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Civic nº 1 do Brasil roda bem e está um brinco mesmo aos 20 anos; assista

Leonardo Felix

Do UOL, em Porto Felix (SP)

13/11/2017 08h00

Batia a ansiedade quando a reportagem de UOL Carros viajou 100 quilômetros até um condomínio fechado de Porto Feliz, interior do Estado de São Paulo, para conhecer o primeiro Honda Civic fabricado no Brasil. Quando falamos em "primeiro" é em sentido literal: o carro que conhecemos carrega a numeração de chassi 00001, tendo sido responsável por inaugurar a linha de montagem de Sumaré (SP) em setembro de 1997. Os detalhes estão no vídeo, que você pode assistir clicando logo acima, indo ao nosso YouTube (aproveite e se inscreva) ou ao nosso canal no UOL Mais.

A unidade pertencia à sexta geração e fazia parte de um lote conhecido como "pré-série", aquele em que veículos são montados em velocidade um pouco reduzida a fim de conferir se a linha está operando dentro do previsto ou se ainda demanda algum tipo de ajuste. A julgar pelo alinhamento quase impecável das peças, é possível afirmar que no caso da marca japonesa não foi necessário mudar praticamente nada na passagem para a produção efetiva.

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O primeiro, o original

O primeiro Civic nacional jamais foi colocado à disposição dos consumidores. Talvez a Honda já tivesse noção, àquela época, de que o carro se tornaria uma pequena relíquia da indústria automotiva nacional. Que vem sendo muito bem preservada ao longo destas duas décadas de vida, diga-se: quando enfim tivemos contato com o veículo ele registrava pouco mais de 300 quilômetros rodados no odômetro. Tudo que está presente no exemplar é original de fábrica e está em excelente estado.

Rodar com ele provoca uma sensação de viagem pelo tempo. A primeira razão é que o Civic 00001 mais parece um automóvel "zerinho". Conservação de pintura, revestimentos internos, rodas e partes mecânicas no cofre do motor é surpreendente. Só mesmo o estilo típico dos anos 90 e a ausência do "cheiro de carro novo" para denunciar que este camarada já tem alguns anos de estrada.

Este exemplar é da versão intermediária LX automática, lançada em outubro de 97 a R$ 29.900 -- valor que, corrigido pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), equivale a pouco mais de R$ 100 mil nos dias atuais. Uma etiqueta longe de ser acessível a qualquer brasileiro, mas justificada pelo refinamento técnico e pelo bom pacote de equipamentos.

Já há 20 anos o Civic LX trazia de série: direção com assistência hidráulica e regulagem de altura da coluna; trio elétrico (vidros, travas e retrovisores); pintura metálica ou perolizada (a da unidade avaliada era metálica e se chamava prata Vogue); ar-condicionado; comandos internos para abertura de tanque de combustível e porta-malas; desembaçador do vidro traseiro; rádio com toca-fitas; banco traseiro bipartido.

Conjunto mecânico era formado pelo motor 1.6 4-cilindros a gasolina de 106 cv, dotado de comando SOHC (simples) para as 16 válvulas e bloco e cabeçote de alumínio, acoplado a uma caixa de câmbio automática de quatro velocidades. Suspensões utilizavam arquitetura independente nos dois eixos, sendo braços duplo-A na dianteira.

Versões mais caras contavam ainda com airbags frontais, freios ABS, controle de cruzeiro, vidros degradê e propulsor com comando variável de válvulas na admissão, além de potência "esticada" a 127 cv. Assim, o Civic de sexta geração feito no Brasil alcançava valor máximo de R$ 35.700, cerca de R$ 126 mil na correção pelo INPC. Curiosamente é um teto muito próximo àquele do Civic 10 comercializado nos dias de hoje: R$ 124.900.

Experiência em movimento

O Civic 00001 é um automóvel capaz de proporcionar uma boa reflexão sobre a evolução tecnológica ao longo dos últimos 20 anos.

Em alguns aspectos o avanço é nítido: o motor, por exemplo, tem fôlego similar ao de unidades de 1 ou 1,2 litro atuais, turbinadas ou não. A direção hidráulica é sensivelmente mais pesada e menos precisa do que uma caixa atual com assistência elétrica, presente em qualquer compacto. Já os comandos elétricos de vidros e retrovisores funcionam de maneira bem mais vagarosa e ruidosa do que o padrão alcançado em tempos recentes.

Posição de dirigir bastante baixa (e sem opção de ajustar a altura do banco) e volante de diâmetro um bocado generoso também causam estranheza para quem se acostumou aos padrões dos anos 2010. O entre-eixos de 2,62 metro contribui para deixar o espaço interno similar ao de um SUV compacto como o Honda HR-V, por exemplo.

Por outro lado, a dinâmica de condução ainda é de fazer inveja a muitos populares brasileiros. Suspensões são firmes, a carroceria é rígida e há boa dose de precisão nas mudanças de direção. Fora a questão do acabamento muito, mas muito superior a qualquer modelo de marca generalista vendido atualmente: bancos grandes, confortáveis e revestidos de veludo; painéis munidos de acabamento emborrachado sem misérias, proporcionando um toque bastante agradável.

Se no começo as manobras eram feitas com excessivo cuidado -- afinal, quem quer ser o responsável por causar um arranhãozinho que seja em um carro desses, não é mesmo? --, depois de alguns minutos ficou claro que o Civic 00001 daria conta de responder aos comandos do motorista de maneira quase perfeita, como se fosse um modelo novo. Claro que pneus e suspensões se mostraram um pouco "secos", fruto da natural passagem do tempo, mas ainda assim seu desempenho foi surpreendentemente exemplar

Até o toca-fitas operou sem problemas, e olha que provavelmente o item nunca havia sido utilizado até passar pela avaliação de UOL Carros.

Enfim, o Civic 00001 é um carro capaz de proporcionar grandes sensações a quem aprecia modelos clássicos, e faz jus à excelente reputação criada pelo sedã japonês no Brasil. Além, é claro, de possuir um lugar especial na história da indústria automotiva brasileira, recebendo de nossa reportagem o seu merecido destaque.