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Carro em estoque na revenda não precisa subir de preço após IPI

Clientes em concessionária de Brasília (DF) negociam carro às vèsperas do aumento do IPI - Agência Brasil
Clientes em concessionária de Brasília (DF) negociam carro às vèsperas do aumento do IPI Imagem: Agência Brasil

Da Agência Brasil, em Brasília (DF)<br>Com Redação

31/12/2013 14h20

O reajuste nas alíquotas do IPI (imposto sobre industrializados) tem sido usado como argumento para incentivar os consumidores a comprar carros antes da virada do ano. O que às vezes não é informado ao potencial cliente é que a nova alíquota, válida a partir de 1º de janeiro, é aplicada na nota fiscal da fábrica.

Por isso, veículos comprados em 2013 pelas concessionárias não pagaram IPI mais alto. Enquanto durarem os estoques, podem ser vendidos ao comprador final sem o repasse do imposto.

Esses veículos fabricados ainda em 2013 também não são obrigados a se adequar à lei que obriga a instalação de freios ABS e airbags (carros sem esses itens podem ser vendidos até março de 2014, mas a regra quanto à fabricação começa no dia 1º também).

"Estocamos 990 carros. Falta até espaço para estacioná-los. Com isso, conseguiremos manter em R$ 23 mil o preço de veículos que passarão a custar R$ 27 mil", disse Mário Celso de Araújo, gerente comercial de um grupo responsável por duas concessionárias Volkswagen em Brasília (DF). Segundo ele, a expectativa é que o estoque dure cerca de 45 dias. O grupo vende 500 automóveis por mês. Em dezembro foram registradas cerca de 600 vendas. Mas esse crescimento, disse Araújo, costuma ocorrer independentemente do aumento do IPI.

Neste ano, a estratégia de fazer estoque foi adotada porque, além do IPI, há previsão de aumento no preço de fábrica. "Estimamos aumentos entre 2,4% e 3,3% no preço final, fora o aumento de R$ 1,5 mil, decorrente da obrigação de os automóveis saírem de fábrica com airbags e freios ABS", afirmou o gerente.

Veja como fica o IPI para cada tamanho de motor (a partir de 1º de janeiro):
 
Motor flex até 1 litro -- 3% até 30/6; após, 7%
Motor flex entre 1 e 2 litros -- 9% até 30/6; após, 11%
Motor a gasolina, 1 a 2 litros -- 10% até 30/6; após, 13%
 
Utilitários -- 3% até 30/6; após, 8%
Utilitários de carga -- 3% até 30/6; após, 4%
Caminhões -- isentos

O medo desses aumentos acaba apressando consumidores como o vigilante João Lopes. "Estou procurando um carro popular porque o ônibus que uso para trabalhar é muito problemático. Há algum tempo venho juntando dinheiro para fazer a compra. Mas se o preço aumentar, não terei condições", disse.

O problema é que nem sempre os consumidores são informados de que o aumento não será tão imediato, nos casos em que há estoque. É o caso do motorista Delmo Souza Silva. "Eu não sabia que o aumento do IPI pode não ser aplicado nos carros do estoque. Nas quatro concessionárias que visitei, disseram que o preço aumentará em janeiro. Nenhuma disse que o IPI não vai incidir sobre carros estocados. Dizem apenas que se não comprar até o final do ano terei de pagar mais. Dessa forma, eles acabam perdendo nossa confiança", criticou.

DICAS DE UOL CARROS

+ Fique atento a anúncios de concessionárias que citem valores interessantes para o carro que você quer comprar (do tipo "últimas unidades sem IPI"); não hesite em levar o anúncio para mostrar ao vendedor e exigir aquelas condições
+ Atenção ao ano de fabricação e ao ano-modelo do carro: uma unidade 2013/2014 sempre valerá a pena, mesmo daqui alguns meses, se ela tiver sido faturada à revenda antes do aumento do IPI; mas evite ano-modelo 2013 (ou seja, carros 13/13), devido à desvalorização maior
Gerente de vendas de uma concessionária Nissan, Cristiano Lennon disse que, até o momento, a loja não tem sentido tanto o impacto do IPI. "Em parte por ainda termos carros no estoque, para cerca de três meses", afirmou. Segundo ele, nem todas as revendas informam que a alíquota não incide sobre veículos já adquiridos junto às fábricas.

"É claro que há vendedores que acabam usando o argumento do IPI para estimular os consumidores a fazerem a compra de imediato", admitiu Lennon. "Mas isso implica, posteriormente, em falta de credibilidade, o que não é desejado pelas concessionárias que pretendem ter a fidelidade dos clientes".

A poucos metros dali, numa concessionária Fiat, o vendedor Rogério Henrique disse que seu estoque estava com apenas 40% da capacidade. O ano, segundo ele, não foi tão bom. "Mas melhorou nas duas últimas semanas. No começo do ano, eu vendia em média três carros por semana. Agora vendo pelo menos cinco. Acho que a previsão de aumento do IPI é o que mais está favorecendo isso", afirmou.

Já o gerente de vendas de uma concessionária JAC, Mauro Silveira, contou que sua empresa trabalha "com pouco estoque" dos carros da marca chinesa, e que por isso o aumento deverá ser repassado já no dia 2 de janeiro. "As vendas foram mais sentidas apenas na última quinzena, com um aumento próximo a 20% [na saída de veículos]", avaliou. Além disso, há a previsão de um reajuste acumulado no preço de fábrica, de aproximadamente R$ 1 mil, em média, por carro. "Esse valor não inclui o IPI", informou.

ESTRATÉGIAS
Para evitar o segundo aumento do IPI, a partir de julho, o diplomata Daniel Lopes planeja comprar dois carros em março, quando voltará ao Brasil. Um para ele, outro para a mulher. Atualmente, o casal mora na Holanda. "Por mim eu nem usaria carro para ir ao trabalho. No exterior não há necessidade de usar porque o transporte público tem excelente qualidade e há infraestrutura para usarmos bicicleta. Isso não ocorre no Brasil", lamentou.

Pensamento similar tem o militar Edinaldo Araújo. "Troco de carro a cada três ou quatro anos. Não dá para usar ônibus porque temos um dos piores transportes públicos do país. Se fosse de boa qualidade eu deixaria, sem a menor dúvida, o carro em casa. Mas não dá para confiar em um ônibus que não chega e que, quando chega, te deixa na metade do caminho", disse. O militar calcula uma economia de aproximadamente R$ 2 mil, caso feche o negócio antes de o aumento do IPI e das fábricas ser repassado ao preço final.

Sem se importar com o aumento previsto, Alexis Rodrigues, funcionário da Caixa Econômica, disse considerar que a variação prevista "é pequena e pode ser diluída nas prestações", enquanto analisava os carros expostos na concessionária. "Ainda estou na dúvida se compro agora ou não. Não tenho pressa porque minha ideia é comprar até março, quando vence a garantia do meu carro atual", explicou.