Topo

Citroën C4 Cactus nacional sem segredos: UOL Carros andou e conta tudo

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

25/05/2018 00h00

Dirigimos unidades de teste do crossover feito para o Brasil e para Argentina; modelo chega antes do Salão de SP

Você já sabe: a Citroën vai lançar seu primeiro "SUV" no Brasil antes do Salão do Automóvel de São Paulo (que acontece em novembro). Com a missão de concorrer com Honda HR-V, Nissan Kicks, Jeep Renegade e afins, o C4 Cactus já foi rotulado pela própria direção da Peugeot-Citroën como "o maior lançamento de sua história no Brasil".

Pudera: o C4 Cactus terá de atualizar a base de produtos compactos do grupo PSA na América Latina e, ainda, reverter a queda contínua nas vendas da fabricante. Vai dar conta do recado? 

Essa resposta só será completa com o lançamento de fato e o início das vendas, mas UOL Carros já pode antecipar o debate: participamos da "primeira experiência de rodagem do Projeto F3" (o codinome interno do C4 Cactus nacional), e trazemos em primeira mão nossas impressões sobre esse teste muito específico. Veja como foi.

Veja mais

+ Como anda o sedã C4 Lounge renovado? Assista
Quer negociar hatches, sedãs e SUVs? Use a Tabela Fipe
Inscreva-se no canal de UOL Carros no Youtube
Instagram oficial de UOL Carros
Siga UOL Carros no Twitter

Alta expectativa

É exatamente isso que UOL Carros sente após ter experimentado quatro unidades "pré-série" do C4 Cactus nacional por quase 250 quilômetros, tanto ao volante, quanto como passageiro no banco de carona e no banco traseiro. "Pré-série" é o termo usado para carros construídos para testes finais, mas ainda fora do padrão final de montagem que será usado nas unidades para venda.

Com foco no desenvolvimento de chassis e trem-de-força, os carros tinham disfarces visuais (camuflagem), enquanto o interior era totalmente fora do padrão. Materiais, texturas e cores eram mescladas e, em alguns casos, ainda inexistentes. Tanto que a fabricante proibiu fotos da cabine. A imagem que temos no álbum que ilustra essa reportagem é uma "projeção" (mas bem fiel) baseada no que vimos.

Apesar dessas ressalvas, boa parte do material visto no interior já é suave ao toque, com boas texturas e boas soluções de posicionamento de comandos. O volante, por exemplo, estreia um novo padrão no Brasil: vem do C3 europeu e traz boa ergonomia e tecnologia multifunção.

Não é um SUV, como a Citroën já afirma em suas peças de marketing, porém. É um crossover: o comprimento chama mais atenção que largura ou alturas -- não há qualquer dado técnico revelado neste momento, mas ele nos aparentou estar muito próximo do modelo europeu (que vimos de perto em março, em Genebra), ainda que sejam construídos sobre bases diferentes (fabricado na Espanha, o carro europeu usa a plataforma PF1 do novo C3, tendo 4,17 m de comprimento e 2,60 m de entre-eixos; o brasileiro usa a base do 2008, mas ampliada -- o crossover da Peugeot, por exemplo tem 4,15 m e 2,54 m).

Assim, o Cactus tem estabilidade em curvas mais ao nível de sedãs e peruas (por ter centro de gravidade mais baixo), menos como um SUV (geralmente mais alto); o espaço para passageiros é bom, mas o de carga não é tão generoso quanto em rivais; tração é apenas 4x2 e dianteira; há um ajuste do controle de estabilidade para melhorar uso de freios e aderência de rodas em terrenos mais difíceis (exatamente como o "Grip Control" do 2008), mas nada de controle de tração avançado ou bloqueio de diferencial.

Mesmo com detalhes a serem evoluídos, afirmamos: o C4 Cactus é o melhor veículo feito pela PSA em suas fábricas do mercado sul-americano (Brasil e Argentina). Para competir em pé de igualdade com qualquer outro rival urbano do segmento, basta saber posicioná-lo em termos de preços e entrega de equipamentos, nossa maior dúvida nesse momento. 

Citroën C4 Cactus camuflagem lateral - Pedro Bicudo/Divulgação - Pedro Bicudo/Divulgação
C4 Cactus será mais longo e mais espaçoso que o Peugeot 2008, isso é certo
Imagem: Pedro Bicudo/Divulgação

Direto aos detalhes   

Dos quatro carros experimentados desse "Projeto F3", um era um veículo "argentino", com motor 1.6 THP de 165 cavalos máximos programado para rodar com a gasolina E10 (com mistura de até 10% de etanol) utilizada no país vizinho. Os demais eram "brasileiros", com o 1.6 THP Flex chegando a 173 cv máximos, calibrado para rodar usando tanto a mistura E27 (gasolina com até 27% de etanol), quanto etanol puro (E100). Câmbio em todos os casos foi o automático de seis marchas, já utilizado no C3, Aircross, C4 Lounge, Peugeot 308 e 408.

Ainda não está claro se a Citroën terá configurações usando câmbio manual ou mesmo o motor 1.6 aspirado (que ajudou o 2008 a não ser tão aceito no mercado). Há especulações sobre a estreia de uma versão 1.2 turbo (como na Europa), mas a empresa cala totalmente sobre esta possibilidade e nós não apostaríamos nisso para o momento. Aliás, os técnicos se calaram sobre qualquer pergunta feita em termos de equipamentos.

Voltando ao motor THP, nos testes de validação, seu sistema de partida a frio (sem tanque) é submetido a temperaturas mínimas entre -5ºC (patamar para homologação brasileira) e -16º (padrão argentino), tendo de funcionar normalmente, sem trancos ou falhas de arranque.

Duas das unidades tinham respostas mais morosas ao acelerador, enquanto as outras duas (incluindo a argentina) eram bastante precisas, diretas. A Citroën afirma que são opções de mapeamento de acelerador, volante a até de suspensão a serem colocadas na balança. Claro, preferimos aquelas com respostas mais diretas, mas mesmos as relativamente "anestesiadas" ainda são muito boas e serviriam bem ao consumidor que gosta de conforto ao rodar.   

Falhas do Peugeot 2008 foram corrigidas: há mais espaço para passageiros, o porta-malas não teve volume divulgado, mas parece manter o espaço mediano do Cactus europeu, a alavanca de freio usa o padrão "Z", com uso mais facilitado que o mecanismo curto do modelo da Peugeot. Por fim, há o casamento do motor THP com o câmbio automático de seis marchas e com uma calibração mais perfeita do que aquela utilizada até mesmo no sedã C4 Lounge renovado, deixando o Cactus rodar mais suave, com menos barulho e trancos, aproveitando melhor os giros do motor e sendo mais preciso nas retomadas.

Mesmo sem qualquer indicação sobre os equipamentos, alguns itens já estavam presentes e deverão permanecer, ao menos nas versões mais caras: assistente de condução com frenagem automática (que funciona de forma mais correta do que no Nissan Kicks); informativo de velocidade máxima do trecho baseado em GPS; ar-condicionado digital de duas zonas; alerta de atenção do condutor, faróis direcionais automáticos e luzes diurnas de LED. Ausências sentidas: aletas para trocas manuais de marchas no volante; teto solar (existente no 2008 e no C4 Cactus europeu)´, bancos ainda mais confortáveis (o C4 Cactus europeu, aliás, estreia tecnologia nesse sentido) e faróis Full LED. 

Retrovisores internos comuns podem conviver com peças com anti-ofuscamento automático (versões mais completas), de acordo com a versão; auxílio de estacionamento pode ter câmera de ré com gráficos simples, mas sem sensor. E as rodas aro 17 com pneus 205/55 utilizadas se mostraram adequadas para nosso pavimento, sem deixar carro arisco ou solto em demasia.

C4 Cactus painel - Arte UOL Carros - Arte UOL Carros
Nossa projeção para o interior do C4 Cactus nacional: mistura de Cactus europeu, C3 europeu e C4 Lounge argentino
Imagem: Arte UOL Carros

Soluções locais, novas possibilidades

Vantagens para o C4 Cactus europeu puderam ser confirmadas: os vidros das portas traseiras realmente são convencionais, com acionamento elétrico (e não basculantes). O desenho das rodas será exclusivo e mais adequado ao nosso piso. E há racks enormes sobre o teto, que são tanto funcionais (permitem ancoragem correta de bagagem), quanto estéticos (dão mais altura, "porte", ao Cactus, coisa que não ocorre com o europeu). 

Ainda que o acabamento ainda não esteja definido, o fato de usar a base de estilo do C3 europeu, não do C4 Cactus europeu, se mostra um acerto: não há o porta-luvas duplo, que pode ser uma perda, mas permite o uso de estilo e materiais mais próximos do que nosso consumidor aceita. O Cactus europeu se vale de tecidos como lona e sarja e usa puxadores que remetem às alças de maças e valises de luxo, com presilhas metálicas, que acabariam encarecendo o produto sem necessidade.

No caso do C3 europeu, bem como do nosso Cactus, detalhes são mais racionais e, ainda assim, há chance do uso de cores em alguns painéis, para fazer uma graça e atrair consumidores diferentes em algumas versões (como faz o Kicks, de novo, ou mesmo o Hyundai Creta). Quer um bônus disso tudo? Com a produção do C4 Cactus nacional, a Citroën dá também alguns passos em direção à possibilidade de ter, em breve, um novo C3 nacional semelhante ao europeu.

Fora isso, o design externo terá a mesma pegada. Dianteira e lanternas traseiras lembram bastante outro modelo da família C4, a minivan C4 Picasso. Há muitos apliques de plástico por toda a carroceria, além de variantes com teto em cor contrastante.

Conhecemos o Cactus de pertinho em Genebra; veja como ele é