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Museu da Volvo exibe até Carioca nascido na Suécia

Hairton Ponciano Voz

Colaboração para o UOL, em Gotemburgo (Suécia)

26/09/2013 18h07

Foi na mesa de um restaurante em Estocolmo, em 1924, que o engenheiro Gustav Larson e o economista Assar Gabrielsson decidiram criar uma empresa para construir automóveis, uma marca genuinamente sueca, que pudesse suportar as baixas temperaturas e as péssimas condições de piso do país naquela época.

Não passou muito tempo, e em 14 de abril de 1927 os dois estavam novamente dividindo uma mesa, mas dessa vez já na sede da fábrica, a Volvo, localizada na cidade de Gotemburgo, Suécia. A grande mesa hoje está em exposição num museu que a empresa inaugurou em 1995 para reunir o acervo da marca. São cerca de 100 veículos históricos, entre automóveis, tratores, ônibus, caminhões e até um avião de caça, equipado com turbina Volvo.

As curiosidades estão por todo canto. É o caso da mesa única para dois diretores. A razão, explica a guia do museu, era que, dessa forma, os dois podiam resolver rapidamente qualquer pendência. E o que faz aquela vassoura encostada na parede? Servia para varrer o chão, claro, mas também era o instrumento para convocar algum funcionário que estivesse no andar inferior: na ausência de telefone, os dirigentes batiam o cabo no chão para chamar alguém ao escritório!

Apesar do clima frio da Suécia na maior parte do ano, o primeiro automóvel criado pela Volvo foi um conversível, o OV4 (OV são iniciais de "open vehicle", veículo aberto, em inglês), para quatro pessoas. A razão de se fazer um conversível estava no fato de que, desde o início, a empresa almejava as exportações e mirava mercados como o dos Estados Unidos.

Outra curiosidade da marca é que, embora a iniciativa tenha sido da dupla Larson e Gabrielsson, inicialmente a empresa nasceu como parte da SKF, fabricante sueca de rolamentos, onde o segundo ocupava o cargo de gerente de vendas. O nome Volvo significa "eu rodo", em latim (verbo volvere), uma menção ao movimento giratório do rolamento.

  • Anders Wejrot/Divulgação

    P1800 (1961-1973) ficou famoso por ser o carro da série de TV "O Santo", com Roger Moore

Além da fabricação do OV4 (também conhecido pelo apelido Jakob), logo no início das operações a empresa deixou clara sua vocação para a construção também de ônibus e caminhões. A ideia inicial era fazer veículos robustos. Isso explica o símbolo que os modelos trazem até hoje na grade, uma referência ao elemento químico ferro -- e não ao sexo masculino. O primeiro caminhão, conhecido como Série 1, foi lançado em janeiro de 1928. O primeiro ônibus, B1, apareceu em 1934.

CARIOCA
Graças a esse olhar desbravador, típico dos povos escandinavos, a Volvo lançou em 1935 o PV36, conhecido como Carioca (nome de uma dança que estava na moda naquela época). Foi considerado um automóvel avançado para a época, graças à carroceria aerodinâmica, mais arredondada que os demais modelos da marca. Entre as novidades, os (então) arrojados faróis embutidos na carroceria.

Tinha suspensão dianteira independente, motor 3.7 de seis cilindros em linha e 80 cv, além de câmbio de três marchas com alavanca no assoalho. Era tido como silencioso, suave e luxuoso, mas de concepção levemente controversa, motivo pelo qual apenas 500 unidades foram produzidas (algumas delas enviadas ao Brasil). Nos anos seguintes a Volvo voltou a adotar os faróis destacados da lataria.

O primeiro modelo de grande volume de vendas da marca, o PV444, nasceu em 1944. Era um sedã compacto e austero, de linhas convencionais, produzido durante a Segunda Guerra Mundial, e trazia como novidade o parabrisa laminado, para maior proteção em caso de acidentes.

  • Anders Wejrot/Divulgação

    Estátua de vidro do artista plástico Gudmar Olovson retrata a fragilidade do ser humano para celebrar os 50 anos do cinto de segurança, inventado pela Volvo

Também no quesito funcionalidade o museu exibe dois modelos de táxi, um dos anos 1940, e um protótipo de táxi para Nova York. O primeiro tem teto elevado, para permitir que os usuários fizessem a viagem sem necessidade de tirar o chapéu, acessório muito comum naquela época na Europa. O segundo, um yellow cab nova-iorquino com bastante espaço interno e porta larga, para aumentar o conforto dos ocupantes.

O SANTO
Um dos maiores destaques do museu é o P1800, cupê lançado em 1961, e que ganhou notoriedade na TV por ser o carro do ator britânico Roger Moore na série "O Santo". O modelo foi produzido por 12 anos, inicialmente na Inglaterra (1961 e 1962), pela Jensen Motors, e a partir daí na Suécia, até 1973. Era caracterizado pelas linhas esportivas, e nasceu com motor 1.8 (daí o nome 1800), de 100 cavalos. Embora o cupê seja o mais famoso da linha P1800, o modelo ganhou também versão perua e até um protótipo com a traseira toda de vidro, o 1800ES. O modelo, considerado muito futurista, chegou a ser comparado a um foguete, e também está exposto no museu.

O raro P1900 ocupa outro lugar de destaque no acervo. O roadster lançado em 1954 tinha chassi tubular e foi o único modelo da Volvo com carroceria de fibra de vidro. O interior de dois lugares era revestido de couro. Tinha motor 1.4 de 70 cv, e alcançava 170 km/h. Era considerado caro para os padrões da época, tanto que a produção foi encerrada três anos depois, após meras 67 unidades.

CINTO DE SEGURANÇA
A área de competições do museu, que reúne carros de rali e de pista, expõe a perua 850 que disputou o campeonato de turismo (prova com carros de passeio) britânico em 1994. A perua não obteve nenhum resultado expressivo na temporada, mas atraiu a atenção da mídia por ser um carro diferente no meio dos sedãs que tradicionalmente competem na categoria.

Uma alteração no regulamento proibiu a participação de peruas na temporada seguinte. A versão sedã do 850 também não poderia deixar de estar exposta. Afinal, foi o projeto mais caro da marca, e um dos maiores sucessos da Volvo.

O cinto de segurança, uma das invenções da Volvo para a proteção dos ocupantes, merece destaque no museu. A criação, de 1959, é lembrada junto a uma escultura de vidro, representando um ser humano. Ao explicar por que escolheu esse material para fazer seu trabalho, o artista sueco Gudmar Olovson disse que era porque “o ser humano é muito frágil”.

Serviço: Museu Volvo

Onde:Arendals Skans, 418 78 - Gotemburgo (Suécia)
Horários:11h-16h (segunda a sexta) e 10h-17h (sábado e domingo). Exceto feriados suecos.
Site:www.volvomuseum.com
Atrações:Cerca de 100 veículos históricos, entre automóveis, tratores, ônibus, caminhões, protótipos e modelos de competição

Viagem a convite da Geely