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Volkswagen reconhece que manipulou emissões de motores

Arantxa Iñiguez

Da EFE, em Frankfurt (Alemanha)

23/12/2015 18h00

O grupo alemão Volkswagen (VW) reconheceu às autoridades americanas ter manipulado durante anos, de forma sistemática, as emissões de óxido de nitrogênio em motores a diesel. A EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) e o Carb (Comitê de Recursos do Ar da Califórnia) acusaram a marca de ter manipulado as emissões de gases nos testes de homologação, em 18 de setembro.

A EPA descobriu que os veículos da Volkswagen em questão tinham um "software" (dispositivo chamado defeat device) que detecta se ele está em um teste e muda o regime do motor para que emita menos gases poluentes. Posteriormente, a VW também admitiu que alguns motores a gasolina também tinham esse dispositivo.

Os investigadores da West Virgnia University descobriram que os veículos da VW emitiam em estrada muitos mais gases que nos testes, e estas informações deixaram a autoridades americanas em alerta.

O escândalo de manipulação, que ficou conhecido nos EUA como "dieselgate", é uma das piores crises que a Volkswagen teve em sua história. A notícia levou a companhia a perder em três semanas 40% de seu valor de mercado, US$ 30 bilhões de euros.

O presidente da companhia, Martin Winterkorn, renunciou e foi substituído por Matthias Müller, que era o presidente da Porsche.

A Volkswagen, que disse que 11 milhões de veículos com motor a diesel tinham um "software" que manipula as emissões, realizou algumas mudanças em sua direção e prometeu esclarecer o escândalo.

Recall

A companhia alemã também se comprometeu a realizar modificações nos motores afetados pela manipulação para que cumpram com os padrões de emissões e a assumir o possível impacto nos impostos associados aos veículos. Os motores a diesel 2.0 TDI só precisam de uma atualização de software, e os 1.6 TDI de uma atualização e um pequeno conserto.

A solução para este último duraria uma hora de trabalho na oficina e consiste na instalação de um "transformador de fluxo" junto ao medidor de massa de ar e que permite uma leitura precisa de medição por parte desse sensor.

O professor de Economia Automobilística da Universidade de Duisburg-Essen Ferdinand Dudenhoeffer considera que a VW encontrou uma boa solução para a Europa e calcula que o recall de 8,8 milhões de veículos custará 500 milhões de euros, uma quantia insignificante para a companhia e à qual seria preciso acrescentar até 1,5 bilhão de euros por custos de processos judiciais.

A situação é mais incerta nos EUA, onde a solução será muito mais cara, podendo alcançar até US$ 30 bilhões pelos recalls, multas e processos de acionistas, segundo Dudenhoeffer.

A Volkswagen dispõe de dinheiro suficiente para cobrir estes custos porque tem liquidez no valor de 25 bilhões de euros, dos quais poderia utilizar 10 bilhões de euros.

No pior dos casos, também poderia lançar na bolsa a montadora sueca Scania e a construtora de veículos industriais MAN, o que lhe renderia cerca de 30 bilhões de euros, acrescentou Dudenhoeffer.

O escândalo de manipulação pela Volkswagen foi um duro golpe para a tecnologia a diesel, combustível que na maioria dos países da Europa é mais barato porque paga menos impostos, algo que é muito injusto e que não ocorre nos EUA e no Japão, segundo o professor.

Dudenhoeffer acrescentou que o caso da Volkswagen "deve levar à reflexão e à redução dos subsídios ao diesel" e contribuirá para a promoção da tecnologia elétrica, na qual o Japão é pioneiro.