Honda CG Mix mostra na pista vantagens e desvantagens de ser flex

Da Infomoto

O frentista do posto me olhou estranhamente ao ouvir o pedido: "Por favor, completa com álcool". Ele ainda não conhecia a Honda CG 150 Titan Mix, a primeira motocicleta bicombustível do planeta, que roda com álcool, gasolina ou a mistura de ambos os combustíveis. Da minha parte, faltava saber qual seria o comportamento da Mix com o tanque cheio de álcool e o frio e chuva intensos da véspera de feriado de Corpus Christi. Debaixo de muita água, a Mix foi serpenteando no caótico trânsito paulistano do horário de pico.
  • Gustavo Epifanio/Infomoto

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As dúvidas pairavam: "o desempenho seria melhor que a versão com gasolina, como dava a entender a ficha técnica?" ou "haveria problemas para o motor funcionar e andar os primeiros quilômetros em baixa temperatura?". A partida elétrica da versão ESD testada fez com que a motocicleta pegasse de primeira. Ao sair com a Titan Mix, a luz-piloto "ALC" acendeu no painel redobrando minha atenção.

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A CG Mix demonstrou o típico comportamento de veículos a álcool nos primeiros quilômetros, com "buracos" nas acelerações e a marcha lenta inconstante, sendo necessária a aceleração para a moto não morrer. Depois de alguns quilômetros a marcha lenta se estabilizou e segui para o teste rodoviário rumo ao interior paulista, com muita chuva, frio e vento contrário.

O desempenho superior com álcool, ofertado pela ficha técnica, se mostrou imperceptível. Apesar do aumento considerável no torque -- de 1,32 kgfm a 6.500 rpm com gasolina para 1,45 kgfm nos mesmos 6.500 giros quando abastecida com combustível vegetal --, o aumento de potência é de insignificante 0,1 cavalo: 14,2 cv contra 14,3 cv aos 8.500 rpm, com gasolina e álcool, respectivamente.

A SEDE DA CG
Abastecida com álcool e enfrentando tempo frio e forte vento contrário na estrada, era de se imaginar que a CG 150 Titan Mix não teria vida fácil durante o teste. O cálculo do consumo médio até mostrou resultado bastante positivo para as condições: 29,2 quilômetros percorridos com um litro de álcool. Mas abaixo dos cerca de 40 km/l feitos com a Titan a gasolina.

Com esse consumo, o tanque de 16,1 litros abastecido com álcool projeta uma autonomia de 465 quilômetros, respeitando a margem de quatro quilômetros para evitar uma pane seca, já que a moto não tem "torneirinha" de combustível nem indicador de reserva. É bom lembrar que essa média pode melhorar bastante sem os fatores climáticos que acompanharam a primeira fase do teste da Mix.

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No segundo abastecimento, a Mix recebeu três litros de gasolina e o restante do tanque foi completado com álcool. Era esperado que nenhuma luz acendesse no painel, mas ao dar a partida (novamente, a moto pegou na primeira tentativa mesmo com baixa temperatura) e sair com a motocicleta, a luz "MIX" acendeu e permaneceu assim até o abastecimento seguinte.

Depois de rodar pelas estradas paulistas sem dó do acelerador, a média foi um pouco mais baixa: 27,55 km/l. Era hora de ir ao posto encher o tanque novamente e desta vez com a quantia mínima de gasolina para partidas a frio.

LUZES QUE CONFUNDEM
O sistema da Honda CG 150 Titan Mix não é idêntico ao dos carros flex por exigir um mínimo de 20% de gasolina no tanque para garantir partidas a frio. A Mix tem ainda duas luzes no painel: "MIX" e "ALC". Segundo o fabricante, quando a luz "MIX" acender é necessário colocar ao menos dois litros de gasolina; se as duas luzes acenderem, será necessário adicionar no mínimo três litros de gasolina para garantir a partida a frio; e se, ao virar a chave de ignição, somente a luz "ALC" piscar, o teor de álcool no tanque é alto e a temperatura ambiente é baixa, o que poderá significar dificuldades de partida. Aos mais desatentos, há um adesivo no tanque explicando o que se deve fazer quando alguma das luzes acender. Na teoria é o que o parágrafo do manual explicou, mas na prática a coisa é diferente, já que mesmo seguindo as orientações a luz "MIX" permaneceu acesa.

FICHA TÉCNICA

Honda CG 150 Titan Mix ESD
Motor: Monocilíndrico, quatro tempos, 149,2 cm³, duas válvulas por cilindro e refrigeração a ar.
Transmissão: Câmbio de cinco marchas e transmissão final por corrente.
Potência: 14,2/14,3 cv (g/a) a 8.500 rpm.
Torque: 1,32 kgfm/1,45 kgfm (g/a) a 6.500 rpm.
Diâmetro e curso: 57,3 x 57,84 mm. Taxa de compressão: 9,5:1.
Alimentação: Injeção eletrônica PGM-FI.
Chassi: Diamante. Dimensões: 1.988 mm (comprimento), 730 mm (largura), 1.098 (altura), 1.315 mm (entre-eixos) e 792 mm (altura do banco).
Suspensão: Dianteira por garfo telescópico e traseira por duplo amortecedor.
Freios: Disco simples de 240 mm de diâmetro com cáliper de dois pistões na dianteira; tambor de 130 mm na traseira.
Pneus: Pirelli City Demon 80/100-18 (diaanteira) e 90/90-18 (traseira)
Tanque: 16,1 litros.
Peso: 120 kg .
Cores: azul metálica, prata metálica, vermelha e preta.
Preço: R$ 7.071.
Durante o teste, a temperatura ambiente esteve sempre muito baixa pela manhã (e a moto passou algumas noites no sereno propositalmente). Mesmo assim, a CG Mix pegou na primeira tentativa em todas as vezes e a luz "ALC" não piscou uma única durante a ignição.

Questionando a engenharia da Honda sobre cada luz-piloto, a conclusão é a seguinte: a luz "ALC" acende quando há mais de 85% de álcool no tanque e a "MIX", para avisar da presença dos dois combustíveis no tanque. Em poucas palavras, quem utilizar álcool para abastecer a CG Mix, vai conviver com uma das luzes sempre acesa no painel.

Mas a dica para o proprietário da CG Mix, principalmente em locais de clima frio, é abastecer a moto com no mínimo três litros de gasolina de boa qualidade e se habituar à luz "MIX" acesa no painel para evitar dificuldades na partida da moto pela manhã ou o funcionamento inicial irregular típico dos carros a álcool.

NA PONTA DO LÁPIS
Por falar em abastecimento, é bom ficar atento aos preços dos combustíveis. De acordo com a tabela fornecida pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), há regiões onde os valores cobrados pela gasolina chegam a ser o dobro daquele cobrado pelo álcool, como na região Sudeste. No Sul, a variação de preço é de 74,31%, seguido pelas regiões Centro-Oeste (67,52%), Nordeste (52,63%) e Norte (44,74%). O índice é variável, portanto o ideal é sempre colocar na ponta do lápis o consumo da motocicleta em todas as condições, o quanto se roda por mês e o preço dos combustíveis em sua região para economizar combustível e dinheiro.

O ÁLCOOL COMPENSA?

"É preciso tomar cuidado, pois, apesar de mais barato, a autonomia do veículo com o álcool é, em média, 30% menor. Assim, para ser vantajosa a sua utilização, o preço do litro também precisa ser 30% menor"

Marcelo Nogueira, especialista do Ticket Car
Além da diferença de preço entre gasolina e álcool, outro fator importante é o consumo da CG 150 ao rodar com diferentes combustíveis. No teste anterior, com a CG 150 2009 a gasolina rodamos 41,2 km com um litro de gasolina. É preciso fazer algumas contas para saber se vale a pena pagar a diferença de cerca de R$ 300 entre o modelo Mix e a tradicional, a gasolina.

Vamos supor que um motociclista paulistano rode 3.000 km por mês com sua Titan a gasolina e pague R$ 2,39 pelo litro do combustível fóssil. Com o consumo de 41,2 km/litro ele gastaria R$ 174,03 no final do mês.
Já no caso da CG Mix, considerando-se que rode a mesma distância e pague R$ 1,09 no litro do álcool, o motociclista faria uma boa economia no final do mês. Com uma média de consumo de 29,2 km/l, ele gastaria mais de 102 litros de álcool, porém pagaria R$ 111,98.

São mais de R$ 60,00 por mês de economia. O que significa que em cinco meses, o motociclista paga a diferença de preço de R$ 300 entre os dois modelos. Portanto, nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste vale a pena optar pela CG 150 Titan Mix.

A bicombustível da Honda está disponível nas cores prata metálico, azul metálico, vermelha e preta. As versões oferecidas são três: KS (freios a tambor e partida a pedal), ES (freios a tambor e partida elétrica) e a top de linha ESD (freio dianteiro a disco e partida elétrica). Os preços sugeridos são R$ 6.151 (versão KS), R$ 6.683 (versão ES) e R$ 7.071 (versão ESD). (por Bruno Parisi)

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