Topo

Retrovisor vai encolher até sumir; veja dicas para fugir do ponto cego

Eugênio Augusto Brito<br>Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

13/03/2017 04h00

Presença é definida por lei, mas tamanho mínimo, não. UOL Carros ajuda a encontrar o melhor ajuste

Obrigatórios em todo automóvel, os espelhos retrovisores têm a função de ampliar a visão periférica do motorista e garantir a percepção de obstáculos, pedestres e outros veículos que estejam atrás da área de visão principal -- das laterais para a parte de trás da sua cabeça, basicamente. Sem esses espelhos, fazer manobras, conversões, curvas e mudanças de faixa seria algo totalmente inseguro e praticamente impossível. 

Todos, porém, têm uma limitação física: o famoso "ponto cego" é a área que o espelho não consegue refletir, seja por estar oculta pelo próprio carro (colunas, encostos de cabeça) ou por ficar fora do limite ajustado pelo motorista. Quando são pequenos ou menos eficientes do que poderiam, essa limitação intrínseca fica ainda mais perceptível.

Mercedes-Benz GLC Coupé espelho - Divulgação - Divulgação
Espelho do GLC Coupé: curto demais para a carroceria
Imagem: Divulgação

Acerte o seu aí!

Com espelhos pequenos ou de bom tamanho, é importante para o condutor manter o acerto visual dos retrovisores externos e interno. Quanto melhor for essa regulagem, maior será o campo de visão do motorista e a segurança ao dirigir, manobrar e estacionar.

"O ajuste correto dos retrovisores externos, nos dois lados, pode reduzir em até 40% o ponto cego", explica Alessandro Rubio, membro da comissão técnica de segurança veicular da SAE Brasil e coordenador técnico do Cesvi Brasil, instituto ligado a seguradoras e que divulga normas técnicas de modo didático.

Rubio ensina que regular os espelhos é algo simples, mas fundamental para rodar de modo seguro no trânsito. "Quanto maior a área de visão, mais tempo determinado objeto tende a ser refletido pelos espelhos, especialmente motocicletas, que são veículos rápidos e de pequenas dimensões".

Em qualquer caso, há uma regra fundamental, que implica bom senso: "O importante não é ver o próprio automóvel e, sim, o trânsito", aponta Rubio.

Uma medida usada, sobretudo por motoristas de caminhão, para aumentar o ângulo de alcance dos espelhos é a instalação de espelhos convexos auxiliares, geralmente circulares, que são colados na ponta do espelho original. Eles podem ser adquiridos a partir de R$ 30, aproximadamente, mas muita montadora não recomenda, por não integrarem o projeto original do automóvel.

A grande questão dos espelhinhos auxiliares é que quanto mais convexo for sua superfície, mais distantes os objetos refletidos vão aparentar estar, o que pode confundir o motorista, em vez de ajudar.

Basta lembram que espelhos auxiliares convexos são itens de série em alguns carros importados (principalmente da América do Norte), mas que nestes modelos há sempre um aviso de que os objetos refletidos podem sofrer alteração em relação à realidade.

Retrovisor Honda Civic EXL - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Objetivo do espelho é um só: auxiliar motorista a enxergar melhor o exterior
Imagem: Murilo Góes/UOL

Apertem os cintos, o espelho encolheu

Outra alteração da realidade automotiva atual diz respeito ao tamanho dos retrovisores. Espelhos retrovisores amplos são um "problema" nos atuais projetos, pois ampliam o arrasto aerodinâmico, aumentando o ruído e até o consumo de combustível. 

Por conta disso, as montadoras justificam suas escolhas como um meio-termo entre visibilidade, conforto e eficiência energética ao desenharem o retrovisor de determinado modelo. Diversas marcas, como Volkswagen e Renault, entre outras, padronizaram o desenho dos retrovisores em praticamente toda a linha.

Além dos espelhos, desenho do carro, posição de colunas dianteira, central e traseira, dos bancos e dos encostos de cabeça também têm a sua influência. 

Daí o fato de diversos fabricantes tentarem compensar a limitação física dos espelhos retrovisores com tecnologia. Sensores por ultrassom, câmeras e até radares dão origem a equipamentos que identificam ou alertam o motorista de objetos, carros e pedestres fora do ângulo de alcance dos espelhos. 

São conhecidos respectivamente como "sensores de estacionamento", "câmera de ré", "câmera 360º" e "alerta de ponto cego", mas seu uso sempre provocou desconfiança por parte das autoridades de trânsito em diferentes países e só recentemente seu uso se expandiu -- atualmente, mesmo carros da categoria de entrada começam a trazer cada vez mais equipamentos como estes de série.

Mas nem sempre esses auxílios existem ou dão ajuda suficiente.

Nissan March CVT espelho - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Nissan March é pequeno, mas espelho poderia ser maior
Imagem: Murilo Góes/UOL

Não enxergo nada

A mais recente "cegueira" forçada por espelhos diminutos na vida de UOL Carros aconteceu com os retrovisores do Mercedes-Benz GLC Coupé, SUV diferentão testado há duas semanas. As peças eram pequenas demais em comparação com a carroceria ampla (4,73 m de comprimento) e bojuda do modelo, que tem o perfil de vidros laterais e vigia traseira reduzidos e as colunas mais inclinadas que o normal. 

Não salva ainda o fato do GLC Coupé não ter, no Brasil, sensores auxiliares de ponto cego, mesmo considerando que o modelo custa R$ 300 mil (há, porém, sensores de estacionamento traseiros e câmera de ré).

Mas se o GLC Coupé é um carro que poucos vão guiar, o que dizer de modelos de entrada como o Nissan March (hatch de 3,82 m e que parte de R$ 40 mil), com dificuldade semelhante de visibilidade? Também neste caso, há a opção de câmera de ré apenas nas versões mais caras (que encostam nos R$ 60 mil) -- e é sempre interessante lembrar que outro modelo da marca, o Kicks, tem até sistema de câmeras 360º único entre compactos, ainda que só funcione em manobras.

De toda forma, no dia a dia com espelhos pequenos e trânsito gigante, fica para o motorista a tarefa extra do contorcionismo para enxergar tudo ao trocar de faixa ou fazer conversões para não atropelar ou abalroar ninguém. Mas é permitido ter espelhos tão pequenos? É e tudo vai encolher ainda mais.

BMW X2 Concept - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Conceitos com o BMW X2 atestam: retrovisor vai diminuir até sumir (e virar câmera)
Imagem: Murilo Góes/UOL

Lei x tecnologia

Teoricamente, se o carro roda no Brasil é porque seu uso e seus equipamentos satisfazem as regras do Contran (Conselho Nacional de Trânsito). No caso dos espelhos, a regra é a Resolução 226 do Contran, que determina raio de visão e ângulos mínimos dos retrovisores em automóveis -- sem isso, o modelo não recebe homologação.

Tanto o externo esquerdo (lado do motorista) quanto o externo direito (lado do passageiro) são obrigatórios para todos os automóveis fabricados desde janeiro de 1999. Não há, porém, a exigência para modelos anteriores – se você tem uma Volkswagen Brasília, com espelho apenas no lado do motorista, como muitos modelos mais antigos, não precisa se preocupar com multa.

Retrovisor interno também não pode faltar em um carro de passeio, mas, por motivos óbvios, não existe obrigatoriedade para caminhões, ônibus e micro-ônibus, nos quais a carga naturalmente encobre a visão do vidro traseiro.

Curiosamente, porém, a lei brasileira já permite substituir os espelhos por micro-câmeras com monitor, aponta o Detran-SP. Não confunda com as câmeras de ré (montadas na traseira e citadas no começo do texto) -- as micro-câmeras chamadas de "sistema mirrorless" (literalmente sem espelho) são seriam aquelas posicionadas no mesmo local dos retrovisores, já comuns nos carros-conceitos vistos em salões.

Isso não deve acontecer tão rapidamente, porém: o sistema observado nos protótipos ainda é muito caro e pouco confiável. Além disso, em pesquisa rápida por lojas locais, a reportagem não encontrou nenhum kit paralelo no mercado homologado como acessório para substituir retrovisores convencionais.

Enquanto o futuro sem espelhos não chega, fique atento: conduzir sem equipamento obrigatório ou com ele ineficiente ou inoperante é infração grave, com cinco pontos na habilitação e multa de R$ 195, 23.

Ranking

Há um ranking do Cesvi Brasil, órgão independente de segurança veicular, que é atualizado desde 2007 e elenca os carros segundo um critério próprio de visibilidade. A classificação vai de meia estrela a cinco estrelas e leva em conta visão dianteira, lateral e traseira para determinar quais são os veículos que têm uma área menor de pontos cegos.

Nesse ranking, que conta com 280 versões de diferentes modelos, os dois veículos mais bem avaliados são o sedã esportivado Audi S7 Quattro, e o SUV Range Rover Autobiography, ambos de luxo, com cinco estrelas (de cinco possíveis). Na rabeta, a picape compacta Strada Adventure de cabine dupla, da Fiat, com 1,5 estrela. Infelizmente, as montadoras ainda não são obrigadas a participarem deste ranking e marcas como Mercedes-Benz sequer figuram na lista, enquanto a Nissan não lista todos os seus modelos.