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Range Rover Sport 2014 transforma qualquer "braço" em piloto

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em Cheltenham (Reino Unido)

31/07/2013 07h00

Sempre foi curioso tentar definir o Range Rover Sport, criado em 2005 como derivação esportiva (como o próprio sobrenome aponta) do SUV mais equipado e luxuoso da Land Rover. Seria um tijolo com pretensões de Fórmula 1? O ápice da estranheza se deu em 2010, quando o vídeo de divulgação do modelo reestilizado colocou duas unidades (uma do então lançamento, outra do modelo 2009) competindo entre si numa prova de arrancada.

Quem ama carros se deliciou com o poderio do motorzão V8 de 510 cavalos, capaz de arremessar um monstro de 2,5 toneladas aos 100 km/h em menos de 6 segundos (quem não lembra pode rever o vídeo mais abaixo). Quem não é fã, porém, pode apenas pensar: "Qual a graça em ver um 'tanque de guerra' andar assim tão rápido"? E ir além: "Quem consegue fazer isso? Cadê a segurança?" Atualmente, parece que estas últimas perguntas fazem mais sentido que qualquer exclamação automotiva...

Com isso em mente, UOL Carros participou no dia 11 de julho, no Reino Unido, dos primeiros testes para a imprensa especializada global com o novo Range Rover Sport, que chega agora ao mercado europeu como modelo 2014. Por aqui, tudo certo: os preços começam em 51.550 libras -- equivalentes a cerca de R$ 180 mil, deixando o novo Sport cerca de 1,5 vez mais caro que o Evoque (29.200 libras, quase R$ 102 mil limpos) e a um degrau de proporções semelhantes do Range Rover (71.310 libras ou quase R$ 250 mil).

Para o Brasil, a conta é sempre mais complicada. Nosso mercado receberá o novo SUV em data ainda incerta: o prazo estende-se entre o final deste ano (qualquer coisa a partir de setembro) e o começo de 2014. Também não há preços definidos, ainda que o patamar atual deva ser mantido. O Sport atual varia entre R$ 430 mil e quase R$ 500 mil, dependendo do estilo de acabamento e motorização. Fica bem acima do Evoque (parte de R$ 176.500 e esbarra nos R$ 250 mil); e está um pouco abaixo do novo Range Rover (entre R$ 440 mil e R$ 600 mil).

NA MÃO
Fato é que, apesar do novo vídeo de divulgação colocar um avião-caça Spitfire da 2ª Guerra Mundial contra o modelo 2014 do SUV (adivinhe quem vence?), os executivos da Land Rover são taxativos ao apontar que a principal característica do novo Sport é sua facilidade de condução.

"Usamos a mesma base e mesmo trem-de-força, mas com mudanças significativas, que deixam o novo carro mais competitivo, mais dinâmico e ao mesmo tempo mais controlável", explicou o gerente de engenharia da marca, Lyn Owen. "O antigo era mais raivoso, o novo é totalmente controlável", resumiu. "Voltamos até a usar a alavanca de câmbio convencional, mais intuitiva que o seletor giratório", arrematou. 

Esta lógica responde a pergunta do início desta reportagem: o fato do novo Range Rover Sport topo de gama, equipado com o mesmo motor 5.0 V8 a gasolina com sobrealimentação por compressor (Supercharged) e 510 cavalos e câmbio automático de oito marchas (já "comum" no segmento de luxo), poder chegar aos 100 km/h ainda mais rápido (5,3 s) pode até ser um argumento de compra. Mas quem quer acelerar forte leva um cupê esportivo, não um SUV. Nem a capacidade para superar o fora-de-estrada é preponderante, já que quem quer realmente sujar o pé de barro acaba escolhendo um modelo menor e mais simples. O importante aqui é facilitar a vida do motorista e fazê-lo sentir-se mais habilidoso.

A história toda se encaixou na escala final do nosso roteiro, uma pista de teste montada dentro de uma base aérea, com direito a simulação de obstáculos off-road dentro de um avião Airbus. A lição: no trajeto da vida real, importa mais sobreviver a vagas e manobras dentro do apertado estacionamento do shopping (ou do aeroporto). Quem compra um utilitário inglês como este quer ser mimado, não quer suar enquanto dirige: conforto para viajar e chegar rápido, espaço de sobra para as compras e muita sensação de segurança no trajeto entre casa, escritório e a sede da fazenda são essenciais. Poder acelerar muito é só um detalhe.

E ESSA CARA?
Apesar da área envidraçada ter sido ampliada, seu formato acabou afinado, ao passo em que a linha de teto passa a ter um leve caimento em direção à traseira -- o "toque de cupê" tirado do Evoque. Frente e capô estão mais amplos e altos, ainda que suas formas tenham sido suavizadas. Com isso, foi menos traumático aplicar o novo conjunto óptico, também  com a assinatura Evoque, ao Sport: os faróis com duplo canhão de xênon e dupla elipse de LEDs não "sobram" e ainda combinam com formato de turbina das novas lanternas. Tudo encaixa bem, sem ficar com o aspecto de tuning do Range Rover, grandalhão demais para faróis e lanternas tão esguios (releia aqui nossas impressões de novembro de 2012 sobre o SUV de luxo).

"Em relação ao antigo Sport, temos melhorias de espaço e ambiente na cabine, sobretudo para quem viaja atrás. Ampliamos a abertura das portas traseiras, o conforto dos bancos, ampliamos a área envidraçada e melhoramos o sistema de entretenimento", enumerou Owen.

Embarcado no Sport, nem é tão fácil assim perceber alterações qualitativas: o nível de acabamento segue altíssimo e será mais fácil notá-lo através do toque sobre o revestimento de couro bicolor e metal (dependendo da versão) de bancos, volante, painéis e teto do que tentar enxergá-lo. Há um latifúndio de área livre, sem plaquetas, reentrâncias ou botões visíveis -- tudo tão clean, que até os 23 alto-falantes do sistema de som premium parecem camuflados e só "surgem" quando os 1700 W de potência e som com efeito 3D invadem os ouvidos

Esta sensação de "vazio luxuoso" vem da cabine mais espaçosa, graças à redução das extremidades e ampliação do entre-eixos: o comprimento total é de 4,85 metros (14 centímetros mais curto que o novo Range Rover, mas 7 centímetros maior que o Sport atual) com entre-eixos de 2,92 m (18 centímetros extras). Apesar disso, o modelo pesa até 420 quilos a menos (dependendo da versão) pelo uso de elementos mais leves e robustos -- alumínio no lugar do aço para a carroceria, suspensões mais eficientes. Assim, o novo Sport carregado (na Europa, há configurações para sete pessoas -- cinco adultos e duas crianças) pesaria o mesmo que o Sport anterior vazio.

É bom ressaltar, em termos de motorização, o Brasil verá novidades: além do 5.0 V8 (510 cavalos), chegará também o novo 3.0 V6 Supercharged a gasolina (340 cv); além deles, haverá o 4.4 SDV8 a diesel (339 cv). O câmbio é sempre automático de oito marchas, da ZF, com opção de trocas manuais na alavanca ou por borboletas no volante. Outras duas variantes a diesel estão disponíveis para a Europa e outros mercados, enquanto uma versão híbrida deverá ser mostrada em breve.

+ Clique e baixe a ficha técnica do Range Rover Sport 2014

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
Vamos continuar reclamando da qualidade deplorável do asfalto brasileiro, mas guiar um bloco de 1,98 m de largura montado sobre rodas esportivas com aro entre 19 e 21 polegadas a 110 km/h em estradas de pistas simples, tráfego intenso e com mão de direção "invertida", como fizemos no percurso de 400 quilômetros percorrendo montanhas e curvas sinuosas entre Inglaterra e País de Gales, também é tarefa inglória.

Só que tudo terminou bem, aqui, como provavelmente terminará bem para quem o guiar no Brasil. Tudo graças ao grande aliado do motorista endinheirado dos dias atuais: a eletrônica que salva vidas também transforma a todos em "super pilotos". Você conhece praticamente todos os recursos, ao menos na teoria, e todos estão aplicados de alguma forma ao conjunto do novo Sport -- ainda que por, questões mercadológicas, nem todos cheguem ao nosso país. 

Acontece que, neste caso, não estamos falando só de segurança, mas de tranquilidade -- algo do qual já tratamos após guiar o novo Mercedes-Benz Classe S e que se tornará cada vez mais comum (releia nossas impressões sobre o carro que um dia ainda vai se guiar sozinho).

Qualquer motorista experiente e/ou bem-treinado vai saber segurar o carro em momentos de dificuldade ou deixá-lo solto para curtir a aventura na lama. Mas e o motorista comum, que só quer ir do ponto A ao ponto B em paz? Freios com ABS (antiblocante, que neste caso pode ser complementado com potentes pinças Brembo), controles de tração e de estabilidade têm não apenas a função de evitar um acidente, mas de tornar a tarefa de conduzir um carro tão grande e volumoso em algo prático como guiar um hatch médio.

O volante com assistência elétrica é bastante preciso, mas seu uso pode ser suave mesmo com o modo Sport selecionado. A Land Rover falou muito -- e com certeza os vendedores irão repetir o discurso -- sobre o novo "controle vetorial" (chamado de controle de frenagem em curvas por marcas alemãs) e mescla o funcionamento do diferencial eletrônico traseiro e dos sistemas de freios e de tração (tudo de forma automática) para evitar que o motorista perca o controle numa curva contornada com velocidade ou movimento de volante excessivos. 

  • Divulgação

    Motorista tem de ser bom de braço para atravessar alagados? Range Rover Sport facilita ação com leitura de sensores que indicam na tela profundidade do trecho e limite possivel

  • Divulgação

E que tal usar o sistema de câmeras (que monitoram não só a traseira, mas todo o entorno do carro) e sensores para facilitar não só manobras de estacionamento, mas também de deslocamento? Assim, acaba o perigo com motociclistas no ponto cego, de carros cruzando por trás da carroceria sem serem enxergados pelo motorista ou de, simplesmente, ralar a lateral em vias muito estreitas.

O mesmo vale para trilhas enlameadas ou alagadas. Qualquer piloto astuto pode se valer da experiência para saber em que posição estão as rodas, mas a eletrônica agora ajuda a todos mostrando isso em tempo real na tela. Basta acelerar, frear ou  nem isso: auxílios de ladeira e rampa podem controlar a intensidade de aceleração e frenagem e o motorista sequer precisa usar os pedais. O novo Sport pode ainda atravessar trechos submersos de até 85 centímetros de profundidade, mas quem não souber calcular esse "palmo de água" no olho poderá recorrer ao sonar que indica com imagens na tela do computador de bordo e sinais sonoros o tamanho do buraco onde se está. Fácil, não?

Velocidade de placas, aceleração do tráfego à frente, limite da faixa lateral -- tudo isso também pode monitorado.

A eletrônica garante até a diversão de quem achou tudo facilitado demais até aqui. Quem só busca o rugido visceral de um motor V8 ficará contente em saber que o novo Sport topo de linha tem escape modificado para soar tão borbulhante quanto o esportivo Jaguar F-Type a cada pisada no acelerador. Realmente, pode ser estranho e assustador para alguns. Mas é um mundo novo e divertido quando visto de dentro.

Viagem a convite da Land Rover