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Geely estreia em março com sedã médio EC7 por R$ 50 mil

Claudio Luís de Souza

Do UOL, em Itu (SP)

21/01/2014 19h57Atualizada em 22/01/2014 15h57

Acabou a vida (já nem tão) mansa das chinesas JAC e Chery no Brasil. A partir de março, a Geely Motors começa a vender carros no país; inicialmente o sedã médio EC7, com preço em torno de R$ 50 mil. Um mês depois, por cerca de R$ 30 mil, será a vez do subcompacto GC2, o carrinho mais parecido com um urso panda de todos os tempos.

Com sede em Itu, no interior de São Paulo, e controlada no Brasil pelo grupo empresarial de José Luiz Gandini (chefão local da Kia), a Geely se autoproclama "a maior fabricante independente de carros da China", vale dizer, sem dinheiro estatal (como é o caso da Chery).

  • Murilo Góes/UOL

    No estilo do EC7 tem de tudo um pouco; sedã de 4,63 metros quer brigar com Cobalt e Linea

O EC7, segundo dados da marca, é o único modelo 100% made in China entre os 20 mais vendidos naquele país. É o 19º, atrás de 18 carros de marcas ocidentais "puras" ou que operam por meio de joint ventures.

  • Murilo Góes/UOL

    GC2 (aqui com o emblema da Geely) é 100% inspirado num urso panda; chega em abril

Por ora, a Geely monta seus carros no vizinho Uruguai, onde chegam em kits de peças (CKD) à fábrica em que são feitos os caminhões Bongo, da Kia, entre outros. É o que basta para os Geely gozarem de isenção de taxa de importação e de super-IPI no mercado brasileiro. A unidade uruguaia tem capacidade para produzir 20 mil carros por ano; a Geely quer vender 3.500 no Brasil entre março e dezembro (60% do GC2, 40% do EC7). A rede de lojas inicia os trabalhos com 15 unidades, e deve chegar ao final de 2014 com 25 -- a maioria no Sul e no Sudeste.
 
Desde 2010 o grupo Geely (faturamento total em 2012: US$ 24,6 bilhões) é controlador da Volvo. Num futuro ainda indefinido, sua divisão automotiva compartilhará plataformas com a marca sueca (o EC7, por exemplo, será "irmão" do refinado hatch V40). Nada mau para uma empresa que faz carros apenas desde 1997; antes, fabricava geladeiras.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES
UOL Carros participou nesta terça-feira (21) de um test-drive do EC7, em trechos urbanos e rodoviários no interior de São Paulo. A experiência foi interessante.

Desconte o nome medíocre. O sedã é bonito, embora derivativo. Olhando com atenção, dá para perceber elementos do Hyundai Azera antigo, do novo Toyota Corolla europeu (inacreditável, mas repare nos faróis) e, mais evidentemente, dos Mercedes-Benz Classe C (linha de caráter lateral, maçanetas) e S (a traseira, "inspirada" na geração anterior). O terceiro volume é curto, mas não a ponto de sugerir um cupê. O porta-malas leva impressionantes 670 litros de bagagem. 
  • Murilo Góes/UOL

    Traseira tem jogo de LEDs nas lanternas; barra cromada contrasta com emblema dourado

A cabine do EC7 é sóbria e agradável, com predomínio da cor preta e revestimento de couro sintético nos bancos, que são excepcionalmente firmes (ou duros, depende de quem senta). Há excelente espaço para quatro adultos de porte normal (o entre-eixos é de 2,65 metros, sobre comprimento total de 4,63 metros).
 
Algumas peças e partes pareceram meio frouxas, como os encostos de cabeça dianteiros e os apoios de braço para motorista e passageiros traseiros, e todas as superfícies plásticas são duras. Porém, o acabamento e a montagem são bons -- o que significa ser muito melhor que a média dos carros chineses que conhecemos.

O emblema na grade do sedã (descaradamente copiado da Cadillac) pode ser uma explicação para esse esmero: em seu país de origem ele é vendido pela Emgrand, marca "premium" da Geely. É, portanto, um sedã "diferenciado".

O pacote de equipamentos da versão única é correto, com a maioria dos itens costumeiramente desejados pelo consumidor. Ausências graves são as de uma central multimídia, de navegação por GPS e dos controles eletrônicos de estabilidade e de tração (no entanto, o freio é a disco nas quatro rodas). Não há comandos de áudio no volante. O resto, o EC7 tem.
 
Em movimento, o sedã -- como outros carros chineses -- mostra acerto de suspensão adequado aos pisos brasileiros. O motor 1.8, somente a gasolina, de 130 cavalos de potência e 16,9 kgfm de torque, é valente. Arrancadas e retomadas são robustas. A 120 km/h, o motor do EC7 trabalha a 3.000 rpm. O câmbio manual de cinco marchas é amigável, mas não dá para perdoar a ausência, ainda que temporária, de uma transmissão automática num carro não-popular (ela chega só em 2015, do tipo CVT). 
 
Não foi possível medir o consumo de combustível do sedã, já que o (incompleto) computador de bordo não possui essa função. A Geely não dá números.
 
O EC7 recebeu nota máxima de segurança em testes na China, e quatro estrelas (de cinco possíveis) no Euro NCAP (onde, em ocasião anterior, recebera zero). A garantia é de três anos ou 100 mil km, com a primeira revisão após 3.000 km; a Geely jura que terá um pós-venda responsável, com treinamento adequado e sem falta de peças.
 
O sedã chinês pode ser interessante alternativa a Nissan Versa, Chevrolet Cobalt, Fiat Linea e JAC J5, entre outros modelos de padrão mediano, especialmente para quem ainda não pode comprar um três-volumes mais tradicional, como Toyota Corolla e Honda Civic. Certamente é melhor esperar a versão flex, que virá em julho, e/ou o câmbio CVT.

Pensando bem, talvez seja essa a grande conquista do Geely EC7: ele mereceu ser tratado aqui como um carro normal, não como um exotismo oportunista e suscitador de dúvidas. Não é pouca coisa.

Viagem a convite da Geely Motors