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China diz "sim" aos carros de luxo no Salão de Pequim; veja atrações

Claudio Luís de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

14/04/2014 17h53

Um estudo divulgado na semana passada mostra que, em 2013, o governo da China cortou pela metade o número de banquetes e recepções oficiais, num dos resultados mais eloquentes do pacote de austeridade baixado pelo presidente Xi Jinping no final do ano retrasado. Além de combater a corrupção, as medidas visam a frear o consumo de itens supérfluos e/ou de luxo (apenas essa diminuição nas bocas-livres causou uma retração de 40% no mercado de vinhos em 2013).

Em tese, o efeito deveria ser sentido em toda a sociedade chinesa -- mas o Salão de Pequim, auto-show que abre para a mídia no próximo dia 20, mostra que as coisas não são bem assim.

Como relata o boletim Automotive News em sua edição para a China, muitas das atrações do evento (que reveza anualmente com o Salão de Xangai) são carros premium, de luxo ou mesmo de alto luxo. É o reflexo de uma fatia do mercado automotivo chinês que não para de crescer.

Também mostra que, quando se trata de carro, os chineses preferem mesmo os estrangeiros: em março último, a participação das dezenas de marcas locais nas vendas (2,17 milhões de veículos no mês passado) era de apenas 39,3%. Note como todos os modelos citados a seguir são -- além de sofisticados -- estratégicos para montadoras bem conhecidas dos ocidentais.

Audi Q4 Concept - Divulgação - Divulgação
Esboço do Audi Q4: para oferecer agressividade a quem acha Q3 e Q5 sem graça
Imagem: Divulgação
Entre os carros caros que serão apresentados em Pequim, há o conceito de crossover da Audi, que dá origem ao futuro Q4, espécie de versão mais "assanhada" e compacta do Q5 pensada para rivalizar com BMW X4 e Porsche Macan.

Por sua vez, a marca bávara promete uma quase-extravagância: um sedã maior que o Série 7, já tratado como Série 9 e capaz de concorrer com a herança da finada Maybach à Mercedes-Benz (o provável S 600 Maybach), além de encarar o Bentley Flying Spur (mais sobre este logo abaixo). O estilo desse novo BMW foi esboçado no Pininfarina Gran Lusso Coupe -- que é especulado para ser o molde de um Série 8 duas-portas, enquanto o Série 9 teria quatro. Tudo muito típico de mercados emergentes e com alta concentração de renda -- como China e Rússia.

BMW Pininfarina Gran Lusso - Divulgação - Divulgação
BMW Pininfarina Gran Lusso deve gerar Série 8 (duas-portas) e Série 9 (quatro)
Imagem: Divulgação
A Lexus, marca de luxo da Toyota que um dia foi quase exclusiva para o mercado dos Estados Unidos, aproveita o Salão de Pequim para fazer uma estreia simultânea do NX, seu novo crossover compacto -- ele será mostrado também no Salão de Nova York, cujas datas batem com as do evento chinês.

Lexus LF-NX - Zhang Jun/Xinhua - Zhang Jun/Xinhua
Lexus NX, ainda como conceito, em Tóquio: crossover de visual ousado
Imagem: Zhang Jun/Xinhua
O modelo, já visto por UOL Carros (ainda como conceito) no Salão de Tóquio do ano passado, fica abaixo do RX e deve concorrer com BMW X1, Mercedes GLA e Audi Q3 -- três carros que serão fabricados no Brasil a partir de 2015/16.

A Mercedes-Benz vai mostrar em Pequim também um crossover, maior que o GLA e com desenho "acupezado": trata-se do Concept Coupe SUV. Ligado à Classe M, deve se chamar MLC e vai rivalizar -- que surpresa! -- com o controverso BMW X6.

Mercedes-Benz Concept Coupe SUV  - Divulgação - Divulgação
A ser batizado MLC, o Concept Coupe SUV é resposta da Mercedes ao BMW X6
Imagem: Divulgação
As marcas da PSA, Peugeot e Citroën, também vão mostrar embriões de modelos de prestígio no Salão de Pequim: são os conceitos Exalt e DS5 LS-R, respectivamente -- o primeiro é um cupê com jeitão de Mustang antigo, e o segundo, uma variação esportiva de um DS sedã aparentado ao C4 Lounge. Claro que não estão no mesmo patamar das grifes premium, mas são exemplos de carros que, no Brasil, certamente custariam mais de R$ 100 mil.

A inglesa Bentley, que recentemente passou a vender no Brasil o Flying Spur por cerca de R$ 1,5 milhão, dá em Pequim o primeiro passo para oferecer 90% de sua gama com motorização híbrida plug-in (autonomia de cerca de 50 km no modo exclusivamente elétrico). Na China, será mostrado um Mulsanne com esse tipo de propulsão -- que deve estrear, de fato, no SUV a ser lançado em 2017.

Nada menos que 2.199 carros da Bentley foram emplacados na China em 2013 (nos EUA, pátria mundial do contínuo enriquecimento dos 1% já mais ricos, o número no mesmo período foi de 3.140).

Mas, apenas para reforçar a tese de que os endinheirados chineses estão se fazendo de loucos ao apelo oficial para cortar bens extravagantes, vale notar que exatamente o Flying Spur, best-seller da marca inglesa, só chegou às revendas do país asiático no quarto trimestre de 2013 -- e, somente nele, vendeu 950 unidades.