Topo

Fernando Calmon

Procura por carro 1.0 despenca na crise; é o fim dos "milzinho"?

Volkswagen up! chegou ao mercado, preparado para ser só 1.0, justamente no momento em que crise começou a afugentar compradores dos modelos mais básicos  - Murilo Góes/UOL
Volkswagen up! chegou ao mercado, preparado para ser só 1.0, justamente no momento em que crise começou a afugentar compradores dos modelos mais básicos Imagem: Murilo Góes/UOL

Colunista do UOL

17/08/2016 15h35

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A atual crise do mercado brasileiro levou a mudanças no comportamento dos consumidores. Para a maioria dos analistas o grau de exigência dos compradores aumentou e o tempo dos carros básicos (também chamados de “pelados”) terminou. Pode não ser bem assim.

Atualmente quase todos os modelos vendidos ao cliente final (varejo) têm ar-condicionado. Tal fenômeno se explica pelo clima do país, as horas passadas em congestionamentos e, em especial, o poder aquisitivo de quem conseguiu manter sua renda nesses tempos de severa retração econômica, nunca vista antes com esse grau de intensidade em dois anos seguidos.

O chamado tíquete médio de venda subiu mais de 20% no acumulado de quase 24 meses consecutivos de mergulho do mercado. A parcela de pessoas que compravam o primeiro carro zero-quilômetro, depois de anos restrita a modelos usados por força de sua menor renda e da falta de boas condições de financiamento, foi reduzida drasticamente desde 2014.

Houve forte migração para a parte baixa da pirâmide social. Esse, aliás, é um ciclo que se repete. Na crise dos anos 1980, por três vezes seguidas o modelo mais vendido no país foi o Chevrolet Monza, um médio-compacto equivalente hoje a Cruze, Toyota Corolla ou Honda Civic. 

Naquela época os modelos de entrada também sofreram forte retração, mas parte desse resultado se deveu a Fusca e Gol terem convivido por seis anos. Agora, apesar de o mercado continuar dominado por modelos compactos, o Corolla já aparece com certa frequência entre os cinco mais vendidos. Não chega a ser uma surpresa.

SUVs tomaram espaço

Outro fenômeno aliado a variações de poder aquisitivo envolve os modelos 1.0. Com o IPI mais baixo desde 1990, os compradores exauridos financeiramente concentraram neles suas preferências, mesmo com potência inadequada para a maioria dos carros da época.

Em 2001 os chamados "carros mil" representaram nada menos do que 70% dos automóveis novos vendidos no Brasil. No ano passado, esse percentual caiu para 34%. Isso ocorreu mesmo com a grande evolução de desempenho e a chegada de motores modernos de três cilindros.

Há, entretanto, o fenômeno de crescimento dos SUVs compactos em que o propulsor de 1 litro de aspiração natural não mostra adequação. Já entre os hatches que oferecem também motores acima de 1 litro, os de menor cilindrada reinam: Uno, 85%; Ka, 84%; Palio, 80%; Gol, 67%; HB20, 65%; Sandero, 65; e Onix, 61%.

Esses compradores preferem adquirir um carro com mais itens de conforto a um preço menor. Trocam potência por equipamentos.

Dá para reagir?

Quando o mercado retornar ao patamar de quatro milhões de unidades anuais (incluídos veículos leves e pesados), que muitos esperam só ocorrer em 2022 ou 2023, podem voltar aqueles que perderam a oportunidade de sair de um modelo usado para um novo.

Economia estabilizada e em crescimento autossustentável, baixa inflação, financiamentos a juros menores e empregos seguros formarão o cenário ideal para atrair compradores de carros básicos. Eles não se importam com rodas de liga leve ou vidros, espelhos e travas elétricos. Talvez abram mão até do ar-condicionado.

O sonho do carro zero-quilômetro poderá recuperar uma oportunidade perdida com tantos erros de gestão econômica nos últimos anos. 

Roda Viva

+Correu pelo mundo a notícia de que a Noruega iria banir a comercialização de automóveis com motores de combustão interna a partir de 2025. O governo norueguês acaba de desmentir, informa a agência Reuters. O país continuará a incentivar tecnologias mais limpas até uma substituição natural, sem prazos. Parte de sua grande riqueza vem do petróleo.

+Para atender a legislação de eficiência energética, a GM estendeu ao motor de 1.8 sedã Cobalt as mudanças apresentadas nos 1.0 e 1.4 de Onix/Prisma. Câmbio manual também passou de cinco para seis marchas. Além do ganho de 3 cv (agora, 111 cv) e 0,6 kgfm (para 17,7 kgfm), peso diminuiu em 36 kg. Consumo chega a 15,1 km/l com gasolina (estrada). Preços: R$ 62.190 a 68.990.

+Monovolume Spin, mais alto e pesado, exigiu alterações adicionais. Motor é o mesmo do Cobalt, mas para melhorar consumo a GM adotou controle ativo de entrada de ar ao radiador e outros recursos técnicos. Em estrada com gasolina alcança 13,7 km/l e também nota A pelo Inmetro. Preços subiram em média 2% e vão de R$ 57.990 a 71.990.

+Embora tardio, há agora um projeto de lei no Senado que restringe o uso obrigatório de faróis baixos ou luzes de uso diurno (DRL, sigla em inglês) a vias rurais asfaltadas apenas, excluindo trechos urbanos de rodovias. Por enquanto, as multas urbanas ficam como estão por decisão arbitrária e ilegal do Denatran, que só adicionou ainda mais confusão ao controvertido tema.

+Campanha simpática da área de lubrificantes da Shell para destacar o papel do automóvel na sociedade brasileira. O concurso cultural vai até 26 de setembro e os consumidores devem contar histórias pessoais em que carros são protagonistas centrais. Há três exemplos no site www.shell.com.br/helix-retribua. Os filmes, bem produzidos, merecem ser vistos.