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JAC J3 Sport esconde motor flex, quando deveria escancará-lo

Maquiagem esconde um J3 mais caro, a R$ 37.490, mas que anda melhor e escolhe o combustível - Murilo Góes/UOL
Maquiagem esconde um J3 mais caro, a R$ 37.490, mas que anda melhor e escolhe o combustível Imagem: Murilo Góes/UOL

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

03/04/2013 08h00

Ano novo, roupa nova. Depois do massacre de 2012 -- quando as importadoras foram apertadas até não poder mais pelo IPI elevado determinado pelo governo, chegando a perder mais da metade das vendas previstas -- a única saída foi recomeçar. A JAC refez seu planejamento (saiba mais sobre a estratégia aqui) e partiu para o ataque em 2013, primeiro com o pequeno J2 (já avaliado por UOL Carros) e, desde março, com o J3 Sport.

O forte do J3 Sport está na nova motorização, mas não estamos falando da potência extra. Aliás, quem vai a uma concessionária fissurado para voltar de lá guiando um esportivo chinês? Lembre-se: desde o começo a JAC cravou sua estratégia em pacotes que apelavam para a calculadora que cada consumidor de modelos populares tem sempre por perto -- pacote "completão", preço campeão, racionalidade em alta. E isso não muda agora. Ou não deveria.

Enquanto o marketing da JAC tenta atrair o comprador com uma versão esportiva, os vendedores certamente vão seduzir o comprador com algo que ele, de fato, já está cansado de conhecer: o motor flex. Mas tudo bem, este é o primeiro modelo com motor bicombustível da marca chinesa. Com 1,5 litro e variação do tempo de abertura das válvulas, é derivado daquele usado no sedã médio J5 e tem desenvolvimento feito pela Delphi, que eliminou o tanquinho de gasolina de auxílio no arranque em temperaturas baixas (finalmente em vias de extinção por algumas marcas). Chamado de Jet Flex, gera 127 cavalos de potência máxima (a altos 6.000 giros) e torque de 15,7 kgfm (a 4.000 rotações), com etanol no tanque de 48 litros. Curiosamente, a taxa de compressão segue a mesma do motor que consome apenas gasolina: 10:1.

Longe de ser cobaia, o J3 Sport deve ser pioneiro: quando mostrou o carro no Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro de 2012, a JAC havia dito que esta seria a primeira aplicação do Jet Flex, que deve se alastrar pela linha ao longo do tempo.

Será também a versão topo da gama J3 no Brasil, com preço de R$ 37.490. Ao menos por enquanto, o J3 só a gasolina, com motor de 1,3 litro que a JAC diz ser de 1,4 l, segue à venda por R$ 34.990. Ao pacote "completão", somam-se as firulas esportivantes: faróis com máscara negra, grade frontal com frisos pretos, faixas laterais adesivas, spoiler de teto e rodas de alumínio com desenho diferente (mas de 15 polegadas como no J3 padrão), além de mudanças no acabamento interno, como a bela e útil iluminação vermelha do painel e pedaleiras de aço inox. Há um opcional: o couro de revestimento dos bancos.

VALE SER BI?
No caso do J3 Sport, vale a pena, sim. De fato, méritos do motor maior -- o fato de ser flex, como dissemos, será melhor aproveitado no momento de compra/venda, quando o fator "psicológico" ganha força. UOL Carros testou o modelo por uma semana e percorreu mais de 500 quilômetros em viagens ao litoral (com trechos de serra e neblina), ao interior (com chances de esticadas) e períodos no trânsito carregado (e quase imobilizado) da cidade de São Paulo.

Em todos os cenários, o J3 se mostrou um carro mais vivo na versão Sport. Não há mistério. Enquanto o carro é praticamente o mesmo, o motor "cresceu", diminuindo a tal da proporção peso/potência. No J3 padrão, são 1.060 quilos sendo puxados pelo motor de 108 cavalos (quase 10 kg para cada cavalo); aqui, são até 127 cavalos puxando 1.070 quilos (8,42 kg/cv). Nada excepcional, você não vai ver ninguém são "apavorando" com o J3 Sport pela faixa da esquerda. Mas é o suficiente para melhorar a condução (é bom lembrar que o peso extra é, provavelmente, do próprio motor, que afinal vem de um carro maior).

Como o motor faz menos esforço para colocar o carro em movimento, o trabalho tende a ser desenvolvido numa faixa mais baixa de rotações, reduzindo o ruído percebido na cabine e, por consequência, o consumo. Na prática, percebe-se que o J3 Sport é mais desenvolto, com saídas melhores, retomadas mais vigorosas e ultrapassagens feitas até com alguma folga. Segundo a JAC, o J3 Sport é mais veloz, com aceleração de 0 a 100 km/h cumprida em 9,7 segundos (contra 11,7 s do J3 convencional); a máxima também é mais ampla, chegando a 197 km/h, em teoria (contra 186 km/h do J3 a gasolina, também no papel).

Por outro lado, muito motorista acostumado com o J3 tradicional pode até sentir alguma dificuldade com o Sport. Não houve qualquer melhoria dos conjuntos de suspensão e freios (tambor atrás, a disco nas rodas dianteiras). Nem em segurança, infelizmente -- o J3 segue com airbags duplos e freios com ABS (antitravamento) e EBD (controle eletrônico da força de frenagem), mas também deve manter a estrutura que "tomou pau" no Latin NCAP. Até pneus e rodas têm a mesma medida. De toda forma, o J3 é um carro acertado para o segmento, bem estável e sem tendência drástica a perder a trajetória em curvas (algo que não se vê em alguns rivais diretos, como o Chery Celer). A posição de condução também é a mesma, com ajuste do volante apenas na altura, enquanto o banco do motorista tem apenas a regulagem convencional de encosto -- neste caso, é pouco para um bom posicionamento do motorista e para a competitividade do carro no mercado atual.

No fim das contas, o motor maior também pode trazer ganhos ao consumo. O Inmetro nunca calculou as médias para o J3 hatch, a gasolina ou flex. Mas o fez para o J3 sedã (Turin) e para o J5 (que usa o motor de 1,5 litro a gasolina), dando notas baixas a ambos por conta do consumo de gasolina abaixo dos 10 km/l na cidade. Em nossa avaliação, o J3 Sport e seu motor flex chegaram à média de 8 km/l de etanol, obtida na calculadora (não há computador de bordo, ausência séria); é, por exemplo, o mesmo nível obtido pelo Ford New Fiesta renovado, que obteve índice A. Para quem apanhou e perdeu tanto em 2012, ter um ganho assim já é lucro.