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Renault Logan Dynamique é sedã evoluído a preço razoável

Claudio Luís de Souza

Do UOL, em São Paulo e Campinas (SP)

05/11/2013 19h18

O lançamento e a reestilização do Logan no Brasil coincidem com bons momentos da Renault quanto a vendas. A francesa rompeu a barreira dos 3% de participação no mercado nacional em 2007 (foi a 3,1%), ano da chegada da primeira geração do sedã e do hatchback Sandero, oriundos da mesma plataforma. Desde então, o Logan foi importante para a ascensão que, hoje, dá à Renault uma fatia de cerca de 6% dos emplacamentos no país. A meta é chegar a 8% em 2016 -- e o Logan de 2ª geração, apresentado esta semana pela fabricante, é crucial para isso.

Vale lembrar que Logan, Sandero e Duster são carros com passaporte da Romênia, país-sede da Dacia, fabricante de veículos que surgiu durante o regime comunista e que vem se reinventando como opção de marca low cost na Europa. Se não fosse a Dacia, aliás, a Renault estaria em maus (ou piores) lençóis em vários mercados do Velho Continente, e provavelmente também no Brasil. 

  • Murilo Góes/UOL

    Logan Dynamique é a melhor tradução do que a Renault quis: fazer outro carro, e bem melhor

Com três versões, duas opções de motor (Hi-Power flex 1.0 16 válvulas e 1.6 8 válvulas) e, por ora, apenas câmbio manual de cinco marchas, a gama do novo Logan parte de R$ 28.990 na versão Authentique e chega a R$ 42.100 na Dynamique; esta, com acréscimo de R$ 1.100, recebe o sistema Media Nav (tela tátil de 7" com navegação por GPS) e o ar-condicionado automático. Foi esse Logan de R$ 43.200 que UOL Carros experimentou nesta terça-feira (5), em trajetos urbano e rodoviário entre São Paulo e Campinas (SP).

O Dynamique é o pacote que melhor traduz a reforma visual que embelezou um dos carros mais feios e anacrônicos de nosso mercado. Itens importantes para valorizar a mudança são de série na versão: luzes de neblina, friso e moldura cromados que as envolvem, conjunto óptico com seções demarcadas com filetes.

A grade frontal inspirada na do Clio IV (e já esboçada no nosso Clio), destacando o diamante da Renault em tamanho GG, e as lanternas traseiras quadradas à la Volkswagen (especialmente Gol), que espantam qualquer traço zé-do-caixão-socialista do Logan antigo, são outros destaques na construção de uma nova imagem para o modelo.     

A mudança foi tão conspícua que o mote publicitário da Renault, que diz "Acredite, é o Logan", não poderia ser mais sincero: parece outro carro.

Mas, repetimos: grande parte do conteúdo visual e funcional que faz do novo Logan um carro interessante está apenas nesta configuração mais cara. Só por não ter a peça dianteira cromada, a versão Expression já fica devendo; e a "basicona" Authentique tem rodas de aço com calota e, pelo preço anunciado, nem sequer vem com direção hidráulica (mas inclui, como agora manda a lei, airbags frontais e freios ABS/EBD).

  • Murilo Góes/UOL

    Traseira ficou mais elegante e aposentou o feeling zé-do-caixão da geração anterior

Na cabine, a sensação é de que o Logan melhorou enormemente -- mas não nos esqueçamos o quão ruim era o anterior. Medidas simples e óbvias, como colocar os comandos em seus devidos lugares (vidros elétricos nas portas, retrovisores à esquerda do volante), parar de economizar migalhas (há duas luzes de seta no painel, uma para cada lado) e tratar a ergonomia do motorista como assunto sério (aprumando o painel frontal em vez de incliná-lo contra os ocupantes) bastaram para um upgrade notável.

Na versão Dynamique, os bancos são feitos com espuma moldada e extra-espessa, adaptável ao biotipo do ocupante e sem costuras na área de contato com o corpo; as partes internas são todas em plástico duro, com exceção do pseudo-chique piano black na parte central do painel. Apesar de ter optado por deixar parafusos aparentes aqui e ali, a Renault não permitiu grosserias como rebarbas e encaixes malfeitos.

O sistema Media NAV, como outros do mercado, tem várias funções interessantes e modo de operar que precisa ser estudado para não se tornar uma chateação. Num primeiro contato, agradou, com indicações precisas na navegação e boa qualidade de som (via USB).   

Um dos trunfos do Logan é seu espaço interno. O entre-eixos de 2,63 metros, embutido num comprimento total de 4,35 metros, é mais do que suficiente para garantir conforto longitudinal a cinco ocupantes. Um motorista de 1,85 metro sentaria atrás de si mesmo sem aperto; o 1,73 metro de largura por 1,52 m de altura permitem que três adultos viajem no banco traseiro sem grande irritação. Para comparar, o Fiat Grand Siena, considerado o grande rival do Logan, tem 4,29 m de comprimento, 2,51 de entre-eixos, 1,67 m de largura e 1,5 m de altura.

No entanto, o carro da Fiat bate o Logan no quesito porta-malas: 520 litros, contra 510 do modelo da Renault.

  • Murilo Góes/UOL

    Interior é recheado de plástico, mas acabamento é honesto e a ergonomia melhorou

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
Ao longo do test-drive realizado nesta terça-feira, o novo Logan mostrou que a evolução ante o anterior também se deu no comportamento dinâmico. Embora nem tanto quanto a Renault frisou, ele está, de fato, mais silencioso. O ruído do motor 1.6 talvez incomode os mais sensíveis, mas somente a partir de 3.500 rpm (a 120 km/h, ele trabalha a 3.250 rpm), e o atrito frontal do vento foi atenuado. O desenho menos "bicudo" da carroceria e um gasto maior com materiais de isolamento acústico estão por trás dessa melhora. Porém, em velocidades mais elevadas e em estradas abertas, o Logan se mostrou sensível a deslocamentos de ar.

EQUIPAMENTOS DYNAMIQUE

Airbag duplo, ABS, EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem), brake light, abertura interna do porta-malas e do tanque de combustível, direção hidráulica, ar-condicionado, rádio (CD, MP3, Double DIN com USB e Bluetooth), vidros elétricos dianteiros e traseiros, travas elétricas das portas, alarme perimétrico, computador de bordo, banco traseiro rebatível 1/3 e 2/3, desembaçador traseiro, retrovisores elétricos e na cor da carroceria, maçanetas na cor carroceria, coluna B com acabamento em preto, bancos com estofamento especial, rodas de 15 polegadas em liga leve, faróis de neblina, piloto automático, limitador de velocidade, luzes indicadoras de direção nos retrovisores e volante revestido em couro. Principais opcionais: Media NAV, sensor de temperatura externa, ar-condicionado automático, sensor de estacionamento.

O propulsor Hi-Power, que de "alta força" não tem nada, tem sido o pé-de-boi do grupo Renault-Nissan quando o assunto é carro compacto. Assim como o VHT da Volkswagen, ele entrega números dignos da década passada: são pífios 98 cavalos quando abastecido com gasolina (106 cv com etanol). O recente Gamma 1.6 do Hyundai HB20, por exemplo, produz 122/128 cavalos.

O torque, que determina o ânimo nas arrancadas e retomadas, é de 14,5/15,5 kgfm (gasolina/etanol). Também está abaixo do que há de melhor no mercado, mas pelo menos o pico de força é em 2.850 giros. Por isso, o Logan é relativamente esperto no trânsito urbano e, na estrada, faz a maioria das ultrapassagens em quarta marcha.

Claro, o Logan não é feito para arrancar suspiros de emoção do motorista, e sim transportar a família com segurança. E vale a pena destacar o bom trabalho feito pela Dacia na suspensão (calibrada localmente pela Renault), um dos itens incluídos nos 72% de renovação de peças e componentes da nova geração do sedã (pelos 28% restantes respondem o repeteco de motor e câmbio). O Logan negocia surpreendentemente bem as irregularidades do piso, mas não nega aderência em situações extremas; num circuito fechado, provocamos o carro em manobras bruscas, e houve mínimo sobresterço.

Daria até para acreditar que tem controle de tração e estabilidade. Mas por esses itens, num carro como o Logan, teremos de esperar sentados.

Quanto ao consumo, não há dados Inmetro para o motor 1.6 do Logan. UOL Carros obteve média de 10 km/litro, em itinerário de 130 km (cerca de 75% em estrada). Se fosse com etanol, seria razoável. Mas o tanque tinha gasolina. É um consumo ruim, outro resultado de se usar um motor obsoleto.

  • Murilo Góes/UOL

    O velho e o novo: arredondamento das formas ajudou a construir um Logan melhor

CONCLUSÃO
No geral, o novo Logan é um salto de qualidade na gama da marca francesa, refletindo o grau de exigência crescentemente maior por parte dos consumidores brasileiros. A um carro, não basta ser robusto e confiável: é preciso também oferecer conforto e imagem.

Não que o Logan agora seja maravilhoso -- mas concorrentes como Grand Siena, Nissan Versa e Chevrolet Cobalt também não são exatamente lindos. E louve-se a completude do pacote que o carro da Renault oferece por razoáveis R$ 43.200, além das facilitações ao financiamento e das três revisões iniciais a menos de R$ 1.000 (um Dacia Logan similar custa cerca de 12.100 euros na França, ou R$ 37.300). 

Falta só o câmbio automático (ou automatizado). Ficou para 2014.