Crise da água em São Paulo chega à lavagem de carros; veja alternativas
A ameaça de falta d'água em São Paulo já obriga o paulistano a mudar alguns hábitos. O nível dos reservatórios dos dois maiores sistemas de captação do Estado, Cantareira e Alto Tietê, está abaixo de 20% da capacidade somada de ambos, e a previsão é que a forte estiagem dure pelo menos até outubro.
O momento é de reduzir o consumo ao mínimo, evitando gastar água em atividades supérflua. Uma delas é lavar o carro. "Na lista de prioridades para o uso da água que ainda temos, certamente lavar o carro está nos últimos lugares", diz a especialista em recursos hídricos e diretora-executiva da associação Águas Claras do Rio Pinheiros, Stela Goldenstein.
A conta é simples: segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), cada ser humano consome em média 110 litros de água por dia para, além de beber, suprir necessidades básicas como higiene pessoal e limpeza de roupas. Já a lavagem de um carro gasta em média, 300 litros.
O sindicato patronal do setor de lava-rápidos, denominado Sescove, não tem dados oficiais sobre o assunto. Segundo um funcionário, como existem "muitos estabelecimentos clandestinos, não dá para fazer pesquisas sobre isso, e temos apenas informações aleatórias". Mas basta conversar diretamente com os profissionais do ramo para ouvir que a crise da água é bastante sentida por eles. Alguns relatam queda de 10% no movimento de clientes -- um índice preocupante, mas não alarmante --, enquanto outros chegaram a perder mais de metade da clientela.
É o caso de Marco Aurélio Gambin, dono do lava-rápido Belpark, em Perdizes, zona oeste da capital. "Administro aqui há dez anos e posso dizer que esta é uma das minhas piores crises. Está difícil até de pagar as contas", diz o empresário a UOL Carros. Gambin, que já chegou a fazer 1.400 lavagens por mês, em junho não consegui fazer nem sequer 600. "Se um cliente vinha uma vez por semana e passa a vir quinzenalmente, só aí é uma diferença de 50% para mim", relata.
No mesmo bairro, a designer gráfica Luciane Borges parou de lavar seu Chery S18 há três meses. "Parei assim que vi que a crise tinha ficado muito séria", conta. Antes, seu compacto -- que é preto, cor que ressalta a sujeira -- "tomava banho" de 15 em 15 dias.
Do outro lado da cidade, no Conjunto Habitacional José Bonifácio (zona leste), o eletricista José Balbino dos Santos tem evitado até mesmo as rápidas duchas de posto, o que fazia semanalmente ao levar seu Nissan March para reabastecer. "Estou fazendo uma reforma em casa e junta muita poeira no carro, mas nem assim eu lavo. O racionamento já está mais forte por aqui, então está todo mundo se mobilizando", afirma Santos, contrariando o discurso do governo estadual, que garante não haver redução no abastecimento na capital. O CONTO DO POÇO
Donos e gerentes de lava-rápidos procurados por UOL Carros usaram o mesmo argumento para que os clientes não parem de lavar seus carros em meio à crise: "Não usamos água da Sabesp, e sim de poço artesiano".
Mas isso ameniza o problema? Para Stela Goldenstein, não. "Sempre se considerou necessário poupar nossa água subterrânea para situações de crise. Estamos no meio de uma, mas o controle dessa água é muito deficiente. Há muito acesso clandestino, por edifícios, empresas e indústrias, que usam e desperdiçam sem qualquer cadastro ou controle", adverte.
O Sescove admite que não há nem sequer estimativa de quantos lava-rápidos ilegais existem em São Paulo, mas assegura que os devidamente registrados seguem rigorosos padrões de controle do consumo. "A grande maioria possui sistemas de reaproveitamento da água, exigência formal para abertura da empresa e talvez um dos motivos para a clandestinidade desenfreada", diz José Donizete Pereira Casalinho, presidente do sindicato. PANO ÚMIDO
Se você já está fugindo dos lava-rápidos, ou pensa em fazê-lo, mas tem medo de deixar seu veículo sujo demais e até comprometer algum componente dele, Gerson Burin, analista técnico do Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária) oferece algumas dicas de limpeza automotiva, que podem ser praticadas sem sair da garagem. Veja quais são: LAVAGEM A SECO
Se não há tempo ou espaço para fazer a limpeza em casa, outra alternativa é a lavagem a seco, também conhecida como "ecológica". Funciona assim: o automóvel recebe camadas borrifadas de uma solução que mistura água, cera especial e outros componentes, espalhadas com uso de panos ou pincéis (nas regiões de acesso mais difícil). Marcos Mendes, diretor-comercial da AcquaZero, franquia que atua no segmento desde 2009, garante que qualquer automóvel pode ficar limpo usando entre 350 ml e um litro d'água.
O serviço é um pouco mais caro que a lavagem convencional -- parte de R$ 30 a R$ 35, enquanto o tradicional começa em R$ 20 --, mas, de acordo com Mendes, vem ganhando muitos adeptos: "A procura cresceu perto dos 20% em 2014", estima. Joga contra a lavagem a seco a fama de que pode provocar danos à pintura do carro. Foi essa resistência que levou um investidor de Santana, zona norte de São Paulo, que não quis se identificar, a desistir do negócio após cinco meses. "Justamente por não utilizar água, o cliente desconfia e tem medo de que risque", argumenta o empresário, prestava o serviço a uma média de quatro clientes por dia. "Foi muito menos do que eu esperava", lamenta.
Segundo o diretor da AcquaZero, o perigo de avarias na pintura existe, mas é pequeno e só se o serviço for feito de forma errada. "A cera cria uma camada protetora e não gera atrito na hora de esfregar. Se o profissional for bem treinado e fizer a aplicação do jeito certo, não há como riscar", garante.
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