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Carro elétrico pode ser barato, mesmo no Brasil; Renault explica como

Renault Zoe Moovin compartilhado  - ERIC PIERMONT / AFP
Renault Zoe Moovin compartilhado
Imagem: ERIC PIERMONT / AFP

Ricardo Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Paris

10/10/2018 04h00

Franceses prometem sistema funcional já em 2022 -- e dizem que já há procura de cidades do nosso país

A Renault está decidida a passar de fabricante de carros a um provedor de soluções de transporte e mobilidade -- seguindo os passos de outras marcas, como a norte-americana Ford. O principal lançamento da marca no Salão de Paris, na última semana, foi um protótipo de transporte compartilhado -- uma espécie de "futuro do Uber" --, que funcionaria sem a necessidade de motorista.

"Nada disso vai chegar ao Brasil, nunca", alguém pode pensar.

Em entrevista a UOL Carros, Thierry Bolloré, chefe de operações do grupo Renault, garante que o EZ-Ultimo  e todo o sistema de compartilhamento autônomo não é algo futurista demais. Segundo o executivo, que atua como chefão global da Renault na prática (responde apenas ao chefe da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, Carlos Ghosn), o sistema ganhará as ruas em 2022.

E, apesar dos desafios de preço e infraestrutura, vê potencial para o Brasil.

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"Temos uma meta de eletrificação de todos os produtos até 2020 na Europa. E há um apelo em todo o mundo. Tenho recebido muitos prefeitos, incluindo prefeitos do Brasil, cada vez mais interessados em soluções limpas de mobilidade. Queremos ser provedores de soluções", afirmou Bolloré.

É difícil de acreditar nisso olhando para um conceito com LEDs e mármore no acabamento. Como ele enfrentaria ruas e tributação brasileiras? O plano, porém, até é bem plausível. Segundo Bolloré, haverá um primeiro estágio, com a ampliação tanto de ofertas de transporte compartilhado, seguido por aumento na oferta de elétricos.

Em Paris, a Renault já atua com o "Marseille", uma espécie de Uber de alto padrão para empresas, com um modelo comum, a gasolina -- o sedã grande Talisman a combustão faz o serviço.

O próximo passo será investir no "Moov'in.Paris by Renault", programa que tem a pretensão de substituir o combalido "Autolib" (compartilhamento público de carros elétricos da capital francesa). Esse novo programa funcionará com um aplicativo de celular para destravar unidades do elétrico compacto Zoe na capital francesa. O executivo promete que o programa terá 200 unidades operando até o final do ano.

"É claro que será preciso um mínimo de infraestrutura, mas, uma vez que outras cidades vejam essas soluções em funcionamento, começarão a aderir", disse Bolloré, ao explicar o que chama de primeiro estágio da estratégia do grupo.

Em um segundo estágio, em 2022, entrariam os carros sem motorista, em pequenas áreas e crescendo a partir daí - prefeituras e empresas de transporte por aplicativos seriam os grandes clientes. "Começaremos por Paris. Nós venderemos, eles irão querer".

Thierry Bollore chefão Renault - Regis Duvignau/Reuters - Regis Duvignau/Reuters
Thierry Bollore, chefão da Renault: "Tenho recebido muitos prefeitos, incluindo prefeitos do Brasil, interessados em soluções limpas de mobilidade"
Imagem: Regis Duvignau/Reuters

Mas e o Brasil?

Embora os planos sempre sejam programados para cidades do exterior, com condições ideais de infraestrutura e cobranças, Thierry  Bolloré acredita existir boas chances para a implantação dos sistemas de compartilhamento, mesmo com veículos elétricos ou autônomos, no Brasil. A marca já testa o Zoe em nossas ruas há alguns anos e acaba de anunciar os planos para o Kwid elétrico em quatro anos

E isso ocorre, segundo o executivo, justamente pelo fator caótico do trânsito, que forçará a adoção de alternativas.

"O potencial é alto para países como o Brasil. Com todos os problemas e desafios do trânsito carregado de grandes cidades, há muita necessidade de melhores soluções de mobilidade urbana", disse.

Claro que mesmo uma futura busca "desesperada" por alternativas que desamarrem o trânsito vão esbarrar na questão do preço elevado de veículos elétricos, híbridos e autônomos. Para a Renault, o compartilhamento seria fundamental para reduzir o peso do custo e atrair mais clientes -- de novo, empresas e mesmo prefeituras, não o consumidor pessoa física, especificamente, que seria apenas o usuário.

Mas seria um usuário que gostaria de ver e exigira uma maior oferta pelo serviço, incentivando a expansão.

"Quando você aumenta a escala, você reduz o preço e consegue entregar muito de alta tecnologia. Não apenas para o consumidor comum. Muitas vezes, uma pessoa que não tem condições de comprar um veículo com essas tecnologias, vai ser atraído pelos sistemas de compartilhamento e também pela possibilidade de experimentá-las".

Marcas entregam carro, governo faz infraestrutura

Na China, as vendas decolam como em nenhum outro lugar por conta de fortes medidas de incentivo, enquanto, no Brasil, o "Rota 2030" ainda patina em eletrificação. Para Bolloré, isenções fiscais são importantes, mas não essenciais.

"Se atendermos as reais necessidades do consumidor, nós vamos vender. Incentivos são muito importantes para decolar as vendas. Sempre que um governo reduz impostos e implanta incentivos, as vendas sobem. Mas ao mesmo tempo, nossa experiência na Renault mostra que nós podemos fazer dinheiro sem isso. Estamos fazendo dinheiro com carros elétricos e estamos fazendo uma operação lucrativa", afirmou.

De toda forma, o chefão do grupo Renault reconhece que será preciso uma maior participação dos governos para sanar os desafios de infraestrutura, em especial, na ampliação de redes de estações de carregamento.

"Para ter um veículo elétrico, você tem que recarregar. Autonomia da bateria e as estações de recarga hoje são os grandes desafios. É preciso reduzir essa ansiedade do cliente. As redes de recarga têm crescimento, mas é preciso mais. As autoridades precisam buscar como entregar isso".