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BMW 650i Coupé é fera de 413 cavalos com olhar de conquistador

Apesar do corpo de "playboy", Série 6 Coupé tem preparo de esportivo e controle total de ações - Murilo Góes/UOL
Apesar do corpo de 'playboy', Série 6 Coupé tem preparo de esportivo e controle total de ações Imagem: Murilo Góes/UOL

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

21/06/2012 12h30

Qual seria a reação típica à frase "Meu carro é um BMW"? Normalmente, um balançar positivo de cabeça, seguido de leve sorriso e até mesmo um pequeno bico se formando entre os lábios -- sinais cabais de aprovação, mas com um ar de inveja e o consequente distanciamento. Se pensamentos pudessem ser lidos, uma resposta como "Exibicionista!" estaria pairando no ar. Nada disso acontece, porém, se o carro em questão for o Série 6 Coupé, um autêntico conquistador -- com ele, é mais fácil fazer amigos e colecionar sorrisos sinceros. Desde, é claro, que você seja o milionário da turma: são R$ 577.200 para colocar um na garagem.

Segunda variação da atual família 6 a chegar ao Brasil -- o pioneiro foi o cupê conversível 650i Cabriolet, de R$ 523 mil, segundo a Tabela Fipe -- este Série 6 de duas portas traz teto rígido no lugar da libertária, mas estranha, capota de tecido. E isso basta para termos um visual sensual, provocativo e instigante, que atraiu olhares e derrubou queixos de motoristas, manobristas e pedestres durante os dias de nossa curta convivência com o modelo 650i Coupé. Delineada pelo chefe de design externo da BMW, Anders Warming, a nova geração do Série 6 apaga todas as bobagens cometidas pela anterior -- aliás, nem gastaremos o teclado comentando o que era aquilo.

O estilo atual é menos forçado ou, como a turma do marketing gosta de dizer, orgânico: o esboço do carro pode ser feito naturalmente com três traços -- o primeiro contemplando a frente com focinho proeminente (onde se abriga a grade de duplo rim, símbolo de todo BMW), a curva do longuíssimo capô que leva ao arco do teto, a queda para o terceiro volume e o recorte esportivo da traseira; o segundo, uma meia parábola, define a linha de caráter e base das janelas com o conhecido vinco entre a vigia e a coluna C (o famoso "Hofmeister Kink"); o terceiro, no ponto mais baixo das portas, dá base ao modelo.

Os 4,89 metros de comprimento, com 1,89 m de largura, 1,36 m de altura e distância de apenas 12 centímetros do solo até dificultam a circulação por cidades cheias de valetas e lombadas ou o encaixe do cupê num vaga apertada de shopping -- para o primeiro "obstáculo" vale o bom senso do motorista, enquanto para o último há o interessante auxiliar de estacionamento com sistema de câmeras e sensores para visão de 360º do perímetro. As compras do dia ou as malas do final de semana cabem facilmente no porta-malas de 460 litros, melhor que o de muito sedã visto por aí. Já o entre-eixos de 2,86 m vai agradar condutor e carona, que contarão com espaço de sobra para pernas, apesar de viajarem quase deitados nos tecnológicos bancos com mais de uma dezena de ajustes elétricos e duas memorizações (também para volante e espelhos).

A BMW classifica o cupê como um 2+2, ou seja, há mais dois bancos traseiros espremidos entre os assentos frontais e o final da cabine, individualizados por uma elevação que faz o papel de apoio de braço. UOL Carros conseguiu realizar a proeza de levar uma pessoa adulta numa dessas posições durante um passeio com amigos e atesta: alguém pode até viajar atrás do carona sem reclamar (atrás do condutor, é virtualmente impossível), mas não durante muito tempo.

O Série 6 Coupé é claramente um BMW do século 21, um carro que transita entre diferentes categorias, escapando de rótulos fáceis. A plataforma é a mesma do médio-grande Série 5, mas o nível de conforto e equipamentos é comparável ao do executivo grande Série 7. De fato, este cupê se difere dos sedãs sobretudo pelo uso, muito mais voltado ao ócio e ao bom proveito dos momentos ao volante. Nada de documentos de trabalho e gravata apertada aqui, portanto, mas sim um bom traje esporte. Bom, avançado, luxuoso e, convenhamos, caro.

O ambiente do Série 6 é tão requintado, e isso vale até para os felpudos tapetes do assoalho, que se sua namorada tiver inclinações orientais vai acabar achando que deve retirar os sapatos antes de pisar na cabine. Quer um bom exemplo disso? E que tal cinco? A tela de LCD central, plana, lembra a do 118i, mas enquanto lá ela era pouco maior que o display de um smartphone atual, aqui no 650i tem dez polegadas e lembra bem um tablet. O sistema de entretenimento e informação pode sincronizar dados de celular, não apenas para permitir ligações por Bluetooth, mas também para gerenciar torpedos (SMS, e-mails e avisos importantes e até melhorar a recepção do GPS pela conexão de internet do aparelho. O complemento é dado pelo impressionante sistema Bang & Olufsen, opcional que vale algo entre 5 e 10% do valor total do carro, e que gerencia um som de home theather caro dentro da cabine do Série 6, com direto a 16 falantes de alta definição e uma caixa central basculante, que se ergue em frente ao para-brisa quando acionada.

Para fechar, teto solar panorâmico não se estende sobre a fileira traseira, até porque de fato ninguém irá sentado ali, de fato e conjunto óptico com luzes de xênon, que podem ser substituídas por LEDs adaptativos, muito mais eficientes e, de quebra, econômicos e bonitos.

Há ainda a miríade de equipamentos de segurança, cuja sofisticação assinala o topo dos padrões, mesmo na categoria premium. Tradicionais airbags (duplos frontais e laterais, além dos de cabeça ao longo do habitáculo) e freios com ABS (antiblocante) ganham a companhia de encostos de cabeça ativos, cintos dianteiros com pré-tensionador, sistemas ativo de tração, dinâmico de contorno de curva e de força de frenagem, bem como auxílio para aclives, faróis que acompanham a curva e sensor de infravermelho, que capta a presença de seres vivos na estrada (humanos ou não) dentro do alcance de 300 metros, tudo de série.

POR DENTRO

  • Murilo Góes/UOL

    Acima, a soberba cabine do 650i, com acabamento em dois tons e uso de materiais requintados. Abaixo, o motor 4.4 V8 biturbo de 413 cavalos e 61 kgfm de torque máximo.

  • Murilo Góes/UOL

IMPRESSÕES
Dependendo da personalidade de quem o observa, e do ímpeto de quem está ao volante, o cupê vai parecer um predador implacável (tubarão, tigre, víbora, talvez um cão de caça) ou um belo animal de companhia (um cavalo, talvez). Nada lento, confuso ou inanimado. Uma baleia branca? Nunca. Uma banheira? Jamais. Até é possível olhar para o perfil do 650i e enxergar formas que lembrem, por exemplo, alguns muscle cars americanos (sim, as linhas de antigas gerações do Camaro ou até do Mustang estão ali, sobretudo no respiro cromado que nasce nas caixas de rodas e percorre toda a lateral praticamente divindo-a ao meio, ou na transição entre as amplas vigias laterais traseiras e o porta-malas recortado para formar uma espécie de asa. A semelhança, porém, para aí.

Este BMW não anda solto como um esportivo americano, não chacoalha como um esportivo americano (embora a carroceria oscile levemente quando se acelera com o câmbio em neutro, embalando gentilmente os ocupantes) e, principalmente,  não urra como um esportivo americano. Os dois primeiros pontos são positivos, uma vez que o controle da suspensão com braços de alumínio (na dianteira e traseira), a direção elétrica e o trem de força cumprem seu papel com maestria, mesmo em nossas terríveis pistas. Já o último acaba se revelando um efeito colateral decepcionante: a cabine é tão bem isolada do mundo exterior, que o motorista mal ouvirá o rugido suave do motor V8 de 4,4 litros sobrealimentado por dois turbos.

Calma lá, o 650i pode ser quase calado, mas não mudo. E ele fala bem por meio dos indicadores, cujas informações mais importantes são reproduzidas pelo sistema de projeção no para-brisa para que o motorista saiba o que ocorre sem desviar o olhar da pista. E isso é mesmo necessário, já que toda sua atenção vai se voltar ao ato de pisar fundo e manter o volante na direção certa, quase sempre. Entre acelerar e ter as costas coladas no encosto do banco até que se rompa a barreira dos 100 km/h, gastam-se menos de 5 segundos.

O que torna tudo tão rápido e preciso é a ação do duplo turbo, que amplia a ação máxima de potência e torque por uma maior faixa de atuação: os 413 cavalos máximos surgem entre 5.500 e 6.400 rpm, enquanto os mais de 61 kgfm se colocam à disposição entre 2.000 e 4.500 giros. Tudo sob controle do câmbio automático de oito marchas da alemã ZF com aletas atrás do volante, novo paradigma de luxo quando o assunto é caixa de marchas, que pode tanto dosar o ritmo e manter tudo suave como a brisa (nos modos Comfort Plus e Comfort -- equivalente ao Normal), quanto elevar os ânimos e transformar o carro num furação portátil (com as opções Sport e Sport Plus, que desliga alguns controles auxiliares). 

A contrapartida vem no posto de gasolina, uma vez que os dados de fábrica sugerem consumo de 6,4 km/l de gasolina de boa qualidade, enquanto nosso teste de cerca de 500 km encerrou um tanque e meio com média semelhante a 5 km/l. A culpa, no caso, pode ser também do conjunto de rodas baixo e largo, de 18 polegadas, com pneus 245/45 -- embora mais vistosos e esportivos, estes pneus aumentam o consumo médio de forma razoável. Mas esse é um detalhe de pouca relevância para quem tem bala na agulha para aproveitar o clima tranquilo e confortável do interior do 650i Coupé. 

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