha, além de lhe dar um maior fôlego (aumento da capacidade), e a adoção de carburador CV e filtro esportivo. Outra curiosidade: a partida é a pedal.

Com câmbio de quatro velocidades, a transmissão primária é feita por uma larga correia dentada da marca Primo exposta, o que confere um ar ainda mais retrô. Já a relação final utiliza a tradicional corrente. Para um melhor rendimento, a Garage Metallica também construiu um escapamento 2 em 1.

CICLÍSTICA
A primeira alteração aconteceu no quadro, com aumento do ângulo de cáster de 32 para 40 graus. No conjunto de suspensão e freios, receitas tradicionais. Esta Old School conta com garfo telescópico Showa na dianteira e, na traseira, dois amortecedores originais Harley-Davidson. Outro grande diferencial desta moto é que não há manete direito para o freio dianteiro. O acionamento dos freios é único (compartilhado), com redutor de pressão. Ou seja, quando o motociclista pisa no pedal de freio, o sistema aciona, primeiramente, o dianteiro e, posteriormente, o traseiro. Quanto mais pressão no pedal, mais rápido a moto irá parar. Esta é uma invenção de Chrys Miranda, proprietário da Garage Metallica.

O conjunto é formado por discos simples, mordido por pinça de quatro pistões na dianteira. Já na traseira, pinça de dois pistões. Detalhe: as pinças são provenientes da Honda CBX 750 Four.

ESTÉTICA
Designer gráfico de formação e mecânico de motos por paixão, formado na oficina da própria Harley-Davidson nos Estados Unidos, Chrys Miranda procura deixar suas obras-de-arte sobre duas rodas o mais "clean" possíveis. "Nesta moto, até o cabo do acelerador ficou embutido no guidão", conta o artista, que fabricou artesanalmente várias peças instaladas na Pro Street Old School. Entre elas: reservatório de óleo em alumínio, suportes de placa, além dos paralamas.

A pintura teve duas inspirações: o Ford Mustang conversível, ano 1969, de Constantin Sotos e o cavalinho que representa o mascote da revista norte americana "The Horse", na qual uma foto da moto reconstruída pela Garage Metallica foi publicada. Então, no pequeno tanque de combustível de 11 litros foi estampado um Mustang verde e, ao volante, um cavalo todo tatuado.

"Levamos apenas seis meses para deixar a moto de pé e rodando, já que foi um trabalho bastante meticuloso, que vem ganhando gradativamente atualizações. Sempre de acordo com as sugestões do dono da moto", conta Miranda, dizendo que a Garage Metallica também faz revisões e presta assistência técnica para motos Harley-Davidson e Buell.

Para Sotos, a sua Pro Street Old School foi feita com muito esmero e soluções criativas. "O projeto preservou parte das características mecânicas, porém com soluções muito criativas. O resultado é uma moto fácil de pilotar", conta. (por Aldo Tizzani)