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Fiat Linea melhorado no visual e no preço é errata sobre rodas

Claudio Luís de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

03/04/2014 18h36

O sedã Linea acaba de ganhar facelift, reforço no conteúdo e corte oficial nos preços. Há tempos a Fiat devia um reposicionamento ao modelo, que a rigor nada mais é do que o três-volumes do Punto -- mas que foi lançado há seis anos (ocupando espaço que já foi de Tempra e de Marea) com preços absurdos, gabando-se de uma sofisticação que nunca ofereceu e, pior ainda, dos supostos atributos de um tamanho que só existia (e só existe) por fora (são 4,58 metros).

O Punto é um bom carro e tem vendas decentes, mesmo sem grandes novidades desde seu lançamento no Brasil, um ano antes do Linea. Por que, então, o sedã vinha se arrastando na casa de 7.500 emplacamentos por ano (incluindo táxis)? Por que nunca chegou nem perto das 2.500 unidades mensais que a Fiat previu em 2008?

Simples: a fabricante italiana errou feio na estratégia para o modelo. Quis brincar de sedã médio, de rival de Honda Civic, Toyota Corolla e, à época, Chevrolet Vectra -- e dançou. (O diretor comercial da Fiat, Lélio Ramos, admitiu o equívoco com todas as letras durante o lançamento do Linea 2015 à imprensa, nesta quarta-feira, 2, em São Paulo.)

O Linea oferece agora duas versões de conteúdo, ambas com o motor E-torq de 1,8 litro, bicombustível. Veja o que elas têm, e seus preços:

Essence manual -- R$ 55.850
Principais itens de série: Ar-condicionado, direção hidráulica, piloto automático, travas elétricas, retrovisores externos elétricos, vidros elétricos dianteiros/traseiros com one touch e sistema antiesmagamento, volante revestido em couro com regulagem de altura/profundidade e comandos para o áudio, sinalização de frenagem de emergência, acionamento rápido das setas (Lane Change) regulagem elétrica dos faróis, airbags frontais, freios com ABS (antitravamento), computador de bordo, faróis de neblina, banco traseiro bipartido, apoia-braço central traseiro, desembaçador do vidro traseiro, chave canivete com telecomando, rádio CD com MP3 integrado ao painel e entrada USB, porta-óculos, rodas de liga leve aro 15, ponteira de escapamento cromada e parafusos antifurto para as rodas.

Essence Dualogic -- R$ 59.240

Absolute Dualogic -- R$ 66.450
Acrescenta ao pacote da Essence: Troca sequencial de marchas por borboleta atrás do volante, sensor de estacionamento traseiro com visualizador gráfico, ar-condicionado automático digital, bancos revestidos parcialmente de couro,  Blue&Me, parassol no vidro traseiro, volante com comandos do rádio e telefone com oito botões, rodas de liga leve de 17 polegadas e tapetes bordados. 

Entre os opcionais disponíveis para as duas versões, estão itens como navegador integrado ao Blue&Me e airbags laterais e de cortina.

Fiat Linea 2015 traseira - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Placa migrou do parachoques para a tampa do excelente porta-malas de 500 litros
Imagem: Murilo Góes/UOL
O QUE MUDOU
A nova tabela aposta no custo/benefício e coloca o Linea 2015 para brigar com dezenas de modelos, vários deles lançados depois de 2008, e não apenas com os escassos sedãs médios de 2008. Dá para dizer que seus rivais vão desde um Chevrolet Prisma LTZ 1.4 A/T (R$ 54.915 com pintura metálica); passam por Ford New Fiesta Sedan, Honda City, Toyota Etios, Renault Logan topo de gama (este por R$ 46.870, manual); e chegam, enfim, às versões de entrada de Corolla (GLi, por R$ 66.570) e Nissan Sentra (S, por R$ 62.190).

As mudanças visuais do sedã da Fiat foram, a rigor, cosméticas. O friso cromado na área inferior do parachoque dianteiro ficou bonito; na traseira, porém, a seção escurecida da mesma peça reforça a impressão de que o Linea é muito estreito. A migração da placa para a tampa do porta-malas foi um acerto. Já a roda de aro 15 que equipa a versão Essence de série, e que foi descrita como sendo a emulação do desenho de uma turbina, tem um acabamento em plástico preto cobrindo os parafusos que, francamente, parece coisa comprada em sacolão de autopeças.

Fiat Linea 2015 interior - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Interior do Linea 2015 é semelhante ao do Punto, com direito a opção de dois tons
Imagem: Murilo Góes/UOL
Por dentro, o Linea manteve inalterada a sensação de aperto transversal, vale dizer, motorista e eventual passageiro dianteiro ficam muito próximos e acabam se tocando frequentemente (em especial se o câmbio for manual: não se engatará a quinta marcha impunemente). A mesmíssima observação foi feita pelo mesmíssimo jornalista que assina este texto quando do lançamento do Linea, em 2008. Para registro: a largura do Linea é de 1,73 metro (a do Punto é de 1,68 metro).

No entanto, a cabine do sedã ficou mais agradável, semelhante à do Punto. O Absolute vem de série com acabamento bicromático (preto com seções em bege) e Night Design, nome impreciso para simpáticos filetes de luz no painel frontal e nas portas; são itens opcionais na versão Essence. Longitudinalmente, e apesar do entre-eixos de meros 2,6 metros (quando o padrão dos sedãs médios já chegou a 2,7 metros), o espaço é suficiente para quatro adultos, com bancos firmes e, na unidade testada (Essence Dualogic com vários opcionais), agradavelmente revestidos em couro.

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
Em movimento, o Linea se mostrou um carro acertado, bom de guiar, de direção firme e suspensões calibradas para preservar os ocupantes (mais rijas que as do Palio, menos que as do Bravo). O motor E-torq de 1,8 litro entrega potência relativamente baixa, de 130/132 cavalos (números já facilmente encontráveis em propulsores de 1,6 litro), e razoável torque de 18,4/18,9 kgfm a 4.500 rpm (gasolina/etanol). O Inmetro não tem dados do Linea, mas no Palio Weekend Adventure esse motor faz de 7 km/l (etanol, cidade) a 11,7 km/l (gasolina, estrada).

O câmbio Dualogic Plus (2ª geração do sistema automatizado) casa bem com esse motor maior, algo já notado quando guiamos recentemente o Punto Blackmotion. Os soluços entre as marchas foram moderados; quem não prestar atenção talvez nem os note. As trocas sequenciais, feitas na alavanca e em aletas atrás do volante, são úteis para corrigir "bobeadas" da transmissão (por exemplo, em aclives/declives). A principal ressalva ao Dualogic passa a ser o esquisito fato de a alavanca não travar nas posições D, R e N: o engate é feito com o deslocamento dela, que depois volta para a posição central. Além, é claro, do preço absurdo (R$ 3.390).

Fiat Linea 2015 roda - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Roda original do Linea Essence é de 15"; esta, de 17", é opcional (e muito feia)
Imagem: Murilo Góes/UOL
A Fiat quer aumentar as vendas do Linea em cerca de 30% -- o que, no melhor cenário, chegaria a 9.750 emplacamentos/ano. Pode ser que consiga. O carro é uma opção com índice de emoção quase zero, mas de custo/benefício interessante devido ao bom conteúdo e aos recentemente estabelecidos três anos de garantia. E, se não por outra razão, a existência do Linea já está justificada apenas pela lição de humildade imposta à Fiat. Não se dá passo de gigante com perna de anão.