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Honda esnoba Nissan e quer linha 90% nacionalizada até 2018

Dinamômetro do centro de pesquisa e desenvolvimento da Honda, em Sumaré (SP) - Divulgação
Dinamômetro do centro de pesquisa e desenvolvimento da Honda, em Sumaré (SP) Imagem: Divulgação

Leonardo Felix

Colaboração para o UOL, em Sumaré (SP)

28/02/2014 17h22Atualizada em 28/02/2014 17h25

Impulsionada pelas diretrizes do Inovar-Auto, o regime automotivo nacional que estipula apoio e incentivos fiscais às montadoras que apostarem em produtos fabricados no Brasil, a Honda inaugurou nesta quinta-feira (27) seu centro de pesquisa e desenvolvimento na unidade de Sumaré (SP), com meta ambiciosa e clara: deixar toda sua linha de automóveis pelo menos 90% nacionalizada até 2018.

É algo coerente com a atenção que a montadora japonesa vem dando ao país em tempos recentes: no ano passado, anunciou a construção de uma segunda fábrica nacional em Itirapina (SP), visando a dobrar a capacidade de produção de 120 mil para 240 mil unidades/ano, além de uma nova sede corporativa, também em Sumaré, ainda em construção, e de um parque eólico no Rio Grande do Sul.

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    Atualmente, a Honda usa uma média de 70% de peças nacionais em seu veículos produzidos no Brasil. Com o centro de pesquisa e desenvolvimento, meta é aumentar esse percentual a 90% até 2018.

E não para aí. Na parte de gestão, o brasileiro Issao Mizoguchi assumirá a presidência da empresa para a divisão da América do Sul, em substituição a Masahiro Takedagawa,  tornando-se o primeiro não-japonês a ocupar uma das diretorias globais da companhia.

Tamanha agressividade pode até dar a entender que a fabricante está respondendo às "ameaças" da Nissan, que afirma publicamente o objetivo de obter 5% de participação no mercado nacional até 2016, ultrapassando Toyota e Honda e se firmando como a maior montadora japonesa por aqui. Numa entrevista exclusiva a UOL Carros, no entanto, Mizoguchi ponderou que os planos apontam um caminho diferente: transformar a divisão brasileira em referência tecnológica. E deu de ombros à rival:

"Não estamos buscando uma expansão de nosso mercado, mas sim uma melhora na qualidade de nossos produtos, primeiro no mercado doméstico e, num futuro próximo, no internacional. Queremos aumentar os índices de exportação e usar as tecnologias desenvolvidas aqui para produção na Argentina", explicou. "Talvez a Nissan realmente consiga [se tornar a marca do Japão que mais vende no Brasil], até por ter uma gama maior de produtos. Isso não nos preocupa", assegurou Mizoguchi.

ORGANOGRAMA DO CENTRO

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    O centro de P&D da Honda é dividido em quatro setores:

    +Divisão de nacionalização de componentes: é responsável por pesquisas de peças que podem ser fabricadas no Brasil, por meio de estudos e reuniões periódicas com fornecedores.
    +Divisão de pesquisa e análise veicular: realiza testes de desempenho, dinâmica veicular, ruídos e vibrações, fluxos, medições e ergonimia em modelos de produção e protótipos.
    +Laboratório de materiais: é onde são feitos estudos de eficiência e durabilidade dos materiais utilizados no veículo, especialmente no trem-de-força.
    +Engenharia de produto: responsável pelos testes de potência, torque e durabilidade dos motores, bem como a medição dos índices de gases emitidos pelos modelos.

ESTREIA DE MENTIRINHA
A inauguração do centro de P&D nesta quinta não chegou a ser "real". Explica-se: a praça, construída com investimentos de R$ 100 milhões, já está em funcionamento desde o fim do ano passado, embora em caráter de testes. Ela conta com 300 engenheiros, sendo cerca de 40 de origem estrangeira. Segundo a fabricante, esse número será reduzido a zero até 2020. Para isso, técnicos brasileiros estão participando de cursos de treinamento e capacitação, com duração de um ano, nos Estados Unidos e no Japão.

Atualmente, os modelos produzidos pela montadora em solo brasileiro contêm 70% de peças nacionais, a grande maioria delas pertencentes ao acabamento do exterior e à cabine. Falta, portanto, maior participação em itens eletrônicos e de trem-de-força. "Iremos atuar com foco em partes de motor, sistema de transmissão, freios e chassis", disse a UOL Carros o gerente de pesquisa e desenvolvimento Sérgio Gazzola.

CENTRO DE P&D EM NÚMEROS:

  • R$ 100 milhões

    foi o total investido pela Honda no projeto, localizado dentro das instalações da fábrica de Sumaré.

  • 300

    é o número de engenheiros trabalhando no setor atualmente.

  • 4

    era o número de engenheiros de P&D que a marca tinha no país quando inaugurou o setor, em 1997.

  • 40

    é a quantidade de engenheiros estrangeiros atuando na divisão.

  • 2020

    é o prazo dado pela Honda para ter equipe 100% nacional no centro.

    A prioridade é desenvolver tecnologias exclusivas para a nova geração do Fit, que desembarca por aqui antes da Copa do Mundo e terá sua produção dividida entre Sumaré e Itirapina. O diretor comercial da Honda do Brasil, Sérgio Bessa, adiantou que o monovolume será vendido inicialmente em quatro versões, sendo a de entrada com motorização 1.5 flex, sem tanquinho para partidas a frio e com o retorno do câmbio CVT (transmissão continuamente variável).

    Em seguida, as atenções serão voltadas à estreia do Vezel, novo SUV compacto apresentado durante o Salão de Tóquio, em dezembro do ano passado, e que deve chegar com força na metade inicial de 2015 para brigar no segmento liderado atualmente pelo Ford EcoSport.

    Ainda sem um nome definitivo -- a própria montadora o chama apenas de "SUV compacto" --, o Vezel deverá ser lançado em três versões, utilizando motores de 1,5 e 1,8 litro, bicombustíveis. Assim como o Fit, sua fabricação será compartilhada entre as duas unidades da companhia no interior paulista.

    Enquanto o jipinho não vem, as apostas da marca para o encerramento de 2014 estão na nova linha do City, na atualização do Civic e na chegada do importado Civic SI, versão mais esportiva do sedã que foi apresentada aos brasileiros no Salão do Automóvel de 2012.

    Sobre as especulações de que prepara um compacto 100% nacional para brigar no nicho dos mais populares, a partir de 2016, a fabricante se limitou a dizer que, por enquanto, não possui estrutura para tal. Mas não descartou a possibilidade: afinal, só irá ocupar um terço do terreno de 5,8 milhões de m² adquirido em Itirapina, nesta primeira fase de vida da fábrica, tendo espaço de sobra para uma eventual expansão.