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Brasil já tem "cinco estrelas" para carros, mas não para cadeirinhas

Eugênio Augusto Brito*

Do UOL, em São Paulo (SP)

27/11/2013 11h49Atualizada em 27/11/2013 17h00

O Latin NCAP (Programa de Avaliação de Carros Novos da América Latina) divulgou nesta quarta-feira (25), direto do Rio de Janeiro (RJ), resultados para cinco novos testes de impacto e segurança para carros novos vendidos no México, Caribe, América Central e do Sul, incluindo o Brasil. A boa notícia é que, pela primeira vez desde o início do projeto, em 2010, carros vendidos e/ou fabricados no Brasil obtiveram a nota máxima em segurança (cinco estrelas). A má notícia, porém, é que ter um modelo mais seguro ainda custa caro para o consumidor.

Estes novos testes serviram como complemento à chamada Fase 4 da avaliação feita pelo Latin NCAP -- iniciada em julho e que teve o vexame de Chevrolet Agile e Renault Clio (nenhuma estrela obtida).

Cadeirinhas são inseguras

  • A Proteste (Associação de Consumidores), uma das entidades brasileiras de direito do consumidor e órgão que apoia o Latin NCAP, divulgou na terça-feira (26) resultado de testes com 16 modelos de cadeirinhas infantis. A avaliação foi ruim e concluiu que os chamados SRI (sistemas de retenção infantil) vendidos por aqui são inseguros e ainda têm muito a evoluir.

    Nenhum dos 16 modelos obteve cinco estrelas (nota máxima) pelo padrão do Global NCAP. Oito modelo de bebês-conforto e oito cadeiras para crianças -- duas de 9 a 18 kg; uma de 0 a 18 kg e cinco de 9 a 36 kg -- disponíveis no mercado latino americano.

    Entre cadeirinhas para crianças de 9 a 36 kg, nenhuma obteve resultado de impacto lateral considerado bom, apenas aceitáveis. Para os testes simulando o impacto frontal, apenas os modelos Chicco Neptune e Infanti Star foram bons -- o restante, aceitáveis.

    Entre as cadeirinhas para crianças maiores, de 9 a 18 kg, destacou-se o resultado da Britax Roemer Duo Pluss TT (isofix), que não é vendida no Brasil. O Proteste afirma que o resultado foi superior ao da versão sem o sistema de fixação, mas ressalta que a configuração mais completa não é vendida no Brasil.

Desta vez, foram avaliados o sedã compacto Hyundai HB20S (quatro estrelas), o sedã grande Chevrolet Malibu de nova geração (quatro estrelas), o SUV compacto Ford Ecosport (cinco estrelas), o hatch médio Ford Focus 3 (cinco estrelas) e o sedã médio Volkswagen Jetta (cinco estrelas).

Segundo levantamento feito por UOL Carros, o comprador brasileiro precisa desembolsar pelo menos R$ 47 mil para ter algum deles. Este é o valor pedido, por exemplo, para a configuração do sedã HB20 enviado pela Hyundai para esta rodada de avaliações, a 1.6 Comfort Style (R$ 47.095). Trata-se de uma versão intermediária do modelo, que tem preço inicial de R$ 38.995 (1.0 Comfort). Vale repetir: o carro obteve quatro estrelas.

O preço é ainda maior para os carros avaliados com cinco estrelas: o EcoSport parte de R$ 55.690 (S 1.6); o mexicano Volkswagen Jetta começa em R$ 69.990 (2.0 flex 8V), com quatro airbags -- a configuração testada, com dois airbags, é aquela vendida no mexicana, onde o carro se chama Vento; e o argentino Focus hatch começa em R$ 60.990 (S 1.6).

Considerando também os modelos mais bem colocados das fases anteriores, ou seja, carros com máximo de quatro estrelas, o valor mais baixo encontrado é mais palatável: R$ 35.690 pelo compacto Toyota Etios 1.3 X. Há ainda mais dois modelos abaixo dos R$ 50 mil, Ford New Fiesta S 1.5 (R$ 39.890) e Volkswagen Polo hatch (R$ 48.110) -- considerando que não há mais importação do mexicano Nissan Tiida.

Honda City LX 1.5 (R$ 60.450), Chevrolet Cruze LT 1.8 (R$ 62.900), Renault Fluence Dynamique 2.0 manual (R$ 62.699) e Toyota Corolla 2.0 XEi (R$ 75.620) se enquadram na situação inicial por custarem mais de R$ 55 mil.

O caso do novo Malibu é peculiar, pois o carro está disponível na América do Norte, onde até já teve facelift (adiantado pelo descontentamento do consumidor), mas ainda não é vendido no Brasil -- por aqui, há carros em alguns concessionários, mas apenas para amostra. A geração anterior chegou a ter preço pouco acima dos R$ 100 mil, patamar mínimo a ser mantido para o novo modelo.

Ainda assim, pagar caro não é sinônimo de segurança máxima: o Malibu falhou em obter cinco estrelas mesmo tendo dez airbags. Segundo engenheiros do Latin NCAP, a GM cometeu duas falhas que podem até ser consideradas primárias: o carro não tem avisos de que há algum cinto de segurança desafivelado (novo critério a valer estrela no NCAP latino, mas que já é padrão em outros mercados); além disso, o sedã tem ganchos do tipo Isofix, forma mais segura de se prender cadeirinhas infantis, mas o manual recomenda que o motorista use apenas os cintos de segurança para afivelá-las, método considerado menos efetivo pela entidade.


"NÃO COMPRE ZERO ESTRELA"
Segundo o uruguaio Alejandro Furas, diretor global do NCAP e porta-voz da versão latina do programa, as montadoras latinas demonstraram "ser capazes de reagir rapidamente aos resultados mais recentes do programa de testes e fabricar carros mais seguros", mas isso não é o bastante, como também não ajuda apenas carregar em dispositivos auxiliares de segurança -- caso dos airbags.

"Os airbags são fundamentais, mas junto com os cintos de segurança. Nada disso, porém, será útil se a integridade estrutural da cabine não for sufuciente", salientou Furas. "Além de maiores danos no acidente em si, uma estrutura ruim dificulta o resgate dos ocupantes, pois demanda ferramentas mais pesadas e tempo maior de ação dos bombeiros", apontou.

O recado de Furas foi claro: a indústria local tem o que celebrar, mas ainda precisa -- e deve -- fazer carros compactos com ótimo habitáculo, bom nível de segurança e preços que caibam no bolso.

"O Latin Cap se preocupa com carros que obtiveram de zero a três estrelas, pois esses são os mais populares e são aqueles que dominam a lista de mais vendidos, aqueles comprados por quem faz financiamento. É um tema crítico e esperamos que em breve estes carros desaparecem das lojas", ressaltou o diretor do NCAP. Segundo ele, a entidade seguirá na campanha contra estes modelos e espera ter o reforço do consumidor, que deveria deixar de comprar modelos inseguros, mas principalmente dos governos de cada país, que devem fazer testes locais (o Brasil ainda estuda a regulamentação para o assunto) e assim ter condições de cobrar maior nível de segurança das fabricantes.

RESULTADO DA FASE 4 - NOVEMBRO DE 2013

  • Reprodução

Como obter 5 estrelas

+ Ter bom desempenho no teste de impacto, não impondo choques que suponham lesões fatais aos ocupantes.

+ Carros com cinco estrelas no teste de impacto para adultos deverá também ser aprovado no teste de impacto lateral seguindo a norma 95 das Nações Unidas.

+ Ter quatro canais de freios com ABS (antiblocante).

+ Ter aviso no painel de instrumentos de que o cinto de segurança está desafivelado.

UPGRADE
O leitor pode estranhar a volta de EcoSport e HB20 ao teste -- ambos haviam sido avaliados em março. As duas fabricantes, Ford e Hyundai, pediram para ter os modelos reavaliados. Curiosamente, ambos feitos no Brasil.

Pela premissa do Latin NCAP, todos os modelos testados são comprados pela entidade nas concessionárias, sem qualquer aviso e testados. Após isso, o resultado é encaminhado à montadora, que pode ou não contestá-lo, mas não impedir sua publicação. A entidade, porém, permite que montadoras indiquem outros modelos a serem testados (ou reavaliados, como neste caso), contanto que comprem o carro e o entreguem ao NCAP -- são os chamados "testes patrocinados". Mas também pede que haja um motivo, no caso do novo teste: no caso, houve acréscimo de equipamentos de segurança.

Assim, o HB20 (desta vez o sedã, mas cujo resultado também vale para o hatch e a configuração aventureira) subiu um degrau -- quatro estrelas -- com mudanças feitas após 5 de agosto de 2013, quando o modelo passou a ser fabricado com novo sistema de cinto de segurança e com melhores especificações para o uso da cadeirinha infantil.

O EcoSport também deu seu salto com a introdução do alerta de cintos desafivelados e agora é o primeiro nacional com cinco estrelas.

Médios como o novo Focus e o sedã Jetta se valem de plataformas globais (feitas em todo mundo, seguindo um único padrão) e portanto têm nível de segurança alinhado a mercados mais exigentes.

Este é o caso também do espanhol Seat León, modelo vendido apenas no México e que havia sido o primeiro a obter cinco estrelas (para adultos, quatro para crianças) do Latin NCAP, em julho. Feito por subsidiária da Volkswagen, ele se baseia na plataforma MQB, que também gera os modelos Golf 7 e Audi A3 -- estes importados da Alemanha para o Brasil e, muito provavelente, com o mesmo grau de proteção.

* Colaborou Leonardo Felix