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Roupa chamativa pode ajudar a salvar a vida do motociclista

Trajes muito visíveis, como estes com faixas refletivas dos faróis dos outros veículos, podem salvar vidas - Folhapress
Trajes muito visíveis, como estes com faixas refletivas dos faróis dos outros veículos, podem salvar vidas Imagem: Folhapress

Roberto Agresti

Colunista do UOL

26/10/2012 18h22

A partir de 1º de janeiro de 2013 entra em vigor, na França, uma lei que obriga todo motociclista de moto de 125 cc ou mais usar um traje devidamente homologado pelos órgãos de trânsito daquele país, dotado de material refletivo que ocupe uma área mínima de 150 cm² do corpo. No Brasil, determinação semelhante atinge somente motofretistas.

Mesmo tendo um trânsito razoavelmente regrado e uma cultura motociclística mais antiga que a nossa, até (ou principalmente) por conta da disseminação do uso da bicicleta e do ciclomotor como meio de transporte há cerca de um século, a gritaria dos franceses contra esta medida está sendo grande. Algo muito natural até tendo em vista o marcante traço libertário do povo francês.

APAREÇA
Ver e ser visto é um preceito básico da segurança veicular. Quem dirige, seja moto, carro ou caminhão, sabe que mesmo nos dias de melhor condição de visibilidade, vez por outra simplesmente não enxergamos obstáculos na pista. Passar sobre um buraco, lombada não sinalizada ou um malposicionado meio-fio pode ter consequências graves.

Imprudência ao guidão acaba mal e bem depressa: motociclista experiente e imprudente não existe. Ou é experiente, ou é imprudente. Quem pilota há anos sabe que manter luzes de posição em ordem é fundamental e, mesmo se o estereótipo determina como padrão o couro negro cobrindo o corpo, o bom senso indica que quanto mais chamativa e colorida for a vestimenta, mais seguro o motociclista estará.
 
A motocicleta, aliás, é um veículo que, pela sua própria natureza, expõe o condutor a graves consequências em caso de excessos. E seja do que for: velocidade, inabilidade, bebida alcoólica ou desatenção. Enquanto motos eram raras no trânsito, leis coercitivas como a mais óbvia delas, a que tornou obrigatório o uso capacete, não existiam. Poucas motos, poucos problemas.

EPIDEMIA
Mas agora o panorama é diferente, a escalada de novos motociclistas nas ruas, e de acidentes graves, é notória. Há quem considere que o problema já adquiriu perfil epidêmico. Para combater esta indesejada progressão de mortos e feridos, surgem propostas de todo tipo, das óbvias e de fácil aplicação, às esdrúxulas e sem viabilidade.

Em que pese a impopularidade da medida francesa, extensiva a todos os motociclistas e não apenas aos profissionais do guidão como no Brasil, é absolutamente inegável que especialmente à noite um traje muito visível, que reflita a luz dos faróis dos outros veículos, pode, sim, salvar vidas.

Todavia, ninguém gosta de ser obrigado a trajar um "uniforme" e certamente esta é uma atitude que será fortemente questionada, invocando os mais básicos princípios da liberdade individual.

O livre arbítrio é algo precioso, ao qual ninguém quer renunciar, independentemente do motivo, mas, do mesmo modo que com o passar do tempo nos habituamos a outras imposições em nome da segurança na condução de veículos (cinto de segurança, capacete...) e do bem-estar comum, imaginar que em breve tenhamos que tingir nosso guarda-roupa motociclístico de amarelo cítrico ou laranja fluorescente é, de certo modo, algo que deve ser considerado -- um ônus natural da opção pelo transporte sobre duas rodas que devemos pagar resignadamente caso isso seja, como realmente parece, válido para a segurança de todos nós.


MOTONOTAS!
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+ Colete reflexivo pode não ser apenas uma exclusividade dos motociclistas: o deputado Paulo Piau (PMDB/MG) apresentou na Câmara dos Deputados o projeto de lei 3382/12, que prevê que em todo veículo haja colete “com tarjas de sinalização refletiva”. Tal medida já é equipamento obrigatório de todos os veículos em diversos países da Europa.

+ O CEO da Ducati, Gabriele Del Torchio, esteve no Brasil recentemente para anunciar a constituição da Ducati do Brasil Ltda., que já começou suas operações montando a exuberante Diavel nas instalações da Dafra, em Manaus, como faz a rival BMW. Alexandre Susini, ex-Honda Brasil, será o diretor geral da operação, com Marco Truzzi (ex-BMW Motorrad), responsável pela área técnica e de serviços. Boas escolhas.

+ Del Torchio, desde 2007 na Ducati e com passagem por empresas importantes (New Holland, Komatsu e Ferretti Yachts, entre outras) é tido no ambiente empresarial europeu como uma espécie de “highlander”, um sobrevivente da passagem de propriedade da Ducati das mãos do grupo financeiro italiano Investindustrial para as da Audi, marca do Grupo Volkswagen. Continuar com Del Torchio no cargo evidencia algumas das intenções dos alemães, algumas explícitas ou não: manter a identidade italiana da marca de Bolonha, o jeito exclusivo e requintado de fazer motos e mecânica refinada é a parte explícita. 

+ Menos explícito é se valer do executivo italiano como para-raios nas clássicas contendas com as forças sindicais do país, muito ativas na historicamente vermelha (comunista!) Bolonha, cidade onde se situa a fábrica da Ducati.

+ E como noticiamos aqui na coluna publicada em 20 de julho, a Audi vai, sim, aproveitar da experiência da Ducati e partir para o enfrentamento direto com a BMW, única fabricante europeia a atuar no segmento tanto de carros como de motos. Começará com scooters, que usarão a marca dos quatro anéis, rivalizando com os recém-lançados scooters BMW C 600 e C 650. Mas a coisa não para por aí: a Audi quer, também, fabricar motos maiores.

+ A pretensão da Audi é atuar em todos os segmentos onde a Ducati não esteja consolidada -- leia-se, especialmente, no de big tourers estilo BMW GT 1600 ou Honda Goldwing. O know-how dos italianos associado ao "Vorsprung durch technik", slogan da Audi, algo que em tradução livre significa “na vanguarda através da tecnologia” (nem que seja um pouco italiana...) é promessa de motos, no mínimo, interessantes.