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Fernando Calmon

Carro elétrico vai mesmo "dominar o mundo"? Há percalços no caminho...

Marcas já apresentam plataformas específicas para modelos elétricos, como a MEB da VW: vai haver bateria para tanta demanda? Como elas serão descartadas após fim do uso? Essas são só algumas das questões - Brendan McDermid/Reuters
Marcas já apresentam plataformas específicas para modelos elétricos, como a MEB da VW: vai haver bateria para tanta demanda? Como elas serão descartadas após fim do uso? Essas são só algumas das questões Imagem: Brendan McDermid/Reuters

Colaboração para o UOL

19/07/2017 11h00

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Indústria está otimista demais em relação aos veículos elétricos sem pensar em eventuais problemas e limitações

Força do querer. Pode parecer início desta coluna coincidir com o de uma novela televisiva atual. Foi proposital porque neste mês de julho as notícias eletrizantes sobre a invasão de carros elétricos no mundo se sucederam, como os capítulos dos populares folhetins noturnos de TV.

Primeiro foi o estudo divulgado pela equipe especializada em transportes da Bloomberg New Energy Finance (BNEF), empresa de pesquisa que tem acompanhado a evolução do assunto.

O relatório chama atenção para reduções importantes no preço das baterias de íons de lítio, que tornarão os elétricos tão baratos como os convencionais. Fala também em cerca de 700 mil veículos leves desse tipo vendidos em todo o mundo em 2016. A equipe agora estima que os elétricos representem 54% de todas as vendas mundiais de automóveis até 2040.

Em seguida a Volvo pegou a onda e seu presidente afirmou que depois de 2019 todos os novos projetos dos modelos da marca terão motores elétricos. Passou pouco mais de uma semana e foi a vez do governo francês anunciar o objetivo de em 2040 banir a venda em todo seu território de carros equipados com motores a combustão (diesel ou gasolina).

Ao mesmo tempo o elétrico Tesla 3 saía da linha de montagem nos EUA, primeiro “popular” da marca. Seus modelos atuais custam em torno de US$ 100.000 (R$ 330 mil), mais que o dobro de um modelo convencional, mesmo com incentivos governamentais em dinheiro aos compradores.

Falta prever as dificuldades

Todo esse enredo, porém, precisa ser mais bem explicado. Afinal, novela é peça de ficção, algumas até inspiradas em fatos da vida real. Apesar de todo o respeito pela BNEF, certas afirmações estão incompletas. É muito comum somar, sem informar, híbridos (de motor a combustão e elétrico, recarregável ou não em tomadas) e elétricos puros.

Aquelas 700 mil unidades incluem os dois tipos e representaram menos de 1% do que se vendeu no mundo no ano passado.

Passar a 54% em apenas 23 anos é grande exercício de otimismo. O preço das baterias já caiu e continuará a cair, como está no relatório. Mas terão de ser substituídas e recicladas depois de 10 anos a um preço que ninguém sabe. Isso não aparece no relatório, e deveria.

Volvo pertence à chinesa Geely, fabricante de veículos de capital privado, que deve se enquadrar nas orientações do governo do país oriental. Antes de 2025 o ciclo de modelos atuais da marca sueca não se encerrará e não foi dito se híbridos conviverão com elétricos.

Já o governo francês se enquadra muito bem no título da novela. As intenções são nobres, sem dúvida. Trata-se de um país onde quase toda eletricidade vem da energia nuclear, mas faltou explicar a que custo a infraestrutura de recarga será implantada.

E, novamente, como reciclar milhões de baterias que sairão dos carros ainda com 20% de energia residual. Podem em parte ser usadas em “bancos de energia”, mas depois a reciclagem terá que vir. Também falta saber se o lítio se manterá a preço estável ou haverá nova dependência mundial: em vez de óleo, metal...

A maioria das novelas mostra um final feliz. O carro elétrico também?

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Imagem: Alta Roda
Roda Viva

+Independentemente da maré elétrica de otimismo, motor a diesel pode ver sua aplicação restringida em automóveis na Europa. Há movimentos fortes em algumas cidades e países para forçar a indústria a uma atualização da frota circulante. Mercedes-Benz, pressionada na Alemanha, convocará três milhões de veículos a diesel usados depois de alegar que não tinham problemas.

+Porsche, por sua vez, admitiu agora que até o fim desta década decidirá se continuará a oferecer motores diesel nos SUVs e no sedã Panamera. Marca tem apenas 15% de vendas mundiais com essa motorização e pode substituí-la por híbridos a gasolina. Também investe em um sedã totalmente elétrico. Para 2025, estima que entre 25% e 35% da sua produção será de elétricos.

+Apliques ajuizados e altura de rodagem elevada em 3,1 cm fazem do Ford Ka Trail um produto adequado na faixa dos "pseudoaventureiros". Enfrenta quebra-molas, valetas e buraqueira sem comprometer de forma preocupante o comportamento em curvas. Retoques no habitáculo são discretos. Motor de 1 litro (3-cilindros) permite ter preço competitivo.

+Peugeot acaba de anunciar iniciativas de peso na prestação de serviços da sua rede de concessionárias para reconquistar mercado. Revisão em 24 horas (se atrasar, cliente não paga); empréstimo de veículo quando o reparo ultrapassar quatro dias, mesmo em casos fora da garantia; reboque gratuito por oito anos, em eventos de pane ou colisão. Exemplo a ser seguido.

+Prêmio Inovação Brasil, do jornal Valor Econômico, demonstra que parte da indústria de autopeças continua a investir em pesquisa e desenvolvimento no País. Na edição deste ano, a Mahle Metal Leve apareceu novamente na segunda posição no ranking de empresas automobilísticas. Possui 140 patentes ativas e seu Centro Tecnológico de Jundiaí (SP) gera uma média de 20 depósitos por ano.