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Hyundai HB20 é o novo inimigo do Gol; vendas começam em outubro

Hyundai HB20: fabricante não revela preços nem dados técnicos, nem o carro por inteiro -- mas está mais do que claro que a proposta é virar o mercado automotivo do avesso - Divulgação
Hyundai HB20: fabricante não revela preços nem dados técnicos, nem o carro por inteiro -- mas está mais do que claro que a proposta é virar o mercado automotivo do avesso Imagem: Divulgação

Claudio Luis de Souza

Do UOL, em Piracicaba (SP)

20/07/2012 00h00

O carro brasileiro da Hyundai chama-se HB20, começa a ser fabricado em setembro e vendido em outubro. Os motores são bicombustiveis, de 1 e 1,6 litro, o primeiro de três cilindros, com câmbio manual de cinco marchas, o maior de quatro, com o mesmo câmbio ou um automático de quatro velocidades. São propulsores já usados nos Kia Picanto e Soul/Cerato, como observou o colunista Fernando Calmon.

O visual do HB20, que segue a escola da "escultura fluida" adotada pela fabricante sulcoreana, é ousado para um compacto, e certamente será um forte argumento de vendas.

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    Grade frontal do Hyundai HB20 não tem partes cromadas e prefere destacar o emblema da fabricante; abaixo, detalhe da lanterna traseira em forma de asa-delta e o nome do modelo  

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O paradigma eleito pela Hyundai entre os competidores brasileiros dá a medida de sua ambição: é o Volkswagen Gol, nada menos que líder de vendas no Brasil (considerando todos os segmentos) há 25 anos, e que acaba de sofrer uma reestilização.

No nome do novo carro, as letras HB significam Hyundai Brasil (e não "hatchback", como se pensava); o número 20 é uma referência à plataforma compartilhada com a próxima geração do i20, compacto vendido na Europa.

Em outras palavras, o modelo fabricado em Piracicaba (SP) está um degrau abaixo do já bem conhecido hatch médio i30.

Quando ficar pronta, em meados de setembro, a fábrica da Hyundai no interior paulista terá capacidade de montar 150 mil carros por ano (em dois turnos; um terceiro pode ser implantado). O sonho é vender até 25 mil unidades do HB20 ainda em 2012. Além do hatchback, serão fabricados o que a Hyundai chama de "SUV looking", versão aventureira do modelo análoga à gama cross da Volkswagen, e um sedã. Estes chegam às lojas no começo de 2013 -- mas o HB20 com roupa de trilha já será visto no próximo Salão de São Paulo, em outubro.

FINALMENTE, UM HYUNDAI EM CORES

Quando se fala em carros da Hyundai, que cores vêm à cabeça? Bem, apenas duas: preto e prata -- as únicas em que a gama importada da fabricante da Coreia do Sul é oferecida no Brasil.

Isso vai mudar com o HB20. A paleta do compacto é variada e, embora não tenha sido divulgada oficialmente, foi possível ver pessoalmente, na fábrica em Piracicaba (SP) e mesmo na linha de montagem (em fase de teste), exemplares ou partes da carroceria em branco, vermelho, verde claro metálico, azul metálico (essas duas semelhantes a de carros da Chevrolet), azul escuro (sólido) e marrom metálico.

Os conservadores não precisam se preocupar, porque preto e prata também estão na lista de cores do HB20. Mas terá de faltar imaginação para optar por elas.

As especificações técnicas e os preços não foram divulgados pela Hyundai. Isso acontecerá somente entre 11 e 12 de setembro, na apresentação definitiva do HB20 à imprensa.

É provável que a fabricante estabeleca os valores do modelo de olho na tabela da Volkswagen para o Gol, que tem gama semelhante. Isso significa uma faixa começando na vizinhança de R$ 28 mil e estendendo-se até R$ 50 mil, ou pouco menos. Por ser feito no Brasil, o HB20 terá IPI camarada, ao contrário dos demais modelos Hyundai. 

Quanto aos motores, os números não devem ser muitos diferentes daqueles obtidos nos carros da Kia: 77/80 cavalos de potência e 9,6/10,2 kgfm de torque para o 1 litro; 126/130 cv e 16/16,5 kgfm para o 1,6 litro (gasolina/etanol). Todos atingidos em giro alto, acima de 4.500 rpm.

UOL Carros viu o HB20 sem camuflagem nesta quinta-feira (19), durante visita à fábrica da Hyundai. A empresa ainda quer manter o suspense para o público geral, e por isso divulgou apenas algumas fotos de detalhes do modelo, além de fotos com ele camuflado; já nosso celular teve a lente da câmera bloqueada durante a visita, e, contra arranhões e marcas de digitais ao tocar o único veículo exposto, vestimos luvas de tecido.

Também pudemos dirigir, ainda que muito brevemente, exemplares com as três configurações de trem-de-força oferecidas na gama do HB20: 1.0 manual e 1. 6 manual e automático. No test-drive, os carros estavam parcialmente cobertos (são os das fotos desta página).

VISUAL
Por fora, o novo modelos da Hyundai prova que um estilo baseado em alongamento e ondulação de linhas pode funcionar bem numa carroceira curta, com menos de 4 metros de comprimento (as medidas não foram divulgadas).

Além dos vincos laterais e da cintura alta e ascendente, são os faróis espichados ao longo dos paralamas que fazem essa "mágica". Uma parte das lentes, estritamente de acabamento, chega a correr paralela ao capô do motor. A grade frontal baixa e delgada completa o desenho.

Esse acerto no estilo disfarça um conjunto que, tecnicamente, é até minimalista: há dois canhões de iluminação de cada lado (faróis alto e baixo mais a luz de direção) e nem sinal de uso de LEDs.

É, MAS AINDA NÃO É

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    No alto, o HB20, cuja plataforma é a mesma do i20 (carro azul), mas não do modelo da foto, que já é 2013: segundo a Hyundai, o carro nacional começa a usar essa base antes do meio-irmão (vendido na Europa) mudar de geração, no ano-modelo 2014

Visto de trás, o HB20 lembra um Kia Sportage encolhido, mas é só depois de algum tempo que se notam volumes, ângulos e contornos (como o parachoque massudo, alargando a base da carroceria, ou as lanternas que "vazam" para as laterais) capazes de tornar o carro bonito, ou ao menos interessante, não importa onde pouse o olhar. E isso é raro.

Por dentro a boa impressão continua; aliás, é até mesmo ampliada.

Pensado para ser relativamente barato, o HB20 usa apenas plásticos e tecidos para compor a cabine, mas o capricho na montagem e na forração é evidente. As cores são discretas (cinza, cinza escuro, preto) e, por isso mesmo, elegantes. O painel de instrumentos tem iluminação azul (os marcadores de temperatura e combustível são digitais, com "risquinhos"), mas o display do sistema de som é verde, destoando do conjunto.

Quatro pessoas têm espaço e conforto de sobra, ressalvando um certo estranhamento causado pelas janelas traseiras altas, que começam acima do ombro de uma pessoa de 1,70 metro. A sensação geral é a de estar a bordo de um i30 em tom menor, um "i30 Jr.", e isso vale também para o interior do HB20 1.0 que conhecemos.

RECHEIO
A Hyundai preferiu não fornecer ainda a lista de equipamentos da gama, e por isso certos itens percebidos nos carros expostos podem ser opcionais. Durante uma entrevista com executivos da fabricante, foi dito que freios com sistema ABS (antitravamento) e o airbag para o passageiro terão de ser pagos à parte, ao menos nas versões mais baratas -- uma medida de economia que não causou boa impressão. A partir de 2014, todos os carros novos à venda no Brasil deverão ter ABS e airbags frontais.

GUERRA É GUERRA

Com o HB20, a Hyundai não vai incomodar as rivais apenas com um produto. A estratégia da empresa é a de usar a capacidade de produção de sua fábrica em Piracicaba (SP) até o limite já em 2013, com três turnos de trabalho. Ou seja, dá para fazer bem mais de 150 mil carros, quantidade a ser obtida com apenas dois turnos.

Mas não é só isso. O presidente da Hyundai do Brasil, Chang Kyun Han, também revelou nesta quinta-feira (19) que está sendo preparada uma rede de distribuidores exclusiva para a família HB20, que pode chegar a 150 ainda este ano. As atuais lojas da marca, mantidas pelo grupo CAOA, seguirão trabalhando com a linha importada (de i30 até Equus).

UOL Carros apurou que empresários que já trabalham com revendas, mas de outras marcas, estão sendo "seduzidos" em conversas diretas com a cúpula da Hyundai. O próprio Han não se fez de rogado: "Conversamos com 16 pessoas [empresários] que, em um ano, vendem juntos 420 mil carros", disse. O objetivo é focar as operações em dez grandes cidades, mas os tentáculos dessa Hyundai de administração 100% coreana, mas que só venderá carros brasileiros, é instalar-se em 26 Estados do país e chegar a 200 revendas assim que possível.

No contato com o HB20 1.6 (manual e A/T), listamos: faróis de neblina; vidros, retrovisores e trava elétricos; volante multifuncional com regulagem de altura e profundidade, mais revestimento em couro; computador de bordo com dois hodômetros parciais (trip A e B); som com rádio, CD e entradas AUX e USB no console (sob uma tampa deslizante); rede para bagagem no porta-malas; repetidor de seta nos retrovisores; sensor traseiro de estacionamento; ar-condicionado com seleção manual; e direção hidráulica. Os freios traseiros usam tambor. Os pneus são de medida 185/60, em rodas esportivas de aro de 15 polegadas.

Já o HB20 1.0 tem rodas aro 14", que podem ser de aço ou liga, e volante sem couro (mas ainda multifuncional). Os habitáculos são muito parecidos: até mesmo a diferença nas texturas dos materiais é sutil.

RODANDO COM O HB20
Experimentamos o modelo da Hyundai numa pequena pista de provas dentro da própria fábrica. Tudo muito rápido e controlado, mas algumas coisas saltaram aos olhos e aos ouvidos.

O motor 1.0 de três cilindros dá e sobra para empurrar o HB20, mesmo com quatro pessoas a bordo (mas sem bagagem). Levando apenas o motorista, e portanto menos peso, o conjunto chega a ser empolgante, não só porque é raçudo, mas também porque ruído do motor é peculiar, mais agudo que o de um propulsor comum.

Por muito tempo o HB20 vai "falar" diferente em nossas ruas, mas vale notar que a onda de downsizing veio para ficar e, com ela, os motores três-cilindros. Não faça prejulgamentos: experimente antes de reclamar do "caneco roubado".

O HB20 1.6 é sensivelmente mais pesado, e sua direção (que, ao contrário, é bastante suave) trepidou um pouco durante a aceleração em reta. Por volta de 155 km/h, ficou dócil novamente. O carro 1.0 comportou-se melhor e chegou a 140 km/h em quarta marcha sem sequer pedir a quinta.

Como esperávamos, o câmbio automático de quatro velocidades não agradou; seria necessário ao menos mais uma marcha, o que encurtaria as relações e deixaria terceira e quarta mais vigorosas.

Disso tudo, fica o quê?

Bem, por ora, nada -- mas a experiência pelo contato com centenas de modelos, de dezenas de marcas, já nos ensinou que carro ruim a gente reconhece logo de cara. Não é, de jeito nenhum, o caso do Hyundai HB20.

Também vem da experiência uma mistura de intuição com dedução lógica antecipada (se isso existe), a qual permite acertar prognósticos com razoável frequência. Eis mais um: o HB20 será um enorme sucesso e vai provocar um inédito terremoto no mercado automotivo brasileiro. Podem escrever.

Viagem a convite da Hyundai