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Sem compacto, Honda transforma mini-SUV em estrela e 2015 em ano decisivo

Honda Urban SUV Concept no Salão de Detroit: nem parece, mas ele nasce para (ter de) brilhar - Paul Sancya/AP
Honda Urban SUV Concept no Salão de Detroit: nem parece, mas ele nasce para (ter de) brilhar Imagem: Paul Sancya/AP

Claudio Luís de Souza

Do UOL, em Campinas (SP)

31/01/2013 17h26Atualizada em 31/01/2013 22h55

A Honda decidiu adotar uma estratégia prudente no Brasil. Assimilou a volta ao segundo lugar em vendas no segmento dos sedãs médios, onde a prata da casa, o Civic, vem apanhando do Toyota Corolla. Sem muito alarde, trabalha para fazer do crossover CR-V um produto ainda mais atraente para o "consumidor familiar urbano", com a adoção de motor flex e uma nova versão de conteúdo top, mas tração dianteira em vez de 4WD (a partir de abril nas lojas).

Num movimento aparentemente ousado, mas que na verdade é extremamente conservador, criou uma versão cross para o monovolume Fit.

Tudo isso é o que a marca japonesa faz hoje, ou vai fazer muito em breve, no país -- e tudo isso é mais ou menos fácil. Difícil, e arriscado, é inventar um modelo totalmente novo para satisfazer o suposto desejo de um mercado. E isso a Honda não vai fazer.

Jogando com as cartas bem fechadas junto ao peito, a fabricante descarta qualquer possibilidade de lançar no Brasil, ao menos antes de 2016, um carro compacto para abrir sua gama por aqui, a preços um pouco abaixo e/ou logo acima de R$ 30 mil.

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O Brio, carro terceiro-mundista (Índia e Tailândia) da Honda que tem sido especulado como candidato à importação e depois à fabricação local, é dado como assunto morto e enterrado. Primeiro, porque não se importa carro compacto que se queira "barato". Segundo, porque o produto não estaria em sintonia com o cada vez mais exigente consumidor brasileiro de veículos. Isso vale também para a variação três-volumes do Brio, batizada de Amaze. 

Que não se diga ter sido em vão o lançamento do Etios pela arquirrival Toyota. Feito numa fábrica com capacidade para entregar 5.800 carros por mês (com expansão prevista para 8.300/mês), o modelo de DNA indiano (talvez seu pecado original) não consegue emplacar mais que 2.700 unidades mensais (hatch e sedã somados).

O número, de dezembro de 2012, mostra que (em tese) mais sobra do que se vende Etios hoje em dia. A Honda acompanha a trajetória do produto tanto quanto a Toyota, e embaralha suas cartas a partir disso.

A CHAVE É O SUV
Declinando de arriscar-se no segmento de entrada, a Honda vai apostar alto no SUV/crossover que resultará do protótipo exibido em Detroit no começo do mês. Chamado por ora de Urban SUV Concept (USC), o modelo deve medir 4,3 metros, alinhando-se no Brasil a carros como Ford EcoSport, Renault Duster e o vindouro Peugeot 2008. Em outras palavras, trata-se de mais um jipinho urbano de construção global.

A HONDA EM 2015

  • Jipinho urbano

    Baseado no Urban SUV Concept, deve ser fabricado no país, mas inicialmente pode ser importado do México. Rival óbvio: Ford EcoSport

     

  • City e Fit

    Os dois carros terão nova geração, sobre a mesma plataforma do jipinho

     

  • Civic

    Certamente já terá nova geração no exterior; aqui ela chegaria com motor 2.0 flex e brigaria com um Corolla reformulado no modelo 2014

     

  • CR-V

    Em maio próximo ganha motor flex e versão top 2WD. A tendência é sofrer facelift em 2015 em meio a vendas em ascensão

     

Até o final deste ano o USC deverá reaparecer em salões automotivos, talvez menos cru que a unidade dos Estados Unidos. O lançamento oficial será em 2014, inclusive nos EUA (com produção no México). Neste ponto, a filial brasileira terá de decidir se começa a importá-lo imediatamente. Fabricação nacional, só em 2015 -- o primeiro fator que transforma este ano em crucial para a Honda.

O segundo: as novas gerações de City e Fit, construídas sobre a mesma plataforma que sustentará o USC, serão lançadas no Brasil como ano-modelo 2015, provavelmente no segundo semestre de 2014.

Os dois carros receberam alterações cosméticas no ano passado, num típico facelift de meia-vida. Reformulados, vão energizar ainda mais um portfólio robustecido pelo CR-V flex (que também em 2015 já deverá receber um tapinha no visual) e enriquecido por carros de imagem, como o esportivo Civic Si Coupé e o sedã grande Accord, que volta às lojas nos próximos meses.

O terceiro fator é o que será feito com o Civic brasileiro de agora até daqui dois anos. A atual geração do sedã foi muito criticada no exterior e sofreu uma reforma importante para o ano-modelo 2013 (não aplicada no Brasil). É certo que para 2015 o carro terá de ser outro também aqui no Brasil.      

PREÇO E VENDAS
O jipinho urbano originado do Urban SUV Concept entra no jogo posicionado bem abaixo do CR-V. Na verdade, a expectativa é que a Honda cobre por ele mais que pelo Fit e menos que pelo Civic. Preço exagerado, "justificado" pela boa reputação da marca e pelo alto índice de satisfação dos proprietários, é um calcanhar-de-aquiles a ser enfrentado, cedo ou tarde.

A Honda fechou 2012 como a sexta maior vendedora de automóveis e utilitários leves no Brasil, com 3,71% de participação e cerca de 135 mil unidades emplacadas. Encostar na (e depois ocupar a) quinta posição, hoje defendida pela Renault com 6,65% do mercado e 242 mil emplacamentos, é o que Toyota, Hyundai e Nissan (7ª, 8ª e 9ª de 2012) também querem. Só 2015 dirá se a Honda jogou com as cartas certas.

Viagem a convite da Honda