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Volvo XC90, R$ 319 mil, chega com tecnologia típica de aviões

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em Tarragona (Espanha)

07/08/2015 12h00

Criado há quase 130 anos (releia ou conheça esta história), o automóvel evoluiu muito desde 1886, mas manteve algumas premissas. A principal delas é a de que depende do comando humano ao volante (ou manche), apesar de ter força motriz própria. A nova geração do SUV Volvo XC90, apresentada em outubro de 2014 e lançada globalmente em março último, que chega no final desde mês de agosto ao Brasil não tem como meta vender muito (esperam-se vendas de 1.000 unidades/ano), mas sim revolucionar a ideia que temos sobre o que é um carro.

Ele ainda não sabe andar sozinho: por força de tecnologias ainda não totalmente desenvolvidas, custo e, principalmente, de regras ainda indefinidas, os primeiros autônomos só serão testados em larga escala por marcas como Volvo e Mercedes-Benz a partir de 2017. Ainda assim, a empresa sueca já avisou que o XC90 será seu modelo autônomo. Até lá, o SUV mostra avanços como a possibilidade de seguir um comboio, ou fazer curvas suaves sem a mão do motorista. Deixa de se parecer com um carro comum e se torna quase um avião construído pela Airbus.

Isso tudo chega a assustar, claro, e pode não estar disponível em todos os mercados -- a Volvo revelará os pacotes de equipamentos para o Brasil apenas no lançamento oficial no país. Assim, a estratégia principal neste momento será a de mostrar o SUV como o modelo mais confortável, refinado e tecnológico já construído pela empresa. Isso tem um preço, claro:

No Brasil, serão duas configurações, todas com tração integral, sete lugares e motor a gasolina de 2 litros (calma, daremos mais detalhes logo). A inicial chama-se Momentum e custará R$ 319 mil. Acima dela, haverá a topo de gama Inscriptium, de R$ 363 mil, que traz complementos como suspensão a ar, sistema de som Bowers & Wilkins (19 falantes, 1.400 W) e possibilidade de upgrade com o pacote R-Design. Na Europa, o modelo parte de 53.400 euros e chega a 76.705 euros (R$ 207 mil a R$ 296 mil, limpos).

Este sistema de som, aliás, chegou a garantir vendas antecipadas do SUV: a Volvo colocou 1.927 unidades (o número faz referência ao ano de fundação da marca) do XC90 First Edition desde agosto passado, em pré-venda. Na Europa, o jogador de futebol sueco Zlatan Ibrahimovic recebeu a unidade "número 10". No Brasil, onze delas foram vendidas, todas pela internet e sem que qualquer comprador tenha visto o carro de perto (à época, ele sequer estava sendo fabricado em Torslândia, Suécia). O preço da série limitada ficou em R$ 395 mil e teve comprador local que preencheu o cheque apenas pela promessa de som de alta qualidade: os subwoofers são montados na carroceria, o que transforma toda a cabine em uma grande caixa de ressonância; além disso, a equalização do sistema foi feita segundo os padrões da Sala da Orquestra Sinfônica de Gotemburgo.

Como anda este SUV

Visualmente, houve um mistura de impressões durante o teste de UOL Carros em Tarragona, próximo a Barcelona (Espanha): embora mantenha o aspecto quadrado do XC90 original (lançado em 2006), o novo XC90 impõe respeito e mostra ser um modelo mais avançado por conta da grade frontal saltada e do conjunto óptico totalmente formado por LEDs e cuja guia de luz principal em forma de "T" foi apelidada pela Volvo de "Martelo de Thor". Junto com as lanternas, também de LED e que são chamadas de "Tatuagem de luz", a Volvo constrói sua nova identidade visual, o estilo que será visto em todos os carros da empresa daqui por diante.

A textura de pinturas, ainda que em tons clássicos e sóbrios, e o aspecto do acabamento interno são refinados. A cabine tem plásticos suaves e emborrachados mesclados a couro Napa, madeira de lei ou alumínio e até cristal -- uma grife sueca faz o miolo da manopla seletora do câmbio automático de oito marchas neste material para a versão mais cara.

Neste caso, o sistema de transmissão tem auxílio eletrônico, feito por comunicação por fios (drive by wire), como em um avião da Airbus. Tudo isso facilita o sistema de piloto automático que, no futuro, permitirá que o carro ande sozinho. Na versão mais básica, o câmbio tem acionamento padrão (cabos e engates se comunicam com engrenagens e conversores) e a manopla é comum (ela segue existindo, sobretudo, por conta da Lei americana).

Falando em piloto automático, ele vai além das funções automáticas de velocidade (cruise control) e distância (ACC, ou cruise control adaptativo que acelera ou freia o carro para mantê-lo a um espaço do veículo à frente determinado pelo motorista). As unidades testadas podiam não só seguir o ritmo de um comboio de veículos à frente, útil no trânsito congestionado, como também esterçar o volante automaticamente, seguindo as faixas de solo, para manter a trajetória em curvas. Ambas as funções podem ser usadas tanto em baixas velocidades como a 120 km/h.

É estranho quando o volante se mexe sozinho pela primeira vez no meio de uma curva (a função pode ser desligada), mas fica claro que isso pode evitar acidentes causados, por exemplo, pelo sono. Claro está, também, que este é o passo intermediário para que o carro se mova totalmente sem a ação do condutor em breve.

A mente do XC90

Falando em ação, qualquer pessoa que já dirigiu um Volvo reclamava do excesso de botões na cabine. Isso acaba a partir de agora com o novo sistema Sensus, que reúne todas as funções do carro na tela central em forma de tablete. Tudo está lá: quer ligar ou programar as luzes, achar a temperatura certa do ar-condicionado de quatro zonas, regular o aquecimento ou a massagem do bancos, usar o assistente de estacionamento? Use a tela sensível ao toque. Ela também centraliza o sistema de som, telefonia por Bluetooth e até a conexão à internet e espelhamento do celular smartphone.

Há outras (poucas) teclas ao redor da cabine para acesso rápido a funções especificas, mas o cérebro do XC90 está na tela central e no Sensus. Só a abertura do porta-luvas refrigerado, bem como a sinalização de emergência não estão na tela: ambos são acionados em botões na base do painel.

Mas impacto mesmo vem da informação de que o XC90 só usa motores a gasolina de 2 litros e quatro cilindros. Nem comece a dizer que são fraquinhos, pois não é o caso. Claro, os fãs de borbulhantes motores V6 ou V8 ficarão decepcionados, mas a Volvo garante que a eficiência justifica o uso da família E-Drive. O T5 (que um dia já representou o cinco-cilindros em linha) usa injeção direta e turbo-alimentação para gerar 257 cavalos e 35,5 kgfm máximos; o T6 -- que estará na configuração vendida no Brasil -- se vale de turbo e compressor unidos para entregar 324 cv e 41 kgfm; já o T8 é híbrido e usa ainda um motor elétrico para ir aos 405 cv e 65 kgfm.

Mesmo com o menor motor, a tocada foi suave em ambiente urbano e suficiente para seus pouco mais de 2 mil quilos na estrada. O T6 é feroz em arrancadas. A configuração híbrida, que não está certa para o Brasil, não deve nada aos rivais Audi Q7, BMW X5 e Mercedes-Benz GLE, que também chegam este ano ao Brasil: acelera até os 100 km/h em 5,9 segundos, chega aos 300 km/h e ainda promete fazer 40 km/l, com capacidade de percorrer 40 quilômetros no modo elétrico, sem gastar combustível e sem poluir. Será chamado por muitos de "avião" quando rodar pelas ruas. 

Viagem a convite da Volvo