Venda da Opel afeta o Brasil? PSA comemora, GM desconversa e EUA polemizam
Analista americano diz que matriz da GM poderia até cortar laços com América do Sul para manter crescimento global; Citroën se diz "alegre"
Após pelo menos quatro anos de especulação e "vai-não-vai" de todos os envolvidos, a alemã Opel acabou vendida para a PSA (Peugeot-Citroën) nesta segunda-feira (6). Mas o que isso muda aqui no Brasil? Voltaremos a ver carros com base Opel por aqui? Os modelos novos de Peugeot e Citroën virão? Algo muda?
UOL Carros apurou que, enquanto a PSA celebra, a General Motors desconversa, mas analistas americanos apontam até uma mudança geral de comando por aqui -- essa possibilidade é, em nossa opinião, a mais bizarra e menos provável, mas deixaria nosso mercado de pernas para o ar caso se concretizasse.
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Um pouco de contexto
Por mais de 20 anos, carros de sucesso da Chevrolet (leia-se General Motors) no Brasil tiveram origem na alemã Opel. Monza, Kadett, Corsa, Vectra, Astra são sempre lembrados. Também houve o caso do monovolume Meriva, desenvolvido no Brasil e que surpreendeu a Opel (atualmente, porém, o modelo só existe na Europa). A única intersecção em ação acontece com o novo Cruze e o Opel Astra atual -- ambos dividem plataforma, mas cada um tem seu próprio desenvolvimento.
O grosso da sinergia mudou com a crise da GM entre 2004 e 2008: quase falindo, a GM foi obrigada pelo governo de Barack Obama (que salvou as finanças do grupo) a matar algumas marcas (Hummer, Pontiac, Oldsmobile, Pontiac), enxugar outras (Buick, Cadillac e GMC) e criar novos modelos em todo o mundo. A Chevrolet virou a marca global da companhia, seus modelos passaram a ser desenvolvidos na Ásia, EUA e até Brasil, enquanto a Opel/Vauxhaull ficou "jogada para escanteio"... até ser vendida nesta segunda-feira para a PSA.
Já a história da PSA (Peugeot-Citroën) no Brasil começou para valer (tirando o período de importação esporádica) com o movimento industrial do final da década de 1990 e a chegada das "newcomers" (novas marcas) até os primeiros anos da década de 2000. Modelos como Peugeot 206 e Citroën C3 fizeram história por serem bem equipados, bons de rodagem e confortáveis. Acontece que decisões equivocadas localmente e péssimo pós-venda derrubaram a confiança do comprador brasileiro nas duas marcas. Para piorar, a crise europeia em 2008/09 minou finanças da aliança francesa, que acabou tendo seu controle dividido entre a família Peugeot, o governo francês e a chinesa Dongfeng para não fechar.
Plano de reestruturação do grupo francês envolve a criação de novas plataformas, que são mais eficientes, mas ficaram caras demais para serem reproduzidas aqui na América Latina: Peugeot 208 e 2008 locais têm pontos fracos em relação aos europeus e vendem pouco perto dos rivais; Peugeot 308, Citroën C3 e C4 mais atuais não virão da França para o Brasil; a marca de luxo DS deixou de ter seus principais modelos importados, apesar de crescer em todo o mundo.
Franceses: futuro pode ser bom
Com a compra da Opel, porém, analistas e a própria PSA esperam avanços nos próximos cinco anos: além do fortalecimento do grupo, espera-se uma redução nos custos e o aumento na qualidade dos modelos feitos pelas três marcas -- a princípio, Peugeot, Citroën (junto com DS) e Opel existirão separadamente, mas tecnologias serão compartilhadas.
Franceses esperam que a PSA tenha relevância e alcance globais, finalmente. De um lado, os franceses sabem como fazer carros avançados, com bom visual e usando tecnologia híbrida, elétrica, mas também com bons motores a combustão. De outro, a Opel sabe como fazer bases versáteis, aceitas em vários mercados.
Justamente isso pode ser bom para nosso mercado -- mas só daqui a um tempo. "A aquisição faz parte de plano de reestruturação e crescimento iniciado há alguns anos, aumenta o tamanho do grupo e prova que a PSA veio para jogar no primeiro escalão das fabricantes globais", afirmou Paulo Solti, diretor da Citroën e DS no Brasil, ao ser questionado por nossa reportagem sobre a compra da Opel.
Para o principal executivo da marca no país, a aquisição da Opel "é uma notícia que deixa a Citroën do Brasil muito alegre".
De fato, o que daria ânimo à Citroën seria o lançamento de novos modelos -- a última novidade foi a atualização do Aircross, no final de 2015, ao passo em que sabemos que C3 e C4 atuais não virão.
GM do Brasil: relação zero
Procurada por UOL Carros, a GM do Brasil foi hermética e se posicionou com uma única frase, enviada por e-mail, pela divisão de comunicação corporativa. "O anúncio de hoje está relacionado a Opel/Vauxhall, não está associado a outros mercados ou operações".
De fato, a filial brasileira quer focar no bom momento de suas operações: após renovar sua linha com modelos que têm quase zero relação com a Opel (como dissemos, o Cruze é o único com um leve parentesco), é líder de mercado no Brasil por dois anos seguidos.
Além disso, tem o desafio colocado recentemente de se desvincular das operações de Colômbia, Chile e Venezuela, bem como de outros países do Cone Sul, focando no mercado local e com a Argentina.
Para a imprensa norte-americana, porém, a venda da Opel marca o começo de uma nova reestruturação global da GM, quer pode ter consequências maiores.
EUA: futuro bombástico?
A ideia da GM, segundo analistas da conceituada agência "Automotive News", seria aumentar os lucros e zerar a perda de dinheiro. O que isso quer dizer?
Aumentar a presença da Chevrolet na China (maior mercado para carros no mundo) seria o objetivo máximo. Por outro lado, a Cadillac (marca de luxo da GM) pode perder ainda mais espaço de seu já escasso mercado.
Que Maven (empresa da compartilhamento de frota, aberta pela GM há dois anos) e Lyft (concorrente do Uber criado pela em 2016) vão expandir sua participação.
Por fim, e isso é o mais bombástico, que a operação da América do Sul poderia ser desmembrada da GM americana.
"Não seria surpresa para ninguém se a GM cortasse laços com a América do Sul, onde perde muito dinheiro já há algum tempo", afirmou Keith Crain, em seu artigo sobre a venda da Opel para o Automotive News.
Segundo Crain, os executivos da GM -- incluindo a chefona Mary Barra -- sabem que o mundo mudou muito nos últimos anos e seguirá com alterações aceleradas nos próximos anos e afirmam que "farão o que tiver que ser feito". Neste tipo de cenário, um direcionamento da América Latina à junção com a nova PSA/Opel seria uma solução, já que há o histórico é bom e os produtos seriam viáveis.
Nada disso, porém, é sequer comentado pela GM local.
Blefe ou boa análise feita com base em informações quentes por parte dos americanos? O tempo (e cada um dos mercados) dirá.
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