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Por que a moto ainda é a melhor opção para se deslocar no trânsito pesado

Corredor de motos em meio a congestionamento na avenida Moreira Guimarães, em São Paulo (SP): prática não é, por si, uma infração, mas pode virar uma se condutor, por exemplo, fizer ultrapassagens pela direita ou não mantiver distância lateral suficiente dos demais veículos. Portanto, recomendação é que só se pratique o ato com o trânsito parado - Apu Gomes/Folhapress
Corredor de motos em meio a congestionamento na avenida Moreira Guimarães, em São Paulo (SP): prática não é, por si, uma infração, mas pode virar uma se condutor, por exemplo, fizer ultrapassagens pela direita ou não mantiver distância lateral suficiente dos demais veículos. Portanto, recomendação é que só se pratique o ato com o trânsito parado Imagem: Apu Gomes/Folhapress

Roberto Agresti

Colaboração para o UOL

08/08/2017 11h57

Colunista analisa a importância do veículo de duas rodas nas metrópoles com os piores congestionamentos do mundo

Sexta-feira, dia mundial do trânsito engarrafado. Para piorar tudo, chove. Neste contexto, me vi diante de uma crucial questão: como comparecer em três compromissos, em pontos diferentes da maior metrópole do Brasil -- São Paulo -- sem me atrasar? Resposta óbvia: usando uma motocicleta.

Não há nenhuma dúvida de que boa parte do sucesso deste tipo de veículo no Brasil (frota estimada em 25 milhões segundo a Abraciclo (associação brasileira de fabricantes do setor) se deve ao caos: as cidades foram e continuam sendo mal planejadas, e o transporte público é ineficiente ou simplesmente inexistente. Estes são apenas dois (bons) motivos para fazer dos deslocamentos com motocicletas ou scooters uma santa solução.

No caso específico da sexta passada, eu, convicto motociclista há quatro décadas, até deixaria a moto na garagem se houvesse alternativa melhor, pois além de estar chovendo fazia frio, muito frio.

Única alternativa, até quando não se quer

Apesar dos meus anos de experiência e da eficácia dos trajes técnicos para proteção contra intempéries, rodar em piso molhado (e com frio...) para mim é e sempre foi algo detestável. Também arriscado, claro, ainda por cima em uma São Paulo na qual não caía uma gota de água há mais de 50 dias.

Fica a dica: depois de um grande período de seca, as primeiras gotas de chuva tornam a sujeira acumulada no asfalto -- fuligem, poeira, borracha -- uma pasta malvadamente escorregadia, capaz de levar ao chão até mesmo o mais hábil dos motociclistas.

Sem ter alternativa, me armei de resignação, bons equipamentos e, ao fim da jornada, havia derrotado o trânsito e conseguido realizar minha lista de atividades. Sem a motocicleta não teria sido possível cumprir a apertada agenda.

As campeãs de congestionamento

Já em casa, o noticiário me informa que aquela tarde em especial foi uma das "premiadas" com um índice-recorde de congestionamentos, inclusive -- vejam vocês -- por causa de uma manifestação de motofretistas (também conhecidos por motoboys) que, em diferentes pontos da cidade de São Paulo, organizaram protestos contra uma suposta redução de seus ganhos engendrada pelos chefões do segmento, prejudicando ainda mais a já precária fluidez das sextas-feiras.

Tento aprofundar a questão. Me interessa saber nome e sobrenome de quem explora a mão de obra dos profissionais da moto e, em vez do algoz dos meus colegas de guidão, me defronto com um ranking interessantíssimo: o das mais congestionadas cidades do planeta.

Não foi muita surpresa verificar que é a Cidade do México, onde nunca estive, a campeã mundial em matéria de tráfego engarrafado, seguida por Bangcoc (Tailândia) e Jacarta (Indonésia), onde estive, e me lembro bem de ter visto enxames de scooters e motocicletas de baixa cilindrada nas ruas.

Corro a lista com os olhos, ávido para achar a "minha" São Paulo. Qual não foi a surpresa ao ver que a primeira cidade brasileira do tal ranking não é Sampa, mas sim o Rio de Janeiro, e mais surpresa ainda tive verificando que depois da cidade maravilhosa vêm Salvador, Recife, Fortaleza e, só então, São Paulo, em um modesto quinto lugar nacional (71º no mundo, enquanto o Rio de Janeiro é a 8º colocada). 

Como bom paulista que sou, detestei perder para os cariocas até nisso... Brincadeira à parte, reconheço que nas últimas vezes que estive no Rio de Janeiro me enrosquei em congestionamentos monstruosos. A cidade maravilhosa sofre por conta de sua topografia, com vias espremidas entre montanhas e mar.

Já as três cidades do nordeste que precedem a capital paulista foram vítimas da miopia de governantes que não investiram convenientemente em transporte público em meio ao grande aumento do número de veículos circulantes por lá.

Sem perspectiva de mudanças

Nesse cenário a motocicleta está "nadando de braçada" e, apesar da crise econômica e de outros pesares (chuva, frio, risco de acidente, roubo, furto etc) ela é e continuará sendo a alternativa ideal para quem precisa se mover de modo rápido e eficiente no pântano das ruas e avenidas congestionadas.

Para saber mais sobre a pesquisa dos índices de congestionamentos no Brasil e mundo afora basta clicar aqui.