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Infiniti Q30 Concept usa herança cubana contra alemães de luxo

Eugênio Augusto Brito<br>Murilo Góes

Do UOL, em Frankfurt (Alemanha)

11/09/2013 00h28

O segmento de compactos (médios para o mercado brasileiro) é a nova obsessão global das marcas de luxo. A explicação está na enfraquecida economia dos mercados desenvolvidos, que praticamente iguala seus consumidores àqueles de países emergentes. Assim, novas opções para fisgar europeus e americanos acabam servindo como sonho de consumo de brasileiros, chineses e russos. Os alemães de BMW, Mercedes e Audi perceberam isso antes, mas ingleses, franceses e asiáticos (coreanos e, sobretudo) japoneses também entraram no jogo.

Neste curiosa geopolítica automotiva, a americana Infiniti (grife da japonesa Nissan para conquistar público nos Estados Unidos e, depois, na Europa e resto do mundo) apelou a influências latinas na mais recente investida contra carros germânicos. O estilo é cubano, para ser mais preciso, e é representado pelo hatchback conceitual Q30, apresentado na terça-feira (10) no Salão de Frankfurt.

Contra traços aeronáuticos e arrojo retilíneo, o Q30 aposta em fortes curvaturas, formas densas, estilo parrudo. Tudo invenção de Alfonso Albaisa, diretor de design da marca. Filho de cubanos, nascido em Miami, criado profissionalmente em Nova York, com diversas viagens ao Brasil e agora estabelecido em Tóquio, o criador define o hatch como um produto "passional".

  • Murilo Góes/UOL

    Ainda um conceito, o Q30 será de produção para encarar Mercedes Classe A e BMW Série 1

"Quando uma marca quer ser sedutora, uma boa saída pode ser pensar no estilo latino-americano", afirmou Albaisa em entrevista a UOL Carros. Citando animais como guepardos e gatos-selvagens, o designer da Infiniti faz questão de ressaltar um quê de artesanato de definição das linhas "orgânicas" do modelo, que tem capô alto como um dos crossovers monstruosos da marca, mas de repente se acalma na linha de teto como se fosse alemão.

"É algo muito latino, mas também é limpo, preciso. Linhas de ombro e cintura tem caimentos complementares, que quebram a força que levaria ao traço típico de um crossover. Isso é algo que não existe no segmento", provocou o designer, para depois deixar no ar o objetivo do modelo, que pode gerar não apenas um dois-volumes, mas toda uma família compacta, com um SUVinho e um cupê-sedã.

Inspirado pelo pai arquiteto, Albaisa afirma ter começado a desenhar logo cedo. Mas apenas barcos, balsas e botes de madeira, constantes da visão de sua infância. A paixão por carros, porém, surgiu da observação de um modelo esportivo americano, aos 8 anos. É peculiar que o Q30 tenha algo dos exageros de modelos americanos dos anos 1950 e 1960, ainda sobreviventes nas ruas de cidades de Cuba.

É DIFERENTE
No estande, as expressões se dividiram entre sorrisos e olhares torcidos. A reportagem flagrou um executivo de uma marca alemã observando o novo rival. Questionado por UOL Carros, se limitou a dizer que achou as proporções um tanto forçadas. Como visto, é algo proposital, já que os racionais Mercedes Classe A, BMW Série 1 e Audi A3 são rivais nomeados e provocados a todo instante.

Usando a força do patrocínio à equipe Red Bull de Fórmula 1, a Infiniti chega a usar o piloto Sebastian Vettel, num autêntico caso de agente "vira-casaca". Presente ao estande durante a revelação do carro, o alemão afirmou ter estado envolvido no desenvolvimento do Q30 desde o começo, opinando no design interior, posição de direção e também com opiniões típicas de um consumidor.

Também da F-1 vieram o uso extensivo de fibra de carbono e as rodas grandes coloridas de violeta como os bólidos da Red Bull. Nada foi dito sobre motorização, ainda que Albaisa se diga favorável ao uso de motores menores, abaixo de 1,6 litro, com turbo e injeção direta, como fazem as rivais. De toda forma, a Infiniti não esconde que espera ter o Q30 definitivo e sua latinidade nas ruas em 2015.