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Audi RS4, perua da mamãe furiosa, chega por R$ 438.700

  • Eugênio Augusto Brito/UOL

    RS4 Avant cobra R$ 973 por cavalo e fica a pergunta: perua esportiva serve pra quê?

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

08/05/2013 16h27

Mamãe descolada, atenção: a Audi do Brasil anuncia a chegada da perua Audi RS4 Avant, variante esportiva da station wagon baseada no sedã A4, por R$ 438.700. Equipada com motorzão V8 de 4,2 litros, tem desempenho nutrido injeção direta de gasolina, mimo suficiente para gerar até 450 cavalos de potência com saudável torque de 43,9 kgfm em um motor naturalmente aspirado.

Com tamanha força, uma dose de carinho com o asfalto é necessário e as rodas abraçam a pista com força graças à tração integral quattro. A velocidade máxima é travada eletronicamente em 250 km/h, para seu próprio bem, mas a aceleração foi liberada e com fôlego maior que o da antecessora, a nova RS4 cumpre o 0 a 100 km/h em 4,7 segundos.

No embrulho especial para o Brasil, estão itens como ar-condicionado automático, tampa do porta-malas com acionamento elétrico, sistema de abertura/travamento das portas e partida do motor sem chave, teto solar panorâmico elétrico, sensores de luminosidade e chuva, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro com alertas sonoro e gráfico, sistema de som multimídia MMI com Audi Music Interface (conexão para USB/iPod e cartões SD, CD e DVD) e falantes e amplificadores premium da Bang & Olufsen, ancoragem Bluetooth para celulares e navegação por GPS.

Só que estamos falando de um modelo esportivo e tanto conforto parece deslocado dentro da descrição do carro. Assim, é preciso dizer que bancos estilo concha, que suportam bem os corpos de uma família inteira (de quatro pessoas), mas são duros como madeira, volante de base chata, alavanca seletora de câmbio com estilo exclusivo, revestimento escuro com apliques de aço escovado e fibra de carbono completam o pacote. A cara malvada do exterior vem do design exclusivo para o LED de faróis e lanternas, grade frontal em colmeia, para-choques frontais e traseiros, escapes ovais gigantes encravados no difusor escurecido, além de soleiras iluminadas e rodas aro 19 (aro 20 como opcionais) com os aguardados logos RS.

Quem insistir em procurar predicados familiares na perua vai poder acomodar as compras nos 490 litros do porta-malas, que podem ser ampliado a 1.430 l com o rebatimento do banco. Difícil mesmo será refrear a vontade de sair do estacionamento do supermercado queimando borracha com o sistema launch control.

O QUE ELA PODE FAZER
Toda RS4 Avant é fabricada na unidade húngara da Audi em Gyor. Assim, para ficar o mais perto da casa da mamãe da perua, UOL Carros guiou uma unidade pelo sul da Alemanha e por cidades próximas aos Alpes austríacos. A parte mais fácil da tarefa foi ficar empolgado com a esportividade latente do modelo; a mais difícil, porém, foi encontrar uma utilidade para o carro no dia-a-dia brasileiro. 

Talvez a Europa tenha espaço para esportivos em forma de station wagon com preço de etiqueta em 200 mil euros, sobretudo na Alemanha, onde a perua não é uma espécie do asfalto em extinção e seu público não fica restrito a mamães trazendo crianças de volta do colégio após uma passagem pelo shopping center. Quem for favorável a este uso não vai ficar "na mão": tirando o esforço para se entrar numa cabine muito próxima do solo e a rigidez dos bancos esportivos dianteiros (os traseiros são bastante suaves), a RS4 Avant oferece o conforto esperado de um carro premium, incluindo aí a interação com muitos dispositivos de entretenimento e um rodar suave e econômico.    

Nas rodovias amplas do continente, porém, é possível aproveitar um lado mais instigante desta perua. Com dois toques no botão, o sistema Drive Select finalmente faz sentido (esqueça aquela mudança quase abstrata do sedã A4): saindo do modo "Auto" e ignorando o modo "Comfort", chegamos logo ao "Sport", que muda o aproveitamento do torque, o esterçamento da direção, o ronco emitido pela dupla de escapes ovais e o curso da suspensão a ponto de fazer com que até mesmo o irrepreensível piso alemão pareça fazer parte do terreno lunar. A velocidade final de 250 km/h parece restritiva demais, uma vez que o mundo passa lento e previsível pela janela e cada comando feito ao volante e nos pedais é prontamente respondido. No fim das contas, 270 quilômetros de estrada se assemelham a uma corrida e o consumo de 7 km/l se mostram nada comedidos (a fábrica promete um consumo melhor, de 9 km/l).

É este modo mais empolgante o utilizado por jovens em suas aventuras de final de semana rumo aos autódromos locais ou às praias da Croácia, com bagageiro cheio de bugigangas e carretilhas acopladas para transportar karts ou lanchinhas. Há ainda quem prefira redicalizar de vez e colocar duas dela num galpão para brincar de paintball tamanho família, como fez a Audi inglesa no vídeo que UOL Carros faz questão de reproduzir.

E é justamente este lado aventureiro que dificilmente será aproveitado no Brasil, onde toda perua evoca um lado familiar que acaba sendo cada vez mais preenchido por enormes SUVs e crossovers. Só nos resta deixar a pergunta ecoando no ar: para que serve mesmo uma perua esportiva por aqui?