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GLE Coupé: conheça o monstro da Mercedes para roubar cliente do X6

Leonardo Felix

Do UOL, em São Francisco (EUA)

19/01/2016 08h00

É difícil para um fã purista de automóveis entender (e aceitar) a fórmula usada pela BMW para criar o X6: porte de SUV grande, caimento do teto ao estilo cupê e quatro portas. Afinal, qual a finalidade de um veículo assim? Talvez nem a marca alemã saiba a resposta. O importante para ela, porém, é que o crossover chama a atenção e faz sucesso em vendas, inclusive no Brasil, onde cerca de 500 unidades são emplacadas ao ano -- nada mau para um modelo que parte de R$ 417.950.

Mercedes-Benz GLE 450 AMG 4Matic 2016 3 - Divulgação - Divulgação
Mercedes-Benz GLE Coupé 450 AMG 4Matic 2016: chega até março por cerca de R$ 400 mil; 100 quilômetros rodados
Imagem: Divulgação
De olho nesse nicho -- o de clientes de luxo que querem ser vistos à força no trânsito --, a Mercedes-Benz não sentiu pudor em copiar a receita e criar o GLE Coupé. Baseado no SUV GLE (antigo ML), recém-lançado no Brasil, o "utilitário-cupê" começa a ser vendido por aqui já no primeiro trimestre deste ano. A montadora desconversa sobre versões e preços, mas, diante da atual situação cambial, fica difícil imaginá-lo com etiqueta abaixo de R$ 350 mil.

UOL Carros foi a São Francisco (Estados Unidos) testar o GLE Coupé 450 4Matic, versão intermediária de 367 cv que recebe kit decorativo da divisão de desempenho AMG. Esta certamente não chegará ao país por menos de R$ 400 mil. Outras versões que devem compor a gama são a 400 4matic, de 333 cv e tração integral, e a esportiva AMG 63 S, equipada com um V8 biturbo de 5,5 litros, que rende insanos 585 cv. Todas a gasolina.

O que tem (e o que falta)

Um carro desse valor tem que, obrigatoriamente, oferecer o suprassumo do luxo. O GLE Coupé 450 chega quase lá: de série, o crossover vai contar com itens como faróis full-LED com acionamento automático: sete airbags: bancos dianteiros com ajuste elétrico, função memória e aquecimento; ar-condicionado digital de três zonas; teto solar; assistente de estacionamento com sensores, câmera de 360 graus e gráficos tridimensionais.

Mercedes-Benz GLE 450 AMG 4Matic 2016 - Divulgação - Divulgação
Apesar do esforço da Mercedes em deixar console mais limpo, operações multimídia do GLE Coupé ainda são um tanto confusas
Imagem: Divulgação
Acabamentos são primorosos no uso de couro, superfícies emborrachadas e metal escovado. Entretanto, os revestimentos em duplo tom de caramelo e preto e as faixas que emulam madeira aumentam exponencialmente a sensação de estar num carro de "tiozão". Há espaço de sobra para ombros e pernas no interior, em qualquer posição, mas o caimento exagerado do teto sacrifica um pouco da posição da cabeça para quem senta atrás, além de comprometer a visibilidade a partir do retrovisor interno.

Pacote multimídia está longe de ser tão inteligente e moderno quanto o do novíssimo Classe E, apresentado globalmente no Salão de Detroit. De geração antiga, ele ainda usa tela digital de 8 polegadas desintegrada do painel, como se fosse um tablete colocado ali por improviso, e é gerenciado por um confuso sistema de botões, comando giratório e touchpad, todos localizados no console. Nada de tela de toque, portanto, o que deixa a central poluída e pouco intuitiva. Falta também espelhar celulares: a conversa é feita apenas por Bluetooth.  

Há de se destacar que os gráficos são nítidos, limpos e bem resolvidos, tanto na tela centralizada quanto no computador de bordo, este munido de dois mostradores convencionais e um de LCD, localizado entre os dois analógicos, que reveza informações de velocidade, consumo de combustível, navegação GPS e modos de condução. Este último item, no caso, é formado por cinco regulagens padronizadas para mapeamento de motor, acelerador, suspensões, câmbio, direção elétrica e assistências eletrônicas (controle de estabilidade e sensores anticolisão): Comfort, Individual (ajustes feitos manualmente), Sport, Sport+ e Low Grip (para pisos de aderência extremamente baixa, como neve).

Como anda

O trem-de-força, formado pelo V6 biturbo de 367 cv de potência e 53 kgfm de torque, e pela moderna e elogiável transmissão automática de nove velocidades, é um dos pontos mais fortes do GLE Coupé 450. Há força para andar em bom ritmo, mesmo em rodovias, a giros relativamente baixos, apesar de o crossover pesar 2.325 kg (200 quilos a mais do que o X6, justificados pelo maior comprimento). 

Assento altamente ergonômico, direção elétrica progressiva e ponto H elevado proporcionam visibilidade privilegiada e segurança ao dirigir. Tração integral permanente, com distribuição de 60% do torque para o eixo traseiro, também opera de forma precisa, garantindo estabilidade.

Por outro lado, a carroceria grande e pesada do GLE rola demasiadamente nas curvas e se mostra muito mole nas ondulações, mesmo com o auxílio de válvulas pneumáticas de amortecimento nas suspensões. Parar este grandalhão também é exercício hercúleo para os quatro discos de freio, demandando atuação firme do condutor no pedal. Isolamento acústico foi outra grande decepção: ronco do motor e barulho do rolamento invadem a cabine com intensidade acima do recomendável para um veículo de proposta tão luxuosa. 

Apesar dos pequenos problemas, o que mais impressionou é que, durante o trajeto de pouco mais de 100 quilômetros, muita gente virou o pescoço para conferir a novidade. É a prova de que o excêntrico chama mesmo a atenção. Por mais que se torça o nariz para um modelo de formas tão polêmicas, não haverá como repreender a Mercedes caso a fórmula inspirada na BMW se converta em vendas.

Viagem a convite da Mercedes-Benz do Brasil