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Fórmula 1 mostra caminho para carro comum poupar combustível

Divisões de competição e de produção das montadoras têm objetivos em comum: criar soluções para que os carros de Fórmula 1 e de rua andem mais gastando menos - Arte UOL Carros - Thiago Carvalho/Fotoarena
Divisões de competição e de produção das montadoras têm objetivos em comum: criar soluções para que os carros de Fórmula 1 e de rua andem mais gastando menos Imagem: Arte UOL Carros - Thiago Carvalho/Fotoarena

Fernando Calmon

Colunista do UOL

18/12/2014 13h49

Afinal, o que as corridas de Fórmula 1 e, especificamente, seus carros podem trazer de vantagens e conquistas para o motorista em ruas e estradas? Há controvérsias sobre isso, mas o regulamento atual da categoria máxima do automobilismo introduziu conceitos de eficiência energética e economia de combustível bastante severos, que podem perfeitamente migrar, com as devidas adaptações e redução dos altos custos, para os carros comuns.

UOL Carros já explicou o atual regulamento técnico da categoria, e frisou que ele foi inspirado nas soluções criadas pelas montadoras para os automóveis de produção. Isso mostra como a via é de mão dupla, na qual as duas pontas (engenharia de competições e de carros de rua) dialogam constantemente.

Existem, porém, pontos menos visíveis que merecem análise mais meticulosa. Em 2014, os monopostos da Mercedes-Benz não tiveram adversários à altura, e permitiram que os pilotos Lewis Hamilton, campeão da temporada, e Nico Rosberg passeassem como poucas vezes visto na categoria (foram 16 vitórias em 19 etapas, recorde absoluto de triunfos em um mesmo ano). Muito dessa superioridade se explica pelo motor, em particular. 

Mercedes-Benz SLS elétrico - Divulgação - Divulgação
SLS elétrico herdou sistema de regeneração de energia da Fórmula 1
Imagem: Divulgação
A empresa alemã aceitou o desafio de demonstrar que, sim, a Fórmula 1 pode voltar a ser um imenso laboratório de testes, que ajuda e acelera o desenvolvimento de novas soluções. Para se ter ideia da rápida evolução, basta o exemplo do ERS, sistema de recuperação de energia cinética a partir das frenagens. Em 2007, pesava 107 kg e sua eficiência era de apenas 39%. Cinco anos depois, o peso caiu para 24 kg e a eficiência subiu a 80%, o que permitiu adaptá-lo à versão elétrica do Mercedes SLS AMG. 
Unidade de potência da Mercedes-Benz para a Fórmula 1, que reúne motor e sistemas de recuperação de energia - Divulgação - Divulgação
Unidade de potência da Mercedes-Benz para a Fórmula 1 é um sistema "três-em-um" que reúne motor, um sistema de recuperação de energia dos freios traseiros e outro que reaproveita o calor da turbina; junta, combinação rende 600 cv
Imagem: Divulgação
As áreas-chave de cooperação são as seguintes:

+Hibridização: no campo de motores elétricos, baterias e sistema de controle, há uma importante integração de componentes a serem aplicados no sedã de topo S 500 híbrido, plugável em tomada.

+Simulação: avanços permitiram encurtar prazos de projetos. Substituiu-se o método tradicional de tentativa-e-erro por técnicas de simulações em programas de computador. Na Fórmula 1, até 5 mil componentes e 15 mil desenhos podem ser concluídos em apenas quatro meses. No caso, importa menos o que os engenheiros estão desenvolvendo e sim como estão fazendo.

+Aerodinâmica: as ferramentas utilizadas são semelhantes, como túnel de vento e dinâmica de fluidos computacional.

Mercedes-Benz AMG GT-S - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Mercedes já adaptou solução de separar turbina do compressor para o motor do AMG GT
Imagem: Murilo Góes/UOL
+Turbocompressor: pesquisas em conjunto levaram a Mercedes à solução criativa de distanciar a turbina do compressor no motor de F1, o que deu grande vantagem em relação às rivais Ferrari e Renault. Em um automóvel comum, não seria fácil aplicar a mesma solução, mas ela já foi introduzida no cupê superesportivo AMG GT, atual modelo de topo da marca.

+Lubrificação: pacote complexo de aditivos para óleos sintéticos, que diminuem desgaste e atrito, poderá estar disponível para automóveis de grande desempenho da divisão AMG.

+Redução de atrito: novos revestimentos e tratamentos de superfície interna dos cilindros em blocos de motor de alumínio estão paulatinamente sendo transferidos para os modelos de produção de maior volume.

+Alívio de peso: esta é uma preocupação existente desde que as competições automobilísticas começaram, em 1894. Exemplo recente é a aplicação de compósitos em fibra de carbono, conhecidos por sua extrema leveza e resistência. Desde 2003, começaram a fluir para esportivos de ponta como o SLR McLaren, que estreou as estruturas de cabine e anticolisão frontal. Modelos atuais mais avançados e caros podem ter cerca de 80% de seus componentes estruturais feitos nesse material, para compensar em parte o peso das baterias.
Mercedes-Benz SLR McLaren - Divulgação - Divulgação
Ainda hoje um ícone, SLR McLaren estreou as estruturas de cabine e anticolisão frontal em fibra de carbono, material mais leve e resistente
Imagem: Divulgação