Topo

No Brasil, Audi, BMW e Mercedes se armam para a mais dura batalha de 2015

BMW já monta seus "best sellers" no Brasil; Audi chega este ano, Mercedes em 2016; juntas, devem dobrar volume em quatro ano e atacar Toyota, Honda e Ford - Bruno Mooca/Divulgação
BMW já monta seus "best sellers" no Brasil; Audi chega este ano, Mercedes em 2016; juntas, devem dobrar volume em quatro ano e atacar Toyota, Honda e Ford Imagem: Bruno Mooca/Divulgação

Eugênio Augusto Brito<br>André Deliberato

Do UOL, em São Paulo (SP)

03/02/2015 08h00Atualizada em 03/02/2015 18h10

A disputa entre Fiat, Volkswagen, Chevrolet e Ford não é mais a única a pegar fogo no setor automotivo do Brasil. Em 2015, as marcas alemãs Audi, BMW e Mercedes-Benz brigam renhidamente para ampliar (e liderar) uma espécie de categoria à parte, a das marcas premium -- que não são exatamente de luxo, mas têm altíssima qualidade técnica e refinamento no trato com os ocupantes.

As três prometem entregar este ano modelos nacionalizados e/ou com motor bicombustível, carros inéditos, rede autorizada ampliada e crédito facilitado. O resultado pode ser um aumento de cerca de 15% nas vendas totais em relação a 2014 (quando foram entregues 39.448 unidades pelas três marcas), sempre tendo como pano de fundo a disputa pelo pódio da trinca: o ano passado fechou com a BMW à frente, seguida pela Mercedes e com a Audi em terceiro.

O ano começou nesta mesma ordem, mas bem parelho, com BMW entregando cerca de 1.300 unidades; Mercedes, 1.200; e Audi, 1.080. 

"O mercado pode fechar 2015 com vendas na casa dos 46 mil carros das três marcas", aponta Leo Castanho, gerente nacional de vendas da Mercedes-Benz do Brasil, apontando alta até superior a 15% nas vendas, em relação a 2014, que já foi um ano aquecido para o trio. Em condições ideias, Audi, BMW e Mercedes devem dobrar o volume atual em até quatro anos, colocando mais de 20 mil carros na rua cada uma. 

Isso tudo frente a um setor -- o automotivo como um todo -- que se retraiu 7% no último ano (foram 3,3 milhões de carros de passeio e comerciais leves em 2014) e tende a se manter estável em 2015, isso pelas previsões mais otimistas. Medidas salgadas de controle à inflação, crise hídrica no Sudeste, instabilidade política, nada disso parece afetar a visão de horizonte das três marcas, que se deixam guiar pelas regras estabelecidas pelo Inovar-Auto (o programa automotivo nacional, válido de 2012 a 2017), rumo a mais e melhores vendas.

Thiago Lemes, diretor de vendas da Audi do Brasil - Divulgação - Divulgação
Thiago Lemes, da Audi: "Queremos liderar até 2020, com 30 mil unidades anuais".
Imagem: Divulgação
SÓ O TOPO INTERESSA
Com a (re)abertura de sua fábrica em São José dos Pinhais (PR, na região metropolitana de Curitiba) marcada para a segunda metade do ano, a Audi quer vender mais que o dobro do volume atual -- que já é duas vezes o patamar de dois anos atrás -- em no máximo cinco anos, deixando a terceira colocação para alcançar a liderança do segmento no Brasil.

"Nosso objetivo é ser a marca premium número um até 2020, globalmente, e isso obviamente inclui o Brasil", afirmou Thiago Lemes, diretor de vendas da Audi local, que é comandada globalmente pela Volkswagen. "Queremos vender 30 mil carros anualmente [no Brasil] até 2020, ano da capacidade plena da fábrica".

Para alcançar esta meta ambiciosa, é preciso começar a bombar agora, em 2015. E a Audi terá um reforço importante para aquele que já é seu carro-chefe: o sedã A3 terá motor flex em breve, quando for fabricado no Brasil, conforme UOL Carros adiantou. Além dele, a marca aposta no utilitário esportivo compacto Q3, que será montado no país a partir de 2016. Quando a produção paranaense estiver com força total, serão 16 mil A3 de três-volumes saindo do forno, ao lado de 10 mil Q3. Outros 4 mil unidades importadas complementarão a meta de 30 mil carros. 

TRADIÇÃO
Vice-líder histórica do segmento no Brasil, a Mercedes-Benz é um pouco mais contida, mas não muito: a marca será a última a ter sua linha de produção local (Iracemápolis, no interior de São Paulo, só abre as portas no começo de 2016), mas vai se valer do "best seller" Classe C para projetar bons números ainda este ano.

Leo Castanho, gerente nacional de vendas da Mercedes-Benz do Brasil - Divulgação - Divulgação
Leo Castanho, da Mercedes: "Com Classe C revigorada e GLA, vamos brigar pela liderança".
Imagem: Divulgação
Embora não entregue a conta completa, a montadora deixa claro que pode colocar para rodar cerca de 20 mil unidades anuais, se necessário, "ainda que esse não seja o objetivo inicial". Em 2014, a marca entregou pouco menos de 12 mil carros pelas próprias contas -- entre hatches, sedãs, esportivos e SUVs. 

"Teremos nossos principais produtos, o sedã Classe C e o GLA [SUV compacto derivado do Classe A] em ciclo de vida cheio em 2015, garantindo nosso volume de vendas tanto entre consumidores mais tradicionais da marca, quanto com a nova geração", calculou Castanho, da Mercedes. prevendo números melhores que crescimento recorde de 27% da marca em 2014.  

Também está no plano da marca da estrela de três pontas ultrapassar concorrentes indiretas -- como Toyota, Honda e Ford -- na faixa de carros executivos de R$ 100 mil, algo que a Audi já começou a fazer com seu A3 Sedan. A chave para isso está na ampliação de garantias para que o novo consumidor se veja capaz de bancar um carro alemão na garagem.

"Lançamos o plano de revisão com preço declarado no Salão do Automóvel de São Paulo, damos a possibilidade para o cliente ampliar a garantia de fábrica de dois para três ou quatro anos e ainda estamos trabalhando melhor o financiamento de modelos na faixa dos R$ 100 mil", enumerou o executivo, que ainda prevê a possibilidade de expandir o total de concessionários em cerca de 30% nos próximos dois anos -- atualmente, são 45 lojas no país.

Além de Classe C e GLA, que passam a ser nacionais em fevereiro 2016, a Mercedes ainda poderá ter o trunfo de trazer o hatch Classe A sem pagar taxa de importação dentro de alguns anos. Isso pode se tornar realidade com a produção do carro em Aguascalientes, México, país que possui acordo com o Brasil. 

UMA VEZ LÍDER...
Quem quiser liderar o segmento terá de destronar a BMW, líder absoluta. Foram 15.050 unidades vendidas em 2014, após 14 mil em 2013. A fabricante é também a mais avançada em seus planos de sedução do cliente nacional. Colocou motores flex no sedã Série 3 e no crossover X1 ainda em 2013; inaugurou fábrica local em Araquari (SC), de onde entrega algumas configurações do Série 3 e do X1 desde 2014; e planeja nacionalizar a produção de pelo menos mais quatro modelos de BMW e Mini a partir deste ano: o primeiro deve ser o novo Série 1, revelado há poucas semanas. E com motor flex.    

Nina Dragone, diretora de marketing da BMW do Brasil - Divulgação - Divulgação
Nina Dragone, da líder BMW: "O maior beneficiado com a chegada de novas fábricas premium ao mercado é o consumidor brasileiro".
Imagem: Divulgação
"Estamos atentos às movimentações dos nossos concorrentes, porém confiantes de que nossa estratégia de atuação é consistente o suficiente para manter nossa posição", afirmou Nina Dragone, diretora de marketing da BMW do Brasil.

Apesar de não revelar o volume de vendas projetado para os próximos anos, a BMW diz seguir "em expansão em 2015" e diz manter perspectivas de seguir "crescendo com consistência", mesmo que o cenário econômico atual seja aparentemente instável. A estratégia da marca passa pela diversidade de produtos: além dos nacionalizados, haverá ainda o reforço da linha importada com o inédito Série 2 Active Tourer (primeiro BMW com tração dianteira), bem como da nova Série 4 (cupê, esportivo M4 e do SUV X4).

Mas também há planos na "expansão consistente da rede de concessionários [atualmente são 47 lojas], melhoria do atendimento aos clientes e consolidação da produção nacional", segundo apontou a executiva. Ainda há previsão de um reforço no interesse local pela marca BMW i, de modelos híbridos e elétricos.

Há apenas um porém: a BMW já avisou que a nacionalização não deve reduzir preços de seus modelos mais procurados. O mesmo caminho parece estar sendo seguido por Mercedes-Benz e Audi. Essa, no momento, é a única pedra no caminho das três alemãs pela busca de novos clientes.