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Péssimo hábito: motociclistas usam cada vez mais celular ao guidão

Nem o fato de serem as principais vítimas da desatenção impede motociclistas de darem aquela zapeada enquanto pilotam - Newton Menezes/Futura Press/Folhapress
Nem o fato de serem as principais vítimas da desatenção impede motociclistas de darem aquela zapeada enquanto pilotam Imagem: Newton Menezes/Futura Press/Folhapress

Roberto Agresti

Colunista do UOL

12/12/2016 08h00

Estudos mostram o quanto aumentam os riscos de acidentes

Em duas décadas o telefone celular mudou muito seu status: passou de exótico artigo de luxo para instrumento de primeira necessidade, que todos possuem. Encontrar alguém que não faça uso das muitas possibilidades que a engenhoca oferece se tornou raro. Muito raro.

No entanto, o espetacular poder que os smartphones proporcionam em termos de comunicação e de acesso a recursos variados -- a navegação por GPS é um dos mais espetaculares -- tem levado muitos à prática nada saudável de usar o aparelho enquanto se dirigir um carro ou, ainda mais grave, pilota uma moto.

Entre os motociclistas já há até um padrão para identificar um motorista de carro que está no celular: veículo ziguezagueando ou em velocidade incompativelmente baixa para a via. Ou os dois ao mesmo tempo.

Digitar uma mensagem ou um número no teclado dirigindo um automóvel é causa cada vez maior de acidentes. Até a clássica vacilada de quando o semáforo fica verde e o motorista não percebe pode ter graves consequências.

Motociclistas: vítimas e infratores

Motociclistas são vítimas frequentes destes maus hábitos e não apenas por tomarem fechadas ou serem abalroados por motoristas desantentos, mas também pelo cada vez mais difundido (e absurdo) hábito de usarem o telefone celular enquanto conduzem uma motocicleta.

Não é preciso procurar muito para ver motociclistas com apenas a mão direita no guidão – a do acelerador – enquanto na esquerda manuseiam o onipresente celular. O risco que tal ação comporta é enorme e por mais habilidoso que seja quem pratique tal barbaridade, a conduta é inadmissível e injustificável.

Problemática também é a instalação de suportes para smartphones no painel da motocicleta, coisa que só pode ser admitida se o aparelho estiver sendo usado unicamente para fins de navegação. Porém, dúvido muito que os motociclistas resistam à tentação de atender ao telefone ou ler uma mensagem, ações que desviarão a atenção da pilotagem e podem ter consequências bem ruins.

Diante deste cenário onde motoristas e motociclistas irresponsáveis se misturam, a escalada dos acidentes é inevitável. Haveria um modo de evitar que a crescente ânsia pelo uso dos smartphones não se traduzisse em mais vítimas do trânsito?

Riscos em números

Infelizmente soluções paliativas como conectar o celular a centrais multimídia que equipam alguns automóveis estão sendo condenadas por estudos recentes realizados por instituições de pesquisa renomadas.

Mesmo usando o viva-voz incorporado a tais sistemas, os motoristas perdem 44% de capacidade de interpretar corretamente a sinalização, enquanto a percepção dos outros veículos cai em preocupantes 28%.

Tais índices derivam de um estudo recente realizado pelo IBSR (Instituto de Segurança Viária da Bélgica). Para chegar a tal resultado os pesquisadores dotaram motoristas de óculos especiais capazes de identificar movimentos oculares e compararam a percepção quando 100% concentrados na direção a períodos nos quais atenderam chamadas pelo viva-voz.

Outra pesquisa reveladora foi realizada em 2015 pela Univesidade de Sussex e pela Open University de Milton Keynes, ambas no Reino Unido.

Um grupo de sessenta voluntários foi submetido a um simulador que reproduzia um perigo imprevisto na via. Os voluntários foram divididos em três grupos: vinte dirigiram o simulador sem distrações; outros vinte receberam simples chamadas ao celular; o grupo restante atendeu chamadas que os induziram a pensar em imagens.

O resultado deste terceiro grupo foi de longe o pior. A capacidade de reação ao perigo imprevisto foi brutalmente reduzida e mesmo o segundo grupo apresentou um grau de lentidão preocupante para evitar acidentes.

Os que foram induzidos a pensar em imagens, questionados com frases tipo "Onde você deixou a bolsa azul?" se referiram com frequência ao fenômeno de "ter olhado sem ver", desenvolvendo uma espécie de visão-túnel na qual o que acontecia dos lados da estrada não foi percebido ou considerado.

Existe solução?

Tendo em vista a gravidade destas constatações obtidas por métodos científicos e amostragens significativas, a solução para o problema do uso do celular enquanto se conduz qualquer veículo é única: evitar ao máximo o uso do telefone.

Mais do que apelar para a clássica solução -- multas salgadas e forte fiscalização --, a melhor alternativa talvez seja mesmo a divulgação dos resultados de tais pesquisas, o que induz à conscientização para fazer o que é certo.

Resistir à tentação de usar o celular ao volante ou ao guidão pode ser algo que, em princípio, parece distante e difícil. Porém, do mesmo modo que nos acostumamos a usar cinto de segurança, capacete e a não dirigir após ingerir bebida alcoólica, deixar o telefone descansar enquanto dirigimos é sábio e necessário.