Topo

Brasil prepara incentivos e sonha em vender 1.000 carros "verdes"

Eugênio Augusto Brito<br>Leonardo Felix

Do UOL, em Tóquio (Japão) e São Paulo (SP)

26/10/2015 14h16Atualizada em 31/10/2016 17h11

Uma reunião realizada na última quinta-feira (22) pelo Comitê Executivo de Gestão da Camex (Câmara de Comércio Exterior), órgão subordinado ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, terminou com aprovação de proposta que determina redução Imposto de Importação (II) sobre veículos elétricos, híbridos de recarga externa e movidos a célula de combustível. A informação foi publicada pela Folha de S. Paulo na última quinta e confirmada por UOL Carros junto a fontes do MDIC e da Anfavea (associação das fabricantes). A expectativa é que o ministério divulgue detalhes da resolução, que faz parte do Inovar-Auto, no Diário Oficial da União entre esta segunda (26) e terça-feira (27).

Elétrico Nissan Leaf é um dos modelos que podem ser fabricados no país - Divulgação - Divulgação
Elétrico Nissan Leaf é um dos modelos que podem ser fabricados no país
Imagem: Divulgação

Com a medida, o setor espera que se criem condições para romper a "barreira" de 1 mil unidades emplacadas de híbridos e elétricos. A meta parece irrisória, mas seria um marco e ainda está longe de ser alcançada por um país que já rompeu por diversas vezes a casa dos 3 milhões de emplacamentos anuais. Para 2015, o mercado automotivo deve bater o recorde de 750 unidades elétricos/híbridos de 2014, mas está longe das condições ideias para passar disso. 

Com incentivos, seria possível ampliar a demanda e o desejo por carros verdes. Com maior procura em lojas e mais carros na garagem, estaria iniciado o ciclo que leva ao aumento de vendas e redução de custos de produção. Atualmente, híbridos e elétricos ainda são artigos de luxo, com preço de tais.

Os veículos de matriz alternativa já comercializados por aqui no varejo são: Fusion Hybrid, Toyota Prius, Lexus CT200h Outlander PHEV (híbridos); e BMW i3 (único elétrico da lista). O grupo Renault-Nissan tem exemplares de veículos como Leaf, Zoe e Twizy rodando no país, porém em projetos isolados  feitos com frotistas e órgãos governamentais. 

Fabricação local

O incentivo aos elétricos e híbridos irá além da importação: também na última semana, a Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal aprovou o Projeto de Lei 174/2014, do atual ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM). 

A proposta concede isenção de Imposto de Importação e IPI, por 10 anos, sobre modelos movidos a energia elétrica ou híbridos (desde que com motor de combustão a etanol) que sejam produzidos localmente. O texto vai agora para a Comissão de Assuntos Econômicos. 

Apesar de ainda não ter sido totalmente aprovada, a matéria já foi motivo de celebração para o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão. "Vamos negociar com a Nissan-Renault a instalação da primeira fábrica de carros elétricos no Rio", prometeu, em entrevista a jornalistas locais no final da semana passada. Na cidade de São Paulo já existe um plano de incentivo a "carros verdes" com isenção de 50% de ICMS e da obrigatoriedade de participação no rodízio.

Procurada por UOL Carros, a assessoria da Nissan confirmou a intenção de produzir, em sistema de CKD (as peças chegam prontas de fora e são montadas localmente) o elétrico Leaf no complexo de Resende. "A questão principal é falta de estrutura. Com as medidas aprovadas, as concessionárias [de energia elétrica] podem começar a se preparar para oferecer esse serviço. Como já temos unidades rodando no país [em projetos de táxis], a homologação seria rápida", apontou João Veloso Jr., diretor de comunicação corporativa da marca. 

Marcas pedem estrutura e incentivo estadual

Veloso admitiu, porém, que, mesmo após aprovação definitiva dos dois projetos, será necessário passar de "seis meses a um ano" estudando a viabilidade da nacionalização do Leaf, especialmente pela questão do preço. Nenhum entre os modelos elétricos disponíveis hoje no Brasil tem valor estimado muito abaixo de R$ 200 mil. "Quem está disposto a pagar esse preço? Mesmo que o imposto caia, ainda tem a questão do dólar, que empurra para cima de novo. Vamos seguir fazendo as contas", disse. A decisão da Nissan, portanto, deve ficar para 2017.

A conterrânea Toyota também tem planos de produzir o Prius localmente, mas acredita no mesmo prazo de um ano para implementação do projeto. Para tirar tudo do papel até 2018, espécie de tempo ideal considerado pela fábrica, seria necessário ter a redução do IPI, mas principalmente do ICMS, cuja vinculação é de responsabilidade dos governos estaduais. 

"Isso [a alíquota do ICMS] mexe diretamente com o preço que o consumidor paga pelo carro, portanto seria importante dar ao consumidor melhores condições para optar pelo híbrido ou elétrico", afirmou Ricardo Bastos, diretor de relações governamentais e da Fundação Toyota. "Estamos em conversa com o governo de São Paulo, assim como Nissan está em diálogo com o governo do Rio e a Renault com o do Paraná", apontou.

Bastos afirma ainda que o cenário ideal seria a redução do IPVA (também estadual) para veículos mais eficientes -- elétricos, híbridos ou com motores a combustão de tecnologia mais avançada, como os motores turbo e com injeção direta. "Se consomem e poluem menos, deveriam ter menor taxação ou isenção. No cenário atual, existem fábricas com motores da década de 1980, com pouco investimento, em condições semelhantes aos fabricantes que investem em tecnologia mais atual".  

De toda forma, o executivo confirma a chegada da nova geração do híbrido Prius, mostrada recentemente no Salão de Frankfurt e que será globalmente lançada agora no Salão de Tóquio. Ela começa a ser vendida no Brasil, ainda como modelo importado, no primeiro semestre de 2016.

A BMW também já confirmou a UOL Carros a intenção de montar em Araquari (SC) o i3, primeiro carro 100% elétrico à venda para o consumidor comum no país (a partir de R$ 199.950). À época, a montadora alemã comentou que depende exatamente de um plano de isenção do IPI e de cotas para importação para definir se vale ou não a pena nacionalizá-lo. A resposta não virá antes de dois anos.