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Paris, outra vez sob crise, serve feijão-com-arroz automotivo

Trabalhadores instalam outdoor do novo Hyundai Santa Fe em prédio de Paris  - Murilo Góes/UOL
Trabalhadores instalam outdoor do novo Hyundai Santa Fe em prédio de Paris Imagem: Murilo Góes/UOL

Claudio Luís de Souza

Do UOL, em Paris (França)

26/09/2012 06h38

O Salão de Paris 2012 abre à imprensa nesta quinta-feira (27) sob o signo da crise -- mais uma vez. Em 2008, o evento francês começou poucas semanas após o estouro das bolhas financeiras nos Estados Unidos; dois anos depois, o autoshow refletiu a percepção de que o pior não havia passado. Agora o clima é de transição: as fabricantes colocam pés (e rodas) no chão para se adaptar a um novo tipo de consumidor, numa Europa estagnada que não sabe o que fazer com sua moeda e seus países mais pobres.

O assunto do salão parisiense não será algum superesportivo milionário ou a mais recente tecnologia para motores elétricos.

Como bem definiu esta semana o jornal International Herald Tribune, este Salão de Paris 2012 não tem nada a dizer aos 1-percenters, literalmente os "um-porcentos", os ricos que (grosso modo) constituiriam 1% da população mundial.

Já os ambientalistas sentirão falta do habitual desfile de soluções antipetróleo e antipoluição, repetido a cada salão automotivo europeu. O desenvolvimento delas é caro para as fabricantes e o produto final (como um carro 100% elétrico) é mais caro ainda para o consumidor. A ordem é poupar combustível e sujar menos o ar com o que já existe: sistema start/stop, turbocompressor, uso de diesel, injeção direta, propulsão híbrida.     

Isso abre caminho para que as grandes estrelas do Salão de Paris 2012 sejam carros "normais", como o veterano e campeão de vendas Volkswagen Golf, que chega à sétima geração, e representantes do segmento "baixo custo", como Logan e Sandero, vendidos na Europa sob a marca Dacia, da Romênia (no Brasil, ambos são Renault).

É o feijão-com-arroz do setor automotivo de volta à berlinda, num momento em que todos se perguntam quem é o cliente médio (e possível) nesses tempos de crise.

  • Divulgação

    Nova geração do Logan, que a Dacia mostra em Paris: você pode não gostar, mas é o que tem

As vendas mundiais dos modelos Dacia já constituem um terço de tudo que a Renault, dona da marca, entrega ao redor do globo. No Brasil, os carros feitos sobre a plataforma do Logan transformaram a francesa num player realmente importante no mercado -- algo jamais conseguido com os modelos da matriz. Esse sucesso fulminante (a Dacia foi comprada em 1999) virou até livro: "A epopeia do Logan", em tradução livre, será lançado aqui na França em outubro.

Cartazes espalhados por Paris mostram o novo Hyundai Santa Fe, mas o SUV médio da sul-coreana deve atrair menos olhares que o Chevrolet Trax, utilitário de pequeno porte que no Brasil vai disputar mercado com Ford EcoSport e Renault Duster (outro sucesso com a assinatura Dacia). O próprio Eco, paradigma do "jipinho urbano" e ícone verde-amarelo da Ford global, estará exposto aqui.

Uma das chaves que a indústria experimenta na fechadura da crise é justamente essa: o uso de plataformas versáteis, que servem como base a dezenas de modelos. A produção é racionalizada (e facilmente transnacionalizada) e os custos de novos sistemas e peças são amortizados antes. Em tese, o resultado é um carro mais barato, nivelado qualitativamente "por cima" e com margem razoável para a fabricante (atualmente, quanto maior e mais luxuoso é um carro, mais dinheiro se ganha em sua venda).   

Até porque, assim como no Brasil, na Europa também está muito claro para a indústria que é necessário empurrar carros novos para os atuais compradores exclusivos de unidades usadas. O preço final é crucial para essa mudança de hábito.

Em suma, está aberta a temporada de caça à classe média -- seja ela o que for.

Viagem a convite da Anfavea