Do 147 à Toro, um passeio por 40 anos de evolução; assista
Muita coisa mudou de 1976 para cá no universo automotivo: a evolução tecnológica permitiu construir veículos cada vez mais completos, complexos, seguros e interativos. Não é preciso conhecer muito da mecânica: basta sentar e dar a partida (muitas vezes sem nem precisar girar a chave na ignição). Por outro lado, para guiar e usar cada uma das muitas funções dos novos carros é quase necessário fazer um "cursinho pré-vestibular" -- bem diferente do "acelera e anda" de antes.
Fiat 147 e Toro sintetizam essa mudança na linha da Fiat, que completa 40 anos no Brasil. Enquanto a picape representa o que de mais moderno no portfólio da fabricante (é inclusive feita na fábrica de Goiana-PE, unidade mais avançada da Fiat-Chrysler no Mundo), o hatchzinho elenca as precariedades da época.
Ao mesmo tempo, o 147 é capaz de gerar uma relação muito mais íntima entre o motorista e seu carro: ter os cuidados adequados, conhecer todas as manhas era um exercício necessário para lidar com os modelos da época.
UOL Carros andou com hatch e picape na pista de testes da Fiat, em Betim (MG), para sentir os detalhes da disparidade e o resultado é a vídeo-avaliação "40 anos de evolução".
A história do 147
Inspirado no 127 europeu, o compacto 147 é capaz de proporcionar as mais distintas emoções, e isso vale tanto para quem teve um, quanto para aqueles que ajudaram a construí-lo e continuam até hoje trabalhando na montadora.
Por um lado, foi para fabricá-lo que a Fiat abriu sua unidade em Betim (MG). Por outro, falamos de um modelo nascido com uma série de problemas, que inclusive atrapalharam a formação da imagem da marca no país e contribuíram para que ela demorasse a desafiar Ford, General Motors e Volkswagen.
As famosas falhas na correia dentada e a polêmica transmissão manual de quatro marchas são, até hoje, estigmas que pesam contra o veterano que completa, junto com a própria divisão brasileira da fabricante, 40 anos de vida.
Do alto da condição de clássico, porém, o pequenino hatch já consegue provocar olhares muito mais simpáticos, e até orgulhosos. Afinal, mesmo com todos os defeitos, foi capaz de gerar uma produção de mais de 700 mil unidades até 1986, ano do fim de sua fabricação local.
Defeitos à parte, trouxe soluções interessantes para o setor automotivo nacional: foi o primeiro produto local a contar com motor transversal (4-cilindros. 1 litro, oito válvulas, carburador de corpo simples, 55 cv e 7,8 kgfm), o que permitiu uma redução do cofre e a aplicação de 80% de seu espaço interno a ocupantes e bagagens.
Mais tarde, foi o primeiro carro nacional com motor a etanol (estreou o programa Pro-Álcool em 1979) e gerou uma família com sedã (Oggi), perua (Panorama), furgão (Fiorino) e picape (147 Pick-up, que era vendido como o menor "caminhãozinho" do país...).
Por falar em porta-malas, o do 147 não precisava abrigar estepe e macaco, que eram presos no próprio compartimento do motor (!). Tudo isso otimizava o uso dos 3,63 metros de comprimento -- 40 cm menor que o concorrente Volkswagen Brasília; 7 cm maior que o atual compacto da Fiat, o Mobi.
Experiência a bordo
Sentar na pequena poltrona revestida de couro, sem encosto de cabeça, "torta" para trás e se deparar com o volante grande, de aro fino e apenas dois raios é uma experiência que pode até assustar motoristas acostumados com os carros atuais.
Mas há algo de requintado, até: o painel tem faixa central amadeirada, os comandos são em forma de interruptor, alguns com luz espia embutida -- tudo é um divertido exercício de retorno aos anos 1970.
Ergonomia e segurança? Outra noção: os pedais era tortos; volante, assento, alavanca do freio de estacionamento e comandos ficavam longe das mãos do confutor, que se sentava perto demais da porta. Cintos com só dois pontos de fixação eram o padrão -- e quem os usava? Não havia retrovisor externo do lado do passageiro.
Mexer com afogador é algo nostálgico para quem pegou a era dos veículos carburados. Agora, é misteriosa engenhosidade na era da injeção eletrônica. E não espere qualquer forcinha eletro/hidráulica para manobrar: tudo é mecânico, e responde puramente aos músculos do condutor.
A ação do tempo também cobra seu preço em relação a ruídos e respostas dos pedais: na unidade testada, ano/modelo 1978, foi preciso bombear o freio com veemência. A sensação de guiá-lo, porém, é inexplicavelmente melhor: a interação entre homem e máquina parece muito mais plena e pura.
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