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JAC T40 custou R$ 60 milhões para nascer e agora cobra R$ 60 mil; vale?

Leonardo Felix

Do UOL, em Amparo (SP)

05/08/2017 04h00

Criado aos moldes do mercado brasileiro, modelo quer oferecer melhor custo-benefício do mercado; saiba como anda

US$ 20 milhões. O equivalente a pouco mais de R$ 60 milhões. Foi esse o valor que Sergio Habib, representante oficial da JAC no Brasil, pagou à matriz chinesa para que criasse um modelo voltado especificamente ao consumidor brasileiro.

Deste projeto nasceu o T40, hatch anabolizado -- que a fabricante chama de "mini-SUV" -- lançado esta semana e que, por enquanto, será vendido em versão única, a Pack 3 com câmbio manual, por R$ 58.990. Pintura metálica "bicolor" -- que na verdade é um envelopamento preto aplicado ao teto -- custa R$ 1.990 a mais. Total: R$ 60.980.

Uma versão um pouco mais em conta, de R$ 56.990, deve chegar só nos próximos meses, enquanto a configuração com transmissão CVT ficará para 2018.

Mudanças de percurso

Curioso pensar que o T40 foi desenvolvido a pedido de Habib, mas acabou surgindo antes na China, sob o nome S2. "A ideia desde o princípio era lançá-lo nos dois mercados, mas decidi pagar pelo projeto para ter poder de decisão sobre como seria montado o pacote do carro brasileiro", contou o executivo a jornalistas durante a apresentação do modelo.

Se foi assim, por que então o T40 não apareceu primeiro em nosso mercado? A resposta: devido ao grande imbróglio que envolveu a fábrica que deveria ter sido construída, mas não foi, em Camaçari (BA). O T40 era o carro programado para ser produzido lá em grande escala no início de 2016, mas acabou atrasando um ano e meio por causa dos entraves vividos pela marca. No fim das contas, se tornou um carro importado (justamente da China).

Chances de ser nacionalizado ainda existem, mas não antes de 2019.

Tantos percalços acabaram gerando mudanças na concepção do projeto: o T40 deveria ser um compacto espaçoso com cara de Ford New Fiesta, mas acabou se tornando uma espécie de crossover "parrudo". Seja como for, fato é que o modelo chega com preço bastante agressivo para oferecer uma das melhores (se não a melhor) relações custo-benefício do mercado.

Vai agradar ao brasileiro? UOL Carros participou de teste com o modelo e responde a essa pergunta. Veja detalhes no álbum.

O que ele tem

Lista de equipamentos, de fato, é muito interessante pelo preço cobrado.

De série o T40 Pack 3 vem com: alarme; direção elétrica; rodas de liga leve aro 16; travas, vidros e retrovisores externos com ajuste elétrico; controles de estabilidade e tração; faróis com regulagem elétrica de altura dos fachos, acendimento automático e luzes diurnas em LED; assistente de freios com função de auxílio à frenagem emergencial; assistente de partida em rampas; monitoramento de pressão dos pneus; sensores traseiros de estacionamento; câmera de ré; câmera frontal com opção de gravar imagens em cartão de memória; controle de cruzeiro; volante multifuncional com revestimento em couro; banco do motorista com ajuste manual de altura; e central multimídia com tela tátil de 8 polegadas.

Apesar do entre-eixos muito curto (2,49 metros) em relação ao comprimento (4,13 metros) e à largura (1,75 metro sem contar os retrovisores), o T40 oferece espaço interno superior ao de qualquer hatch aventureiro, como Chevrolet Onix Activ, Hyundai HB20X, Volkswagen CrossFox e Renault Sandero Stepway, seus concorrentes diretos em faixa de preço.

Também agrada o acabamento, até de forma surpreendente: há predomínio de plástico duro, mas peças estão muito bem encaixadas e possuem texturização mais agradáveis do que qualquer outro carro já apresentado pela JAC no Brasil, incluindo o primo maior T5.

Como anda

Dinamicamente o T40 agrada pelo nível decente de inclinação da carroceria em curvas e pelo bom trabalho das suspensões (McPherson na dianteira; eixo de torção na traseira), auxiliadas por barras estabilizadoras nos dois eixos.

Por outro lado, o desempenho do motor 1.5 JetFlex de 125/127 cv (gasolina/etanol) e 15,5/15,7 kgfm deixa muito a desejar. Mesmo pesando menos do que o T5 (1.155 kg em ordem de marcha), o T40 demora demais para pegar embalo nas retomadas, trabalhando quase sempre sob giros altos. Falta elasticidade entre os picos de torque (a 4.000 rpm) e potência (a 6.000 rpm).

Câmbio manual de cinco velocidades possui curso longo e engates folgados, além de relação de marchas um bocado longa. Assim, não contribui muito para deixá-lo mais esperto. Dessa forma, o consumo em percurso de cerca de 200 km praticamente só de estrada ficou em 10,9 km/l com gasolina.

Ergonomia também não é ponto forte do T40. Bancos dianteiros possuem encostos lombares muito curtos, e o apoia-braço atrapalha totalmente a troca de marchas quando está deitado (item só faria sentido num modelo automático). Isolamento acústico é honesto para quem senta à frente, mas um tanto fraco quando se senta atrás (na estrada, o barulho do vento invade mais esse ponto da cabine).

E aí, vale?

O T40 não é o carro mais bem acertado do mercado brasileiro, mas está bem melhor do que outros modelos vendidos pela JAC até então e tem como grande trunfo o fato de oferecer porte robusto, muito recheio, bom acabamento e espaço interno de sobra a um preço bastante competitivo.

Comprá-lo, portanto, é decisão especialmente favorável a quem gosta de usar a calculadora para saber quanto um veículo vai entregar pelo preço que vai cobrar. Nesse aspecto, ele parece ser mesmo imbatível.