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Volvo e Geely buscam o que sueco e chinês têm em comum

Hairton Ponciano Voz

Colaboração para o UOL, em Gotemburgo (Suécia)

13/09/2013 18h25

O nome do jogo automotivo é redução de custos com ganho de escala. E, para ganhar, os concorrentes devem produzir automóveis que compartilhem o máximo de componentes, mas sem perder suas identidades. Volkswagen e Audi já fizeram isso no passado, com resultados satisfatórios. Mas é possível aplicar os mesmo conceitos a uma marca premium europeia (Volvo) e uma empresa da China, que produz carros há menos de 15 anos e é praticamente desconhecida fora de seu país?

Os diretores da CEVT, sigla de China Euro Vehicle Technology, garantem que sim.

A CEVT foi inaugurada oficialmente às 10h desta sexta-feira (13), repetindo a hora da fundação da Volvo, que nasceu na manhã de 14 de abril de 1927. E talvez justamente uma sexta 13 seja o dia da sorte da sueca, que vem amargando prejuízos operacionais e está com parte de sua linha desatualizada.

  • Hairton Ponciano Voz/UOL

    Executivos de Volvo e Geely descerram placa que inaugura a CEVT, em Gotemburgo

A nova empresa funciona num moderno edifício em Gotemburgo, na Suécia, numa região dominada por empresas de tecnologia e universidades. O objetivo é criar um centro de desenvolvimento de arquiteturas que sirvam a vários veículos de ambas marcas. Inicialmente, a CEVT vai trabalhar no segmento C (médios), de grande volume de vendas -- plataforma que servirá tanto ao sucessor do Volvo V40 (produto mais recente da marca sueca, lançado este ano no Brasil) quanto ao futuro EC7, sedã da Geely cujas vendas no país devem começar em novembro (a importação fica por conta do grupo de José Luiz Gandini, da Kia; leia em quadro nesta página).

Os executivos da nova joint-venture dizem que a ideia é ganhar volume com sistemas compartilhados. Assim, a Volvo (que vendeu cerca de 420 mil unidades em todo o mundo no ano passado e vem amargando prejuízos) se beneficiaria de uma marca forte na Ásia, para aumento de vendas na região. Outra vantagem é que ela passaria a ter acesso a fornecedores de autopeças produzidas na China, a preços mais competitivos. A Geely, que em 2010 comprou a Volvo da Ford, ganha com o know-how da empresa sueca no campo de tecnologia e segurança.

MAIS UMA CHINESA

As vendas da Geely no Brasil estão previstas para começar em novembro. O primeiro modelo deverá ser o EC7, ainda sem preço definido. De acordo com Ivan Fonseca e Silva, presidente da Geely Motors do Brasil, o sedã terá preço "competitivo" dentro da categoria.
O segundo modelo, o compacto GC2, está previsto para o primeiro semestre do ano que vem. Na sequência, poderá vir o SUV GX7.
Inicialmente, os carros devem vir importados do Uruguai, onde a Geely mantém uma pequena linha de produção nas mesmas instalações onde é montado o Kia Bongo. A rede de concessionárias começa com apenas 17 lojas, e a previsão é de vender cerca de 10 mil unidades no ano que vem e dobrar para 20 mil em 2015. A garantia será de três anos.
Embora o início seja modesto, futuramente há intenção de produção local. Ainda não há prazo definido, mas Fonseca diz que a intenção é montar uma fábrica com capital composto por 60% de participação dos chineses e 40% do grupo Gandini, que representa a marca no país.

Além da cooperação entre os times de engenharia da China e da Suécia, há outras vantagens: como os itens tendem a ser os mesmos, as compras das duas marcas deverão ser feitas em conjunto, aumentando o poder de negociação. A CEVT igualmente economizará nos gastos com ferramental, e passa a ter maior controle sobre os projetos, já que pode assumir tarefas antes feitas por terceiros na etapa de desenvolvimento. Como foi enfatizado mais de uma vez durante a apresentação, é um jogo de "ganha-ganha".

Mats Fägerhag, CEO da nova empresa, afirma que o ganho de escala com o desenvolvimento conjunto permitirá a queda nos custos. Assim, uma mesma arquitetura (plataforma) flexível permitirá intercâmbio não apenas entre as duas marcas, mas também com os diferentes usos que cada uma poderá fazer: mudanças na suspensão, sistema de freios, alteração no comprimento do veículo etc.

Ainda que a distância entre-eixos seja mantida, a distância entre as rodas e o para-choque, por exemplo, pode variar, de acordo com o estilo ou proposta do automóvel. "O tamanho do tanque de combustível pode ser diferente, mas talvez o bocal de abastecimento possa ser o mesmo", exemplifica Fägerhag. Raciocínio semelhante pode ser estendido aos pontos de fixação dos bancos e à arquitetura elétrica.

Volvo e Geely têm compradores de segmentos diferentes. Portanto, provavelmente a marca sueca continuará tendo mais tecnologia e recursos, mas seus modelos e os da Geely poderão utilizar o mesmo bloco de motor, por exemplo. A partir daí, cada um desenvolveria o trem-de-força para seus públicos específicos. Da mesma forma, um sistema de ar-condicionado comum pode servir à Geely (com saída de ar apenas no painel, por exemplo) e também para a Volvo (com saídas independentes na dianteira e na traseira).

RG PRESERVADO
Para os diretores da empresa, não há risco de perda de identidade. Os Volvos serão "mais Volvos do que nunca", e os Geelys, "mais Geelys do que nunca". Peter Horbury, diretor de design da Geely, garante que a sinergia não gerará clones entre as duas marcas, afirmando que cada marca tem seu perfil de clientes. Reforçando: "Volvo continuará sendo Volvo, só que melhor, e o mesmo servirá para a Geely".

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    Geely KC, conceito que, segundo designer, sinaliza futuro de identidade própria da Geely

A jogada é comunizar o que não está à vista, e particularizar o que o comprador vê e pode tocar. De acordo com Horbury, as linhas do carro-conceito KC, apresentado no Salão de Frankfurt (antes, em Xangai), sinalizam o design dos futuros produtos da Geely. "Não vamos copiar estilo americano ou linhas europeias", diz. "O estilo chinês é muito rico, e vamos imprimir isso nos carros".

Embora oficialmente a inauguração da joint-venture seja nesta sexta, o escritório já está funcionando, inicialmente com cerca de 50 funcionários, a maioria da área de engenharia. Até meados do ano que vem, o CEVT deverá contar com cerca de 200 pessoas, das quais aproximadamente 50 chineses.

A história da Geely é muito recente. A empresa começou suas atividades em 1986, como fornecedora de peças para geladeiras (daí o nome). O primeiro carro foi lançado somente 11 anos depois, em 1997. Atualmente, a empresa produz na China 500 mil unidades por ano. Além da Volvo Cars, a Zhejiang Geely Holding Group é dona também da Manganese Bronze, fabricante dos tradicionais táxis londrinos.

NADA A VER, MAS TUDO A VER

  • AP

    Volvo V40 (acima), mais recente lançamento da marca sueca, e Geely EC7 (abaixo), um dos modelos chineses que vêm ao Brasil: o futuro desses médios têm muito em comum

  • Divulgação


Viagem a convite da Geely