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É caro manter? Quebra menos? Dez mitos e verdades sobre câmbio automático

Manopla do Chevrolet Cruze Sedan: GM utiliza caixa automática de seis velocidades em toda sua gama, do Onix ao Camaro - Murilo Góes/UOL
Manopla do Chevrolet Cruze Sedan: GM utiliza caixa automática de seis velocidades em toda sua gama, do Onix ao Camaro Imagem: Murilo Góes/UOL

Alessandro Reis

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

22/05/2017 04h00

Especialista em transmissões responde a 10 dúvidas comuns de quem tem (ou quer ter) câmbio com conversor de torque

O câmbio automático é uma verdadeira “mão na roda” para quem busca conforto no trânsito do dia a dia. Em meio ao "para-e-anda" do tráfego pesado, ele troca as marchas por você e evita o cansaço de ficar o tempo todo acionando a embreagem com a perna esquerda e a manopla com a mão direita.

Não é à toa que ele tem se popularizado cada vez mais entre os brasileiros.

No entanto, é comum ter dúvidas quanto ao seu funcionamento e manutenção. Muita gente se questiona, por exemplo, se colocar a alavanca na posição N com o carro parado no semáforo ajuda a poupar combustível. Outros têm dúvida sobre se segurar o veículo no acelerador em ladeiras pode causar desgaste. 

Para esclarecer essas e outras dúvidas, e acabar com mitos relacionados ao equipamento, UOL Carros consultou o engenheiro Leandro Perestelo, membro da Comissão Técnica de Transmissões da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade).

1) "Consome mais combustível": mito!

Os câmbios automáticos possuem eficiência muito maior do que há alguns anos, com trocas mais rápidas e melhor aproveitamento da curva de torque. É fato que no passado esse tipo de transmissão fazia o motor trabalhar sob regimes muito altos, o que consequentemente aumentava o consumo. Porém, os atuais têm um dispositivo chamado embreagem de bloqueio, que ajuda a manter os giros baixos em marchas reduzidas. Adicionalmente, houve aumento no número de marchas -- chegando a nove ou até dez, caso de Ford Mustang e Chevrolet Camaro 2018 --, o que contribui para manter as rotações em patamar sempre próximo do ideal.

Marcador de combustível - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Com tecnologia atual, automóvel com câmbio automático só ficará mais "beberrão" se o motorista permitir
Imagem: Murilo Góes/UOL

2) "Tem trocas mais rápidas": verdade!

Sim, as trocas proporcionadas pelos câmbios automáticos estão cada vez mais rápidas, a ponto de se aproximar dos automatizados de dupla embreagem. Além disso, o sistema permite fazer a mudança sem interromper a entrega de torque para as rodas, algo impossível de se obter com uma caixa manual -- em que é necessário desacoplar a transmissão do motor --, o que reduz o tempo de aceleração de 0 a 100 km/h.

3) "Quebra menos, mas conserto é mais caro": verdade!

A confiabilidade desse tipo de câmbio é muito alta e, como o motorista não comanda diretamente sua operação, fica menos suscetível à falha humana. Entretanto, quando acontece um problema, o custo de reparo é bem maior: o sistema é mais complexo, tem mais peças e alto percentual de componentes importados. O conserto pode variar entre R$ 4 mil e salgadíssimos R$ 30 mil.

4) "Vida útil é maior": verdade!

Se não houver problemas de operação ou qualidade, não há necessidade de fazer troca de peças até pelo menos 150 mil quilômetros. Em alguns casos, a vida útil pode chegar a 300 mil quilômetros.

5) "Não dá para usar o freio-motor": mito!

Se o veículo está em uma descida íngreme na posição D, o efeito do freio-motor é muito pequeno, já que a transmissão engata uma marcha longa. Entretanto, é possível obter maior eficiência e não desgastar tanto os freios: em algumas caixas existem as opções L ou 1, 2 e 3. Elas manterão engatada uma marcha reduzida, sendo também são indicadas para uso em subidas de ladeiras ou trechos off-road. Outras dispõem da opção de trocas manuais, pela própria alavanca ou por aletas atrás do volante, o que permite ao motorista ter um maior controle sobre a marcha escolhida a depender da situação.

Jeep Renegade Longitude - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Vários carros automáticos, caso do Jeep Renegade, já dispõem de borboletas para troca manual das marchas
Imagem: Murilo Góes/UOL

6) "Nas paradas, ideal é colocar em neutro": mito!

Não é necessário acionar o neutro (posição "N") a cada vez que se para em um semáforo. Dependendo do carro, se o motorista o fizer é até capaz de economizar um pouco de combustível, mas a veículos mais modernos já colocam a transmissão em neutro automaticamente quando o motorista fica parado por algum tempo. Em outros casos há o sistema start-stop, que promove o desligamento automático do motor. Nesse caso, assim que o motorista para de acionar o freio, a marcha é imediatamente engatada.

7) "Não precisa puxar freio de estacionamento": mito!

Não é porque seu câmbio é automático que ele faz tudo por você. Sim, ao colocar na posição P o automóvel aciona uma trava mecânica que impede a rotação das rodas de tração. Esse sistema auxilia o freio de estacionamento, impedindo o movimento do veículo. Mas ele não é "o" freio de estacionamento nem tem a mesma eficiência, portanto o freio em si nunca deve deixar de ser acionado, especialmente em ladeiras.

8) "Pode segurar com acelerador numa ladeira": verdade!

O câmbio automático tem conversor de torque no lugar da embreagem. Assim, o torque é transmitido através de fluido hidráulico e, portanto, não há desgaste se você mantiver o pé no acelerador para segurar o carro em uma ladeira.

9) "Causa mais desgaste dos freios": mito!

Quando o veículo está parado com o freio acionado, não há movimento relativo nos freios, portanto, não ocorre qualquer tipo de desgaste. Já em movimento, se forem seguidas as dicas do item 5 o nível de degradação será muito similar ao de um veículo manual.

Fiat Toro Volcano AT9 4x4 Diesel - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Basta saber usar as funções que priorizam o freio-motor que seu automático não vai debulhar os freios
Imagem: Murilo Góes/UOL

10) "Engatar a ré em movimento quebra a transmissão": verdade!

Engatar a ré com o veículo se movimentando para frente pode causar um choque muito intenso em algumas peças do câmbio, levando à quebra. Por sorte, a grande maioria das caixas atuais possui uma trava que evita que a alavanca deslize para o R no caso de um esbarrão, por exemplo, e até mesmo um dispositivo de salvaguarda que, a velocidades mais altas, impede o acionamento efetivo da marcha à ré mesmo quando a alavanca eventualmente vai parar nessa posição.