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Popular no Brasil, motor flex vira opção global para carro sustentável

Países como EUA e Japão estudam misturar etanol à gasolina e até criar veículos capazes de andar usando só combustível vegetal, práticas comuns por aqui - Divulgação
Países como EUA e Japão estudam misturar etanol à gasolina e até criar veículos capazes de andar usando só combustível vegetal, práticas comuns por aqui Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

07/09/2016 10h00

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Os dois maiores emissores de gases do planeta -- basicamente gás carbônico, mas também outros -- finalmente chegaram a um acordo para homologar a meta de redução estabelecida na última conferência mundial sobre mudanças climáticas.

Estados Unidos e China aproveitaram recente reunião do G20 (grupo de países que representa 90% do PIB mundial) e se comprometeram a baixar o consumo de combustíveis fósseis. No caso de veículos, gasolina e diesel deverão ceder espaço a biocombustíveis e eletrificação de forma híbrida ou total.

Este é um tema muito complexo. As propostas envolvem comunidades científicas, governos e indústria automobilística mundial, pois abrangem diferenças culturais e realidades econômicas totalmente diversas.

Até a conscientização ambiental varia em um mesmo país, como nos EUA, ou no conjunto dos países europeus. Japão está mais engajado do que a China e, dentro da América do Sul, o Brasil lidera com o programa de biocombustíveis (etanol e, secundariamente, biodiesel). 

Volkswagen Gol Total Flex e Lula - Divulgação - Divulgação
Então presidente, Lula posa ao lado do VW Gol TotalFlex, primeiro carro brasileiro preparado para beber gasolina e etanol simultaneamente; lançamento foi em 2003
Imagem: Divulgação

Motor flex no radar

O 24º Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva, organizado pela AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva) nos dias 5 e 6 de setembro, em São Paulo (SP), teve como mote a eficiência energética e os impactos da evolução tecnológica para controle dos gases de efeito estufa.

Foram mais de 60 trabalhos técnicos, além de dois painéis de debates e cinco palestras de especialistas. Ricardo Abreu, presidente do simpósio, desenvolveu análise mais abrangente. Para ele não basta considerar apenas CO2. É preciso verificar o ciclo de vida de produção dos combustíveis, da origem ao descarte final via emissões no escapamento.

Desse ponto de vista, um biocombustível como etanol de cana-de-açúcar leva grande vantagem sobre os de origem fóssil. Em mistura com gasolina pode aumentar bastante sua octanagem e, por isso, nos EUA se estuda adição de 30% a até 40% do combustível vegetal na composição do derivado do petróleo. No Brasil, o índice atual é de 27%.

Com teores tão elevados, Abreu vislumbra oportunidades para um motor global flex em que cada país decidiria entre o mínimo de 10% e o máximo de 100% de etanol, a depender do custo de produção. Para esta Coluna o potencial para a engenharia automotiva brasileira é grande, por já estudar motores flex há mais de 30 anos.

Coincidentemente a Nissan acaba de anunciar no Japão um motor de taxa de compressão variável a ser exibido, no final do mês, no Salão de Paris. Para um motor flex é o ideal, embora ainda não se saibam os objetivos da marca japonesa nem o preço desse recurso, basicamente mecânico, em cenário tecnológico dominado pela eletrônica.

Inovar na berlinda

Havia expectativa de que Margarete Gandini, secretária de Desenvolvimento de Produção dentro do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, pudesse abrir alguma luz sobre eventual continuidade do programa Inovar-Auto, previsto para terminar no final de 2017. Isso não ocorreu.

Nos bastidores comentou-se que não haveria propriamente nova “política” industrial para o setor, mas sim um sistema de metas de longo prazo -- 10 anos -- para eficiência energética. Talvez a taxação do IPI sobre cilindrada e tipo de motor fosse substituída por algo como kJ/km, gCO2/km ou a expressão mais simples de km/l, à qual o consumidor está habituado. 

Roda viva

+Situação do mercado está longe de uma verdadeira virada, mas se pode dizer que parou de piorar e as quedas tendem a ser menos pronunciadas do que se imaginava. Depois de conhecidos os números de vendas de agosto, a Fenabrave aponta para redução de 16% em 2016 ante 2015. Essas previsões já foram piores, de até 25% de queda.

+Anfavea ainda não mudou sua previsão de menos 19% nas vendas sobre os 12 meses do ano passado. Mas as curvas, por ora, apontam para menos 15%. Os estoques totais se reduziram de 36 dias para 34 dias. No entanto isso se deve, na maior parte, à paralisação total das três fábricas da Volkswagen por falta de peças de um fornecedor que provocou um litígio comercial.

+Motor 1.2 3-cilindros do Citroën C3 confirma os bons resultados de consumo de combustível. Consegue índices até um pouco melhores do que o indicado no Programa Brasileiro de Etiquetagem. Em estrada é fácil chegar a 17 km/l com gasolina. Desempenho fica próximo ao velho 1.5 4-cilindros da mesma marca, porém mais ruidoso do que os melhores 3-cilindros.

+Departamento de Segurança Viária dos EUA autorizou fabricantes a usarem, além da carta registrada, qualquer meio digital para incrementar o índice de atendimento a recalls. Vale apelar até às redes sociais para aumentar o comparecimento às concessionárias. Lá o índice é de até 75% ou 51 milhões de veículos afetados (em 2015). Aqui sequer chega a 45% e fica por isso mesmo.

+Pneus considerados “verdes”, com uso de sílica no lugar de negro de fumo para diminuir atrito de rolamento e, por consequência, consumo de combustível, avançam para alcançar 100% da produção. Bridgestone já tem a nova linha Ecopia em vários modelos brasileiros. Sua marca de baixo custo, Firestone, também avança, porém de forma mais lenta.