BMW lança moto pequena para ser popular sem perder status; vai conseguir?
Roberto Agresti analisa potencial da G 310 R no mercado brasileiro e o que pode atrapalhar sucesso do modelo por aqui
Em novembro de 2015 a BMW apresentou em Munique (Alemanha) a versão definitiva da menor de suas motocicletas, a G 310 R. Na ocasião, o chefe da divisão de motos da marca alemã, Stephan Schaller, anunciou que ao modelo caberia a ambiciosa incumbência de fazer as vendas da fabricante crescerem 50% quando se fala em veículos de duas rodas.
Estamos falando, em números redondos, de 200 mil motocicletas e scooters comercializados até o final de 2020.
Contra a vontade dos fãs
Tal estratégia fez os fãs mais arraigados torcerem o nariz, porque fará a BMW enveredar de vez aos segmentos de baixa cilindrada. As críticas são similares àquelas feitas por quem não gostou de saber que, no universo das quatro rodas, a fabricante estrearia uma plataforma de tração dianteira.
Curiosamente, graças a essa movimentação a BMW atravessa hoje um período de vendas excelentes no âmbito dos automóveis. Portanto, vê na criação da G 310 R (e suas derivações, como a já anunciada trail G 310 GS) a ação correta, cujo objetivo é não apenas ampliar vendas, mas projetar seu futuro no segmento das duas rodas.
Várias pesquisas indicam que a idade média dos motociclistas nos principais mercados globais -- Europa e América do Norte -- vem subindo ano após ano.
Tidos como “saturados”, tais mercados exigiriam mais do que um logotipo de prestígio estampado no tanque para renovar a clientela: novidades carismáticas mas acessíveis, como a G 310 R, podem significar um salto em direção ao sucesso.
Brasil é mercado-chave
Se a G 310 R é potencialmente atraente para clientes de mercados mais maduros, também tem papel importante para fidelizar novos consumidores nos chamados países emergentes. É por isso que Ásia e América Latina representam a maior parte desse consistente progresso comercial pretendido pela BMW.
O Brasil, claro, exerce função de protagonista para alcançar o objetivo, apesar do momento particularmente difícil de nossa Economia. Nesse aspecto, depender unicamente das vendas em solo brasileiro para a meta mundial de 2020 é arriscado, mas deixá-lo de fora seria tolice.
Montada na fábrica inaugurada há menos de um ano em Manaus (AM) e lançada na semana passada, a G 310 R chega finalmente ao nosso mercado ao preço sugerido de R$ 21.900, valor competitivo e alinhado ao de suas concorrentes já presentes.
O que pode dar errado
Fará sucesso a G 310 R no Brasil? Julgando pelas avaliações muito positivas, que destacaram não só a tecnologia empregada como o capricho construtivo e o excelente desempenho, a resposta seria sim. O problema principal será o bolso "raso" dos brasileiros.
É verdade que o segmento das motos "premium" de 300 cc é sonho de consumo para jovens que querem sair das anônimas utilitárias de 125 a 160 cc. A questão é como converter isso em vendas: tal nicho é responsável atualmente por não mais do que 10 mil emplacamentos ao ano, sendo encabeçado pela Yamaha MT-03 (dona de metade dessas vendas).
Outro aspecto é relativo à imagem: será o modelo capaz de romper o paradigma que coloca as motos da BMW como exclusivas, de manutenção cara, destinadas apenas a uma endinheirada elite? Ou a aura de exclusividade será exatamente o segredo de um eventual sucesso? Em breve saberemos.
Também complica a intenção de aumentar sua fatia de mercado no país (somente 0,65% em 2016) a distribuição, limitada a meras 39 concessionárias.
Uma rede dessa magnitude pode até ser suficiente para vender de 7 a 8 mil motos entre 800 a 1200 cc, a realidade dos últimos cinco anos da BMW no Brasil, mas certamente é magra para um modelo mais "popular".
Na Índia, um dos mais promissores mercados para a novidade, o lançamento da G 310 R foi postergado para 2018 justamente por conta do ainda reduzido número de concessionárias da marca alemã por lá, inadequado ao potencial do modelo.
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