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Etios é aceno da Toyota para quem não pode ter um carro da marca

Toyota Etios hatch: modelo na carroceria dois-volumes tem apenas 3,78 m e visual moderno - Divulgação
Toyota Etios hatch: modelo na carroceria dois-volumes tem apenas 3,78 m e visual moderno Imagem: Divulgação

Claudio Luis de Souza

Do UOL, em Gamagori e Tóquio (Japão)

06/06/2012 09h36Atualizada em 06/06/2012 12h00

A Toyota apresentou nesta quarta-feira (6), no Japão, o Etios, estreia brasileira da montadora no segmento compacto. O modelo deve chegar às lojas do país em setembro. Com algumas diferenças, ele já roda na Índia desde o final de 2010.

O Etios oferece as carrocerias hatch (3,78 metros de comprimento e entre-eixos de 2,46 metros) e sedã (4,26 m e 2,55 m). A fabricante aponta como concorrentes Nissan March, Volkswagen Gol e Fiat Palio; e VW Voyage e Fiat Siena. Curiosamente, Renault Logan, Fiat Uno e Chery Face, rivais óbvios do novo modelo, não foram citados durante o evento de apresentação. O Hyundai HB e o Chevrolet Ônix, a serem lançados até 2013, são inimigos do futuro. 
 
O Etios hatch terá motores bicombustíveis 1.3 e 1.5 de 16 válvulas, e o sedã apenas o 1.5 (não foram liberados os dados técnicos). O câmbio é sempre manual, de cinco marchas. De acordo com a fabricante, os propulsores serão importados do Japão, mas num segundo momento a produção deles será no Brasil.
 
O modelo vai ser fabricado na unidade da Toyota a ser inaugurada nas próximas semanas em Sorocaba, interior de São Paulo. Saíram dela as várias unidades de teste flagradas por leitores de UOL Carros nos últimos meses. A capacidade produtiva da nova planta da marca japonesa é de pelo menos 70 mil carros por ano.
  • Claudio Luis de Souza/UOL

    Toyota Etios sedã: parece o Renault Logan, mas com o tempo ele fica mais bonito

SEGREDOS
A Toyota optou por não revelar agora como será a gama do Etios. É certo, porém, que haverá no mínimo duas versões de acabamento para cada carroceria. Freios com ABS (antitravamento) e EBD (distribuição de força), além de airbags, vêm de série em todas elas.
 
O esforço para cortar custos de produção é evidente em certos detalhes do carro. O limpador do parabrisa é em peça única. Os freios traseiros usam tambor. Haverá versões com rodas de aço e calotas. Por isso, embora a Toyota mantenha os preços do Etios como outro mistério, é razoável estimar um valor de entrada começando com "2" (hatch básico), enquanto o mais alto deve iniciar com "4" (sedã completo).
A proposta é ampliar (para baixo) a faixa de preços dos produtos da Toyota no Brasil, que hoje é relativamente elitizada por começar com os mais de R$ 60 mil do Corolla XLi.
 
Como disse o engenheiro Isami Nishimura, da Toyota do Japão e responsável pelo projeto do Etios: "As pessoas confiam na marca, mas não encontram nela uma opção de carro para seus filhos usarem".
 
Note-se que o comentário vale para o Brasil, já que a Toyota oferece modelos menores que o Etios em diversos mercados. No próprio Japão há o iQ e o Yaris. 
 
O esforço da Toyota nos países chamados emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China, principalmente) busca equilibrar o padrão de vendas globais da marca, que hoje emplaca 60% de seus carros em mercados tradicionais (Japão, Estados Unidos e Europa) e 40% nos demais. Até 2015, a meta é anabolizar a participação nos emergentes para que a divisão fique em 50/50.

COMO É O ETIOS
UOL Carros participou de uma rápida experimentação do Etios, hatch e sedã, num autódromo localizado em Gamagori, cidade à beira-mar na região de Nagóia, no Japão.
 
O primeiro contato com o modelo deixou impressões divergentes.
 
O estilo agrada nas duas carrocerias. O hatch transmite modernidade, especialmente na traseira; o sedã, que inicialmente parece um xerox do Logan, aos poucos vai ficando mais simpático ao olhar. A grade frontal em formato de "U" e os conjuntos ópticos cumprem bem a tarefa de deixar o Etios "arrumadinho".
 
O comportamento dinâmico também merece elogios. O destaque é a suspensão bem acertada, que garante firmeza nas curvas e conforto para os ocupantes quando o Etios lida com pisos irregulares. As rodas do hatch são aro 14, e as do sedã, 15 (sempre com pneus altos).

A direção hidráulica é bastante direta e o volante tem empunhadura esportiva, e por isso dá até para encontrar alguma diversão ao conduzir o Etios -- especialmente no caso do hatch (dirigimos apenas o 1,3 litro).

Motoristas mais exigentes poderão reclamar que os motores de 16 válvulas do modelo demoram para  "encher" nas arrancadas e retomadas. Não falta força aos propulsores, mas ela só é encontrada quando os giros sobem significativamente, sugerindo uma curva de torque com pico acima das 4.000 rpm (os valores não foram divulgados pela Toyota). No geral, o trem-de-força trabalha de forma harmoniosa e suficiente para uso urbano e rodoviário.

O ponto baixo (e bota baixo nisso) do Etios é a cabine.


BOM GOSTO, SÓ QUE NÃO
Os carros que dirigimos aqui no Japão claramente eram "pré-série", ou seja, uma espécie de primeira fornada, mais sujeita a desandar no acabamento e na montagem. É uma explicação possível para as peças mal-encaixadas, as rebarbas, a impressão geral de fragilidade.
 

BOLA DENTRO, BOLA FORA

  • Divulgação

    Traseira do hatch está em sintonia com o que há de melhor no design de compactos

  • Claudio Luis de Souza/UOL

    Uma das falhas da cabine do Etios: megatampa do porta-luvas abre em cima do passageiro

Mas o painel de instrumentos esquisito (para ser bonzinho) e antifuncional não tem nada a ver com isso.
 
Ele é centralizado, talvez para facilitar o reposicionamento do volante (na Índia o motorista vai do lado direito, mas a Toyota diz que é uma opção de ergonomia). O velocímetro é gigante, em semicírculo, e oblitera a minúscula tela que reúne marcador de combustível e odômetro. É preciso ver as fotos para (tentar) entender.
 
Já o porta-luvas, que possui um duto do ar-condicionado para refrigerar o conteúdo, abre em cima das pernas do passageiro e tem o acesso prejudicado pelo desenho da própria tampa.
 
É difícil afastar a sensação de que houve um certo descuido -- como se a Toyota, sempre tão imitada pelas fabricantes chinesas, tivesse regredido e imitado as chinesas em busca da "fórmula secreta" do carro barato.
 
Compensações, se assim as podemos chamar, existem: o espaço interno do Etios é excelente para quatro adultos, e o nível de ruído (ao menos nessas unidades de teste) foi surpreendentemente baixo. Além disso, o porta-malas do sedã é enorme, comportando 595 litros de bagagem (o hatch, sem rebatimento, leva 263 litros).

Depois de conhecer esse Etios algo "prematuro", cobrar mais capricho e bom gosto no carro definitivo é nossa obrigação. O modelo é interessante, mas a Toyota pode fazer melhor -- no mínimo para não depender apenas de preço na luta por espaço entre os compactos. Dá tempo até setembro?

Viagem a convite da Toyota do Brasil