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Honda Fit é queridinho do brasileiro; qual pegar para fazer bom negócio?

Mesmo em sua primeira geração, Fit é queridinho do comprador, sobretudo após primeira atualização - Divulgação
Mesmo em sua primeira geração, Fit é queridinho do comprador, sobretudo após primeira atualização
Imagem: Divulgação

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

03/05/2018 04h00

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"Caçador de Carros", o consultor Felipe Carvalho analisa as safras dos 15 anos de Fit no país

Era abril de 2003. O alemão Michael Schumacher era "apenas" penta na Fórmula 1. A Seleção Brasileira de futebol era a atual campeã mundial. Eu estava na faculdade e tinha um Fiat Prêmio guerreiro. E no interior de São Paulo, na cidade de Sumaré, a fábrica da Honda estava a todo vapor para entregar as primeiras unidades daquele que seria seu maior sucesso no mercado nacional: o pequeno Fit. E é sobre esses 15 anos do Honda Fit brasileiro que faço essa análise.

Foram cerca de 550 mil unidades produzidas, média de mais de 3.000 por mês e mais de 100 por dia. Importante dizer que esse mais de meio milhão de carros saiu com direção elétrica, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos de fábrica. O Fit nunca teve a pretensão de ser um carro de entrada com alto volume de vendas, mas sim um caprichado veículo pequeno, simples, econômico e... caro! Sendo assim, qual o melhor momento do modelo? Os prós e contras? Qual a melhor "safra"?

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"Pingos nos is"

Até 2003, apenas o médio Civic era produzido por lá, já em sua segunda geração nacional -- a sétima mundial. A reputação de alta qualidade com baixa manutenção dos carros japoneses ajudaria na dura missão que o Fit tinha pela frente.

Dura porque era um produto completamente novo, difícil de ser enquadrado em uma categoria. Era um hatch? Era uma minivan? Concorria com quem? Ninguém sabia ao certo e me lembro muito bem da rejeição inicial por parte do brasileiro. Não ajudava o fato de ser um carro simples e pequeno, com motor de apenas 80 cavalos, desenho controverso e preço nas alturas. Aderiu à nova experiência quem buscava baixo consumo de combustível com o conforto de um câmbio automático, algo ainda raro até aquele momento.

A imagem do carrinho só começou a mudar no modelo 2005, quando a Honda passou a oferecer uma versão bem mais esperta, com 105 cv. Pode parecer pouco hoje em dia, mas são nada desprezíveis os 31,2% a mais de potência na comparação com o motor de entrada. O visual e o pacote de equipamentos eram praticamente os mesmos, mas os mais atentos sabiam que a cor do pingo no "i" identificava o motor. Fit com pingo vermelho no "i" possuía o motor 1,35 litro e 8 válvulas com 80 cv. Fit com pingo azul no "i" tinha o motor 1,5 litro e 16 válvulas com 105 cv. Ambos tinham opção de câmbio manual de cinco marchas ou automático do tipo CVT.

As publicações da época o colocaram como uma das melhores compras, pois, de fato, passou a ser um carro muito prazeroso de se guiar. O motor mais forte fazia toda a diferença sem prejudicar o consumo. A boa aceitação era evidente e, atrelado à fama da robustez mecânica, fizeram o Fit deslanchar no mercado nacional.

Essa geração só foi ter outra mudança relevante no modelo 2007, quando o motor menor passou a ser flex. Infelizmente essa foi e ainda é uma exigência do nosso mercado, que se mostra imaturo em atitudes como essa. O Fit monocombustível sempre foi melhor que o flex. Como sempre digo, precisamos de combustível de qualidade, e não motores que aceitem esse coquetel de "álcoolina" que nos vendem.

Quinze anos depois, vejo essa geração como uma queridinha no mercado de usados. É impressionante a procura que se tem por esse Fit, que sustenta preços na faixa dos R$ 20 mil até R$ 25 mil. O que nem todos percebem é que são carros com muitos anos de uso. Encontrar um em boas condições é tarefa árdua, até porque a manutenção do carrinho pode até ser baixa, mas não é barata, motivo pelo qual os atuais donos deixam de realizá-las de forma correta.

Qual pegar para fazer bom negócio?

Se você é uma das pessoas que está atrás do Fit dessa primeira geração, não se deixe enganar por baixas quilometragens, pois boa parte passou por criminosas adulterações. Leve para casa aquele que tem comprovantes de histórico de manutenção e boa procedência, mesmo que estejam com altas quilometragens.

Em ordem crescente de conteúdo, são 4 versões: LX, LXL, EX e S. As duas primeiras usam o motor 1,35, mas a LX não tem freios ABS. Essa deve ser evitada, pois a diferença de preço é pequena por um equipamento importante de segurança ativa. As duas últimas versões usam o motor 1,5 e são elas que você deve priorizar na sua busca.

Na verdade, foque na EX! Só abrace um S se pintar um na sua frente, pois foi uma versão limitada de apenas 1.000 unidades, nada fácil de garimpar no mercado de usados. Fique tranquilo, que não perderá nada de relevante, pois os diferenciais da S são apenas estéticos. Quanto à escolha do câmbio, vá naquele que atenda suas necessidades de uso. Entretanto, caso seja daqueles preocupados com revenda, saiba que o Fit automático é mais procurado do que o manual.

Para o modelo 2009, a Honda revolucionou o já consagrado Fit e apresentou uma geração completamente nova. Não estávamos acostumados com mudanças de gerações num período tão pequeno, algo que também vinha ocorrendo com o Civic. Dessa forma, a Honda deixava claro que sempre ofereceria por aqui o mesmo modelo vendido em qualquer outro país do mundo. Esse respeito pelo consumidor tem seu preço e considero um dos motivos do Fit ser tão caro.

Ao contrário da primeira geração, onde a principal diferença estava no motor, aqui temos equipamentos interessantes como rodas maiores, ar-condicionado automático, controlador de velocidade e sistema de som integrado ao painel com controle no volante. Esse é o meu Fit favorito de todas as gerações.

Quem já teve a oportunidade de entrar em um Fit, deve ter notado que a Honda caprichou no desenho e no acabamento do interior. O carro também ficou mais agradável de se ver por fora e manteve soluções práticas como as regulagens do banco traseiro. Pequeno por fora, mas incrivelmente espaçoso por dentro, essa sempre foi a proposta do Fit.

Os motores continuaram os mesmos, mas o 1,35 litro passou a ter 16 válvulas e o 1,5 litro passou a ser flex. Ambos ganharam em potência, mas sem muita percepção na prática, já que o carro estava mais pesado. Câmbios manual e automático continuaram como opção em todas as versões, com a diferença que o automático não era mais do tipo CVT, mas sim um convencional de cinco marchas, numa época que a maioria dos concorrentes ainda usava apenas quatro marchas em seus automáticos. Nas versões de topo, esse câmbio automático tem opções de trocas manuais pelas "borboletas" atrás do volante, algo bem interessante para quem quer o conforto no dia a dia, mas prefere ter o controle do carro em algumas situações.

Com preços que começam na faixa dos R$ 30 mil e chegam perto dos R$ 50 mil, a segunda geração do Fit é como pãozinho quente no mercado de usados. Só demoram para vender aqueles em péssimo estado. Com manutenções em dia e boa procedência, nem esquentam os classificados. Entretanto, a percepção que tenho é que está cada vez mais difícil encontrar um em bom estado.

Fique atento com estes

Tenho uma teoria que o típico comprador de Fit não é um apaixonado por carros. Compra esse Honda justamente por não se importar com isso e quer apenas um carro bom, com baixa manutenção e baixo consumo de combustível. Ele só esquece que o carro não é inquebrável. 

Avalio alguns com certa tristeza em vê-los tão renegados por seus donos. Claro que não posso generalizar, pois ainda consigo encontrar unidades em ótimo estado, dignas de donos cuidadosos.

Com relação às versões, são muitas. Pela ordem: DX, LX, LXL, Twist, EX e EXL, sendo que nem todas estiveram disponíveis em todos os anos dessa geração. Evite ao máximo a depressiva versão DX, que nunca teve ABS, vinha sem som e com calotas. Já a LX só passou a ser aceitável depois de 2013, quando ganhou os importantes freios ABS.

A LXL é uma versão intermediária digna de respeito, pois tem basicamente o mínimo que esperamos de um carro, com a segurança dos freios a disco nas quatro rodas com ABS, sistema de som e rodas de liga leve.

Já a Twist, oferecida somente nos últimos anos, partia do acabamento da LXL, adicionava o motor 1,5 e detalhes aventureiros. Não vale a pena, pois tem valor próximo das versões de topo sem ter os equipamentos delas. Mas se quer um carro bacana e bem equipado, não pense duas vezes em levar a versão EX ou a EXL para casa.

Para 2015, a Honda se viu na obrigação de renovar seu produto mais vendido. A receita já estava mais do que aceita, a reputação estava em alta, portanto não tinha o que errar. Mas eles erraram! Pelo menos na minha visão, pois alguém lá de dentro quis dar ouvidos para o setor de cortes de custos e empobreceu nosso querido Fit.

Pela primeira vez, unificaram os motores e todas versões passaram a ter a unidade de 1,5 litro. Para alegria de alguns, o CVT voltou a assumir o posto do câmbio automático. Até aí, tudo bem. Porém, são nos detalhes que a Honda derrapou. Ar-condicionado automático e freios a disco traseiros não apareciam nem na mais completa das versões, a EXL.

Já a EX, uma das mais vendidas, foi depenada do controlador de velocidade ao revestimento de couro no volante. Repercussão negativa levou a fabricante a recolocar os dois itens na troca para o ano-modelo 2016. Só que, ainda assim, o tecido dos bancos continuou nitidamente mais simples nessa versão, que antes usava veludo de melhor qualidade. O sistema de som era do tipo "me engana que eu gosto", pois simulava ser multimídia, mas não tinha nada além de Bluetooth e câmera de ré.

Somo a isso o fato de o desenho não ter me agradado, principalmente quando visto de trás. Apesar de ser algo pessoal e subjetivo, contribuiu para eu renegar essa geração. Valores começam nos R$ 50 mil. Em um combate entre um 2014 mais completo contra um 2015 de entrada, eu não pensaria duas vezes em escolher a primeira opção, mas sei que muitos aderem ao 2015 só por ter o desenho atual.

Verdade seja dita, o atual modelo 2018 ganhou itens tardios, mas bem relevantes, como controles de estabilidade e tração, além de voltar a equipar as versões de topo com ar condicionado automático e incluir uma central multimídia moderna, com espelhamento de celular. Mas como aqui o assunto é mercado de usados, vou deixar para falar desse 2018 na comemoração de 20 anos do Honda Fit no mercado nacional.

Vida longa ao Fit!

* Felipe Carvalho é administrador de empresas, consultor e primeiro "caçador de carros" profissional do país. Seu canal no YouTube dedicado a avaliações de achados automotivos tem mais de 100 mil inscritos.

Felipe Carvalho Caçador de carros - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal