Corrida de moto é laboratório que vai além da potência do motor
É bem provável que no momento em que você esteja lendo essas linhas algum piloto participante do Rally dos Sertões -- cuja largada aconteceu no dia 3 de setembro com chegada prevista para o próximo dia 10 --, esteja parado à beira do caminho, vendo seu concorrente passar e maldizendo a falta de sorte.
Qual a causa da parada? Tanto faz se a falha foi técnica ou provocada por tombo, mas certamente aquilo servirá de lição para o piloto e para as cabeças pensantes da indústria da moto, que ano após ano tratam de evoluir os modelos para evitar quebras e tornar a pilotagem cada vez mais fácil. Todo esse progresso, lógico, acaba respingando em você.
Motovelocidade, motocross, enduro ou rali: nem todos os motociclistas se interessam pelo esporte com motos, mas absolutamente todos nos beneficiamos do que é desenvolvido para as corridas, seja no asfalto ou na terra.
A maioria os motociclistas só se liga no aumento da cavalaria, confiabilidade e durabilidade dos motores. Na verdade o progresso mais consistente está não na potência, mas sim no chamado aspecto ciclístico, nome dado ao conjunto formado por chassi, suspensões, pneus e freios.
Eficiência e segurança
Acredite: as motos produzidas há 30 anos ou mais já superavam os 200 km/h facilmente. O problema era freá-las, contornar curvas ou controlar o guidão se acaso aparecesse alguma irregularidade mais robusta na pavimentação.
Graças à disseminação da prática do fora-de-estrada, seja em circuitos fechados (motocross) ou em trilhas (ralis e enduros), as suspensões de nossas motos do dia a dia se transformaram em soberbas absorvedoras de imperfeições, capazes de engolir pisos ruins sem fazer cara feia nem afetar dirigibilidade ou segurança.
Tamanha evolução dos componentes de suspensão e no desenho dos chassis só chegou à linha de produção porque alguns malucos toparam levar motos ao limite e foram assistidos por outros malucos capazes de inventar soluções para os problemas.
No âmbito dos pneus, sejam eles para uso só no asfalto ou do tipo misto, o progresso em termos de estruturas, materiais empregados na carcaça e compostos de borracha vão bem além do que a parte visível, os elaborados desenhos de bandas de rodagem, deixam entrever.
Aliás, ao equipar uma motocicleta vintage com pneus atuais, a sensação é de que houve um milagre, tamanho o ganho que se obtém em termos de dirigibilidade e segurança.
Quanto à frenagem, à parte o mágico sistema ABS (antitravamento), cuja eletrônica certamente é responsável por uma grande queda no faturamento de ortopedistas e dentistas, pode-se dizer que discos e pinças que equipam as motos médias atuais são infinitamente melhores que os sistemas que, duas décadas atrás, equipavam motos de alta cilindrada.
A questão envolvida nisso não é apenas relativa ao espaço de parada, mas à sensibilidade da frenagem: o motociclista precisa se sentir no controle da máquina na hora de frear sob condições críticas.
Praticidade e conforto
Volto aos ralis e neles vejo que a indústria da moto "pescou" não apenas ótimas soluções para aumentar a durabilidade de componentes como pneus, rodas, suspensões, motor e câmbio: encontrou também soluções para o dia a dia distante das competições, onde a praticidade é também muito importante.
Exemplos? As alavancas de freio com ajuste rápido de altura, acesso fácil à troca de filtros de ar ou óleo, montagem de elementos como guidão, faróis e partes plásticas por intermédio de coxins que evitam quebras em pequenos tombos e muito mais.
Fora tudo isso, há a ergonomia. O estudo da adequação do veículo ao ser humano evoluiu brutalmente graças, especialmente, às horas e mais horas ao guidão que competições como o Rally dos Sertões ou o famoso Dakar cobraram dos que tentaram a glória de vencer, ou ao menos a de ver a bandeira quadriculada final.
Como disse no início, você até pode ignorar o esporte com motocicletas, mas mesmo na trail mais básica ou na simplória utilitária de 125 cc há muita tecnologia nascida nas pistas de terra e de asfalto.
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