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BMW trará tecnologia gringa para fazer carro "de verdade" no Brasil

O crossover X1 caiu no gosto do brasileiro e é forte candidato a ser produzido, em nova geração, em SC - Divulgação
O crossover X1 caiu no gosto do brasileiro e é forte candidato a ser produzido, em nova geração, em SC Imagem: Divulgação

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

19/02/2013 17h58Atualizada em 22/02/2013 14h23

Horas depois de divulgar sua mais recente tabela de preços com destaque para a redução dos valores praticados em até 14% (ou desconto de até R$ 77.750 no caso de modelos mais caros, como o brucutu esportivo X6 M), na última segunda-feira (18), a BMW do Brasil aproveitou o evento de lançamento do cupê de quatro portas 640i Gran Coupé, em evento para jornalistas realizado na cidade de São Paulo (SP), para afirmar que fabricará "BMW de verdade" em sua unidade de Araquari (SC), mas que terá de contar com tecnologia estrangeira para isso.

Incluída no Inovar-Auto (o novo regime automotivo nacional), a BMW justifica o corte nos preços com a possibilidade de abater desde já parte do IPI (os percentuais não foram revelados), mesmo que a fábrica catarinense, prometida no final de 2012, só vá ficar pronta no final de 2014, devendo entregar seus primeiros carros no começo de 2015.

Usar tecnologia estrangeira, porém, é algo polêmico, mas indispensável para produzir carros com a qualidade necessária, de acordo com o diretor financeiro Torben Karasek -- ele assumiu interinamente a chefia da marca no Brasil, enquanto a matriz escolhe um substituto para o ex-presidente, o carioca Jörg Henning Dornbusch, que deixou a companhia recentemente.

"Uma coisa é fazer carros populares ou carros de um certo patamar, outra coisa é fazer um carro premium da BMW. O Brasil tem fornecedores de ponta instalados, mas teremos de trazer outros para atender demandas nossas e de nossos consumidores", afirmou o executivo, que fez um tour explicativo ao redor do novo 640i Gran Coupé (falaremos sobre o carro ainda nesta reportagem) ao ser questionado sobre o que não poderia ser feito com tecnologia nacional. "Olhe para os faróis de LED, olhe para a tela wide screen de 10 polegadas, que sincroniza funções de computador de bordo, som e internet, veja o conforto dos bancos, o padrão do acabamento desta porta. O consumidor brasileiro quer este tipo de qualidade ao comprar um BMW e não vai querer saber se ele é feito aqui ou na Alemanha, assim, nossa missão é fazer e entregar um BMW de verdade".

É improvável que os primeiros modelos a serem feitos aqui no Brasil -- executivos desconversam quando instigados a cravar o nome de um carro específico, mas concordam ao apontar Série 1, Série 3 e X1 como bons candidatos iniciais, assim como algum produto da marca Mini como opção para um segundo momento -- tenham o mesmo nível de tecnologia do Série 6. Ainda assim, Karasek diz que o consumidor brasileiro aprendeu a cobrar qualidade sem abrir mão de pacotes competitivos, sobretudo após a ação incisiva das marcas orientais (leia-se coreanas) nos últimos anos, e que a BMW observa este novo comportamento de perto.

CUTUCADA

  • Divulgação

    Audi A3 feito no começo do século em fábrica compartilhada por Audi e Volkswagen, no Paraná, virou exemplo do que a BMW não quer fazer em Santa Catarina: "Faremos um BMW de verdade".

E O PREÇO?
Apesar do discurso sobre competitividade, o fato de importar tecnologia pode ser um fator de impedimento para a redução mais drástica nos preços -- BMW de R$ 80 mil, R$ 70 mil? -- dos modelos fabricados no Brasil. Outro pode ser o próprio "fator premium", que no fundo se mistura com a primeira questão.

"É difícil dizer o quanto poderia ser reduzido no preço, se é que seria reduzido. Este patamar anunciado agora (por volta dos R$ 90 mil para o BMW 116i, sem faróis de neblina, nem conectividade com celular) é bom e sua aceitação pelo cliente vai nos dizer que rumos podemos tomar. Além disso, há fatores como câmbio, política, custos de produção e respeito com nosso consumidor tradicional, que terão de ser levados em conta", afirmou Martin Fritsches, diretor de vendas da BMW do Brasil.

A fala de Fritsches é endossada pelo presidente interino, que aproveita ainda para cutucar a rival Audi, que construiu o hatch A3 no Paraná entre 1999 e 2006 e acabou criticada pela simplificação do modelo nacionalizado: "Independente de qual modelo venha a ser feito, ele será competitivo e terá nosso padrão de qualidade, não vamos seguir o exemplo da Audi, fazer um carro mais simples não está em nosso planos". A declaração também pode ser vista como resposta aberta às críticas feitas pelas rivais (incluindo na lista também a Mercedes-Benz), para quem o anúncio de fábrica no Brasil seria simples golpe de marketing da BMW.

Pelo visto, não é mesmo: em discurso, Karasek afirmou que a contratação dos primeiros funcionários de sua fábrica começa na próxima semana. Depois, explicou a UOL Carros tratar-se de integrantes dos setores administrativos, fundamentais para a fase burocrática que marca o início de qualquer operação.

Há um senão, porém: uma das exigências do governo para conceder as benesses em forma de redução de impostos com o novo regime está, justamente, em desenvolver tecnologia localmente. Resta saber como a BMW vai equacionar a conta.

640i GRAN COUPÉ
Em apresentação estática -- sem test-drive -- a BMW mostrou o cupê executivo 640i Gran Coupé, modelo de quatro portas, quatro lugares, motor 6-cilindros em linha de 324 cavalos e 45,88 kgfm de torque, câmbio automático de oito marchas e tecnologia que inclui uso de LEDs em todas as luzes e internet a bordo. Com 5 metros de comprimento e 2,96 m de entre-eixos, será importado inicialmente a R$ 399.950, com expectativa de vender 50 carros ao ano e competir com Mercedes-Benz CLS e Audi A7, principalmente.