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Empregados esperam que Ford volte atrás: "não sei o que farei sem trabalho"

 Funcionários da Ford fazem protesto em frente à entrada da montadora, em São Bernardo do Campo (SP) - Marcelo Gonçalves/Sigmapress/Estadão Conteúdo
Funcionários da Ford fazem protesto em frente à entrada da montadora, em São Bernardo do Campo (SP)
Imagem: Marcelo Gonçalves/Sigmapress/Estadão Conteúdo

Cleide Silva

Do Estadão Conteúdo

21/02/2019 12h38

Resumo da notícia

  • "Fiquei sem chão", diz funcionária com 11 anos de empresa
  • Unidade de São Bernardo emprega quase 3 mil funcionários
  • Caso todos fossem demitidos, impacto fecharia outras 24 mil vagas

Sem conseguir dormir a noite toda, a inspetora de qualidade Carolina Miranda, de 38 anos, chegou cedo ao portão da fábrica da Ford nesta quarta-feira, 20, em busca de detalhes sobre a decisão da empresa de fechar a fábrica, anunciada na tarde de terça-feira.

"Estávamos trabalhando quando fomos informados. Fiquei sem chão, muita gente chorou", conta ela, que trabalha na unidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, há 11 anos.

Sua esperança é de que a empresa volte atrás. O marido, que era caminhoneiro, está sem trabalhar há um ano. "O caminhão foi roubado e não tivemos como comprar outro." É ela quem mantém a família, paga os estudos das duas filhas de 19 e 20 anos e as prestações da casa e do carro, ambos financiados. "Não sei o que farei se perder o emprego."

Uma tentativa de convencer a direção da Ford a rever a decisão ocorreu hoje (21) no Palácio dos Bandeirantes. O governo de São Paulo disse que buscará um comprador para a fábrica como forma de preservar os empregos.

"Vamos saber o que a empresa precisa, se podemos fazer algo", diz Morando. "O que não aceitamos é essa decisão unilateral e abrupta de suspender a produção de caminhões e do Fiesta e fechar a fábrica sem se quer um plano de desmobilização."

Ontem, o prefeito entrou com representação no Ministério Público do Trabalho para que a Ford explique sua atitude. A audiência será no dia 26. A montadora responde por 1,72% da arrecadação de ICMS da cidade (R$ 14 milhões ao ano) e por 0,8% do ISS (R$ 4 milhões).

Segundo a Ford, a unidade emprega 3 mil funcionários. Nas contas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cerca de 2 mil são de produção e os demais, da área administrativa. A entidade diz ainda que há outros 1,5 mil terceirizados.

O Dieese calcula que, caso todos fossem demitidos, o impacto fecharia outras 24 mil vagas quando se leva toda a cadeia produtiva em consideração. A Ford não revela quantas pessoas vai demitir de imediato, pois a área administrativa continuará a funcionar no local.

A fábrica opera com menos de 20% de sua capacidade produtiva e não recebe investimentos para renovação de equipamentos e produtos há pelo menos três anos, ao contrário do que têm feito na região concorrentes como a Volkswagen, a Mercedes-Benz, Scania e até a General Motors, que recentemente ameaçou fechar operações e está em negociações com parceiros para adotar um plano de viabilidade.

Globalmente, a Ford passa por um processo reestruturação e encolhimento de fábricas, com o fim da produção de vários modelos. Por enquanto, apenas uma outra unidade, na França, que produz transmissões, teve o encerramento de atividades confirmado para agosto.

"Poderíamos negociar salários, piso e PLR, como ocorreu com as fábricas de Camaçari (BA) e Taubaté (SP)", diz o montador de carrocerias Fernando Gomes, de 36 anos, 10 deles na Ford. "Não seria bom, mas fechar é o pior cenário". Casado e com um filho de 10 anos que é autista, Gomes teme principalmente pelo fim do convênio médico muito usado no tratamento da criança.