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Abastecer carro elétrico custa R$ 3; assista nosso teste com o Leaf

André Deliberato<br>Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

05/02/2016 17h25

Ainda há um longo caminho a ser percorrido para que um carro elétrico no Brasil possa ser utilizado sem dor de cabeça no dia a dia, mas a isenção do Imposto de Importação e medidas como liberação do rodízio em cidades como a de São Paulo (SP) prometem ampliar a discussão e, mais importante, o uso no país. Para o motorista, também há vantagens e dúvidas: o custo de abastecimento é muito favorável, indo de zero a R$ 3 reais; também é menor o custo de manutenção (sem revisão de fluidos -- óleo, água --, velas e cabos, é preciso atentar aos freios, suspensão e motor rotineiramente); por outro lado, o preço inicial é sempre alto.

Ainda faltam, segundo os próprios fabricantes ouvidos por UOL Carros, a liberação de um IPI específico (atualmente, elétricos pagam a faixa mais alta) e criar a estrutura de carga, fatores que pesam a ponto de ainda inviabilizar o uso pelo público geral. De toda forma, vamos à pergunta: como seria o uso diário do elétrico? Você estaria preparado para esta visão do futuro?

Para respondê-la, usamos o Nissan Leaf durante cinco dias. A escolha se deu por ser o modelo com maior base de teste no Brasil: atualmente, são 15 unidades como táxi no Rio (RJ), oito na capital paulista e mais alguns carros em outras atividades (dois emprestados aos Bombeiros e PM do RJ já foram devolvidos). É também um modelo com grandes chances de ser fabricado no país, segundo o próprio presidente da Nissan, Carlos Ghosn, que defende a oferta hidrelétrica de energia como a mais viável para se manter uma frota "verde". O preço de um Leaf nacional é estimado em cerca de R$ 130 mil. Caro, mas abaixo do BMW i3, único modelo vendido ao público geral atualmente e que parte de R$ 169.950. 


Bomba elétrica e cartão de débito

Vamos deixar claro: neste momento, carros elétricos servem apenas para quem faz percursos urbanos. Se você roda 50, no máximo 60 quilômetros diários, tudo bem. Acima disso, é preciso tomar cuidado com o trajeto, já que tudo o que o carro faz (andar, piscar luzes, acender faróis, conectar-se a um celular, tocar a música de uma estação de rádio e, sobretudo, refrigerar o ar da cabine) gasta energia. Há o bônus do ato de frear, que ajuda a recuperá-la, se a frenagem for dosada.

Ainda que alguns taxistas levem a autonomia do carro além dos 150 quilômetros médios previstos, ainda é inseguro dizer que dá para usá-lo em pequenas viagens. Se o trânsito (ou o calor) apertar, você pode ficar na mão, com o carro travado no meio da pista (O i3 mais caro, de R$ 199.950, tem um motor de moto usado como gerador para ampliar a carga da bateria, mas é exceção, não regra).

Com isso esclarecido, aos fatos: o elétrico seria útil para quem trabalha de carro todo dia e pode recarregá-lo em casa ou no trabalho. A carga tradicional, de aproximadamente oito horas, exige uma tomada 220V com adaptador. Mas há uma maneira mais rápida e prática de fazer a recarga. Os chamados pontos de carga rápida (440V). Para fazer a máquina (que custa cerca de R$ 74 mil, segundo a operadora CPFL) funcionar, os donos de Nissan Leaf que rodam em SP e no RJ têm um cartão magnético que libera a recarga.

Na "vida real", todo dono de elétrico teria este "cartão inteligente", que ele identifica o motorista e cobra o valor da recarga automaticamente da conta corrente ou fatura de luz. É assim em países com serviço de carro elétrico difundido.

As máquinas são como super-carregadores de smartphones: injetam 80% da bateria em apenas meia hora e estão ali para ajudar motoristas a escapar de emergências e não perder tempo (e dinheiro) parados no ponto ou em casa esperando pelo recarregamento tradicional. O valor cobrado pelos kW da máquina são os mesmos do uso residencial.


R$ 3

No Brasil, por ora, não há cobrança, já que tudo está em fase de teste. Ou seja, se alguém tiver um carro elétrico agora e decidir carregar na rua (são cinco pontos "públicos" em São Paulo, oito na cidade de Campinas e dois no Rio) poderá fazê-lo de graça. Se preferir os poucos shopping-centers com vagas para elétricos, pagará apenas o preço do estacionamento. Óbvio, quem tiver um BMW i3, ou conseguir um Leaf emprestado, e carregá-lo em casa vai pagar o preço normal do kW.

Mas o custo ainda é baixíssimo na comparação com o de combustíveis comuns: pelos valores determinados pela operadora de energia do Estado (Eletropaulo, Light etc.), a recarga de 18 kW do Nissan Leaf sairia por pouco menos de R$ 3 -- permitindo rodar cerca de 150 km. No final do mês, aproximadamente R$ 60 a mais na conta de luz (considerando a média de recargas no ponto público feita por taxistas atualmente). Vamos comparar o custo aos valores de reabastecimento de um carro comum? Para rodar 150 km com um Ford New Fiesta 1.6, modelo equivalente ao carro da Nissan, por exemplo, o custo médio seria de R$ 46,30 com etanol (para 19,4 litros) e R$ 47,40 com gasolina (para 13,6 litros).