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Nissan March 1.0 tem conjunto para ser carro-chefe da marca no país

Nissan March 1.0 não é referência do segmento, mas não deve quase nada aos seus principais rivais - Murilo Góes/UOL
Nissan March 1.0 não é referência do segmento, mas não deve quase nada aos seus principais rivais Imagem: Murilo Góes/UOL

André Deliberato

Do UOL, em São Paulo (SP)

12/02/2013 09h00

Desde que foi lançado no Brasil, em setembro de 2011, o March emplacou 42.619 unidades. Não é um número relevante para o segmento de compactos, no qual a soma das vendas mensais dos líderes Gol e Uno pode passar desse patamar, mas é revolucionário para a Nissan, que sequer possui fábrica própria no país (Livina e Frontier são feitas em parceira com a Renault, em São José dos Pinhais, no Paraná) e atualmente é a nona colocada no marcado, com 2,63% de participação.

E esse volume tende a crescer. Isso porque a marca termina de construir em 2014, em Resende (RJ), sua primeira fábrica "100%" (esta sim totalmente Nissan, sem modelos Renault), capaz de produzir 200 mil carros por ano -- atualmente o compacto é trazido do México e suas vendas são limitadas às cotas de importação estabelecidas pelo governo brasileiro.

A princípio, somente March e Versa (ambos feitos sobre a plataforma V) serão produzidos por aqui, embora a proporção de cada um dos modelos ainda esteja indefinida. A ideia da Nissan é inserir de vez os dois modelos na briga entre os principais veículos de suas categorias, solidificar ainda mais a marca no Brasil e, quem sabe, alcançar Toyota e Honda (oitava e sétima colocadas no ranking, respectivamente).

Parte dessa estratégia consiste em ter modelos atrativos para os consumidores que buscam seu primeiro automóvel ou uma opção viável para um segundo carro da garagem. Mas será que o March 1.0, de entrada, é capaz de encarar de frente um Volkswagen Gol ou um Fiat Uno? A presença de novos modelos no segmento (cada vez mais modernos, como Hyundai HB20 e Chevrolet Onix, por exemplo) também está no caminho deste compacto.

COMO ELE É
A Nissan oferece o March 1.0 a partir de R$ 26.890, com roda de ferro e manivela para a abertura dos vidros, apenas com quatro portas e airbag duplo. Vale lembrar que o reajuste do IPI será progressivo até junho e esse preço irá aumentar. O carro das fotos -- equipado com limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro, regulador interno dos espelhos retrovisores, ar-condicionado, direção com assistência elétrica, volante com regulagem de altura, chave com controle remoto, retrovisores pintados na cor do carro e trio elétrico sai por R$ 31.990. É um pacote interessante. Para ver a diferença entre as versões e a lista de equipamentos completa, clique aqui.

Materiais e nível de acabamento da cabine do March agradam, sem possuir, no entanto, a boa qualidade de um HB20, por exemplo. O ruído interno também é mais alto -- e incomoda mais -- que o de um Volkswagen Gol. São pontos que a marca japonesa deveria revisar quando começar a fabricar o modelo no Brasil.

Apesar disso, o March organiza bem seus equipamentos, com comandos objetivos, como todo modelo popular deveria ter. O quadro de instrumentos é claro e intuitivo, assim como os comandos do ar-condicionado. A posição de dirigir é um pouco mais elevada que o normal (mesmo com ajuste de altura no banco do motorista) e pode incomodar aos mais altos. O interior é superior ao de um Toyota Etios, por exemplo, que é mais caro, mas peca pelo acabamento.

Atrás, três pessoas vão bem, sem briga. O espaço é bom para a cabeça e para as pernas (desde que os passageiros da frente não tenham mais de 1,80 metro). E uma das maiores vantagens é que isso não influencia no tamanho do porta-malas: o March carrega até 265 litros até a altura do vidro, apenas 15 litros a menos que um Fiat Uno.

DESIGN
Por fora, o March ostenta visual controverso. Alguns enxergam certa graça e acham o carro simpático, alegre. Para outros, ele será apenas feio. O fato é que a Nissan pode aproveitar a nacionalização para fazer uma reestilização e acabar de vez com a polêmica.

Por baixo, o carro carrega um tipo tradicional de suspensão, presente na maioria dos modelos vendidos no Brasil: McPherson na dianteira e eixo deformável na traseira. Apesar de ser o tipo mais barato que existe, o conjunto combina com nosso asfalto e não deixa o March pisar na bola.

Em buracos maiores, o amortecedor não tem quedas bruscas e controla bem o peso das rodas. Na estrada, a suspensão é firme e segura bem a carroceria de ventos laterais, mesmo com a altura um pouco mais elevada do March -- 1,53 metro de altura, 7 cm a mais que um Volkswagen Gol, por exemplo.



CONJUNTO
O motor 1.0 do March gera 74 cv e 10 kgfm de torque (no etanol ou na gasolina) e tem 16 válvulas. Isso é bom para quem busca economizar combustível, pois apesar de ser mais caro para ser produzido, o propulsor de 16V pode ser mais econômico que um 8V, sempre dependendo de como o carro é conduzido.

O que atrapalha por aqui é o tanque de combustível, de apenas 41 litros (o do Uno tem 48 l, enquanto chega a 55 l no Gol). Na cidade, o computador de bordo marcou 9,7 km/l. Na estrada, foram 11,6 km/l, sempre com etanol no tanque e ar-condicionado ligado, ótimos números para um carro "mil". Isso dá uma autonomia de 398 quilômetros na cidade e 476 km na estrada, que poderiam ser melhores se o tanque tivesse maior capacidade.

O câmbio manual de cinco marchas é única opção do March e não parece bem escalonado para o motor 1.0, com engates imprecisos dificultando a troca de marchas. O March 1.6 que esteve na redação em 2012 não apresentou este tipo de inconveniente.

COMPACTO
Mas são os 3,78 m de comprimento e 1,67 m de largura que fazem do March um carro esperto para a cidade. Apesar da dinâmica modesta, como a de todo 1.0, suas dimensões o ajudam em balizas e manobras rápidas, como em um retorno dentro da própria via. A direção com assistência elétrica é bem leve e ajuda nesse sentido, mas atrapalha na estrada -- a ajuda deveria ser reduzida para "endurecer" o volante de acordo com a velocidade, o que não ocorre.

CONCLUSÃO
Além de oferecer configurações diferentes, a Nissan também dá três anos de garantia ao March, algo que quase nenhum concorrente faz. É uma oferta parecida com a das montadoras chinesas -- que oferecem vasta lista de equipamentos e vários anos de garantia --, mas com a confiabilidade de uma marca tradicional. Apesar disso, falta modernidade e algum requinte para o compacto chegar ao nível dos rivais.

Isso significa que alcançar os líderes da categoria é um fato que o March não deve conseguir alcançar na fase atual -- e mesmo quando receber o reforço da produção local. Apesar disso, ele é o carro-chefe da Nissan e tem predicados para ajudar a Nissan a dobrar ou até triplicar suas vendas a partir de 2014. É bom que Toyota e Honda comecem a se preocupar.