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Cidade de São Paulo inicia projeto de táxi elétrico com dois Nissan Leaf

Projeto piloto de frota de táxis elétricos começa com acordo entre Nissan, Prefeitura de São Paulo e associação de empresas de frota de táxi. Serviço se inicia na próxima segunda (11) - Divulgação
Projeto piloto de frota de táxis elétricos começa com acordo entre Nissan, Prefeitura de São Paulo e associação de empresas de frota de táxi. Serviço se inicia na próxima segunda (11) Imagem: Divulgação

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

05/06/2012 13h58Atualizada em 05/06/2012 15h01

A Prefeitura de São Paulo anunciou nesta terça-feira (5) o início da fase de testes para implantação de uma frota de táxis elétricos na capital. A operação do programa piloto, como é chamado, terá início na próxima segunda-feira (11), quando duas unidades do elétrico Nissan Leaf, hatch médio importado, passam a circular com passageiros a partir do ponto de táxi localizado na esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação.

O anúncio do projeto foi feito na sede de uma empresa de táxi no bairro do Belém, Zona Leste da capital, e contou a participação do prefeito Gilberto Kassab (PSD), que pouco falou durante o evento e preferiu posar para fotos, ora perto de um dos pontos de abastecimento do táxi elétrico, ora dentro do veículo.

"As empresas envolvidas deram um presente à cidade de São Paulo, no Dia Mundial do Meio Ambiente", afirmou Kassab em rápida entrevista coletiva, dando a entender que o projeto não term qualquer custo para os cofres da Prefeitura. Segundo o prefeito, "o uso de carros movidos a energia elétrica como táxi vai trazer credibilidade ao modelo e fazer com que ações, principalmente no sentido de estudo da redução de cargas tributárias, sejam estudadas". Ele afirmou ainda que planeja a extensão da parceria com a Nissan para que carros elétricos também sejam utilizados na assessoria do prefeito, mas ressaltou que este projeto adicional "leva tempo para sair, talvez apenas no final do ano, e que assim não vai me beneficiar, mas servirá ao próximo prefeito". 

CIDADE TERÁ DEZ CARROS
A entrega dos dois carros elétricos faz parte da segunda fase do Acordo de Intenções assinado em junho de 2011 (quando o Leaf foi mostrado no país pela primeira vez) pela Prefeitura de São Paulo, pela Nissan e pela AES Eletropaulo (concessionária de energia elétrica que abastece a capital). A previsão é que outros oito carros elétricos complementem a frota de testes até outubro de 2012 -- com isso, o projeto terá um total de dez carros elétricos rodando pela capital e cidades da Grande São Paulo.

Cada um dos carros será entregue em regime de comodato a uma empresa privada de táxi da cidade -- neste primeiro momento, Táxi Sampa e Alô Táxi foram as escolhidas e terão de arcar com os custos de manutenção e recarga dos carros. O contrato de comodato tem duração de três anos, com revisão anual dos termos, e é assinado diretamente entre a Nissan, que se compromete a fornecer suporte e manutenção dos carros na rede de concessionários, e cada uma das empresas de frota de táxis associadas, que arcam com os custos de manutenção e de recarga e também indicam os motoristas de cada um dos elétricos.

O valor dos contratos não foi divulgado, mas estima-se que cada unidade do Leaf desembarque no Brasil por cerca de R$ 200 mil. É preciso lembra que o país não tem qualquer política de incentivo para veículos elétricos -- a tributação deste tipo de carro segue a de um modelo a gasolina com motor acima de 2 litros, ou seja, com alíquota original de IPI de 25% mais os 30 pontos adicionais cobrados desde setembro de 2011 (e sem direito ao pacote de redução até outubro próximo). Nos Estados Unidos, por exemplo, o Leaf é vendido por US% 35 mil (R$ 71 mil), mas bônus federais, estaduais e municipais podem reduzir este preço até cerca de US$ 25 mil (R$ 25,5 mil).

  • Divulgação

    O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, recebe instruções sobre recarga do táxi elétrico

CUSTOS
A autonomia média prometida para o elétrico Leaf com as baterias carregadas é de aproximadamente 160 quilômetros. Ao final da carga, o motorista deve conectar o carro a um ponto de recarga padrão (de 110 ou 220 Volts), que custa cerca de US$ 2 mil (quase R$ 4.500) e precisa de um prazo de oito a 21 horas para completar a capacidade da bateria (durante o evento, os representantes falavam em tempo menor, de seis a oito horas, não comprovado por nenhum manual ou ficha técnica do carro).

Num primeiro momento, a cidade contará com dois destes pontos instalados, um em cada sede das empresas de táxi, chegando ao total de dez até outubro. Paralelamente, espera-se que a Eletropaulo instale outros cinco pontos de recarga rápida (de 440 V), que darão conta de carregar até 85% da carga da bateria do carro elétrico em tempos que variam de 30 minutos a três horas -- os locais destes pontos ainda serão definidos, mas ficarão próximos das regiões da Radial Leste (Zona Leste), Lapa (Oeste), Casa Verde (Norte) e nas cidades de Guarulhos e Osasco. No total, serão 15 pontos de abastecimento elétrico, somando os locais de recarga rápida e lenta.

Apenas para comparação, um táxi normal, com motor convencional a combustão e abastecido com álcool ou gasolina, consegue rodar cerca de 200 quilômetros diários na cidade e entorno, gastando para isso até meio tanque de combustível. O ganho do carro elétrico, segundo as entidades e empresas envolvidas, é ambiental, uma vez que o carro elétrico não emite poluentes (descarta-se neste cálculo qualquer emissão por parte das fontes geradoras de eletricidade).

O custo de recarga total do carro elétrico é estimado em R$ 8, enquanto um motorista de táxi convencional gasta em abastecimento de R$ 35 (para encher o tanque com gasolina) a R$ 39 (com etanol). O custo de abastecimento com gás natural veicular não foi fornecido pelas empresas.

COMO ANDA O LEAF
Primeiro modelo 100% elétrico construído no mundo em larga escala (o pioneiro Toyota Prius e o super-comentado Chevrolet Volt, ambos testados por UOL Carros, são híbridos, unindo motores e baterias elétricas a propulsores a gasolina), o hatch Nissan Leaf tem algumas diferenças, mas também muitas semelhanças com um carro convencional dotado de algum luxo e conforto: abertura do carro e partida do motor podem ser feitos sem uso da chave, que precisa apenas estar no bolso. Mas ao se apertar o botão de Power do motor com o pé no pedal do freio, surpresa, nada acontece. Algum tempo depois, o motorista de carro elétrico de primeira viagem percebe que tudo já está ligado e o carro, pronto para rodar: o desenho de um carrinho verde se acende no painel, embora o motorista não ouça nada, nem note qualquer tranco ou vibração. O Leaf é suave a todo tempo, característica de elétricos, já que o motor elétrico quase não tem partes móveis. Se quiser, o usuário pode programar avisos sonoros, que funcionam como a música que toca quando você liga o computador, o telefone ou até mesmo TVs de LCD.

A potência máxima entregue pelo motor de 80 kW, perto dos 107 cv (típico de um carro com motor a combustão de 1,4 l, por exemplo), não chega a surpreender -- é até abaixo dos padrões de motor a combustão para um hatch de porte médio. Mas o diferencial surge no torque, a força transmitida às rodas e que tira o carro da inércia, de 28,5 kgfm, acima do torque do antigo Volkswagen Jetta 2.5 (24,5 kgfm), e que está disponível de modo imediato.

O Leaf carrega sob o assoalho 48 módulos, parecidos com marmitas de metal, cada um do tamanho de um laptop de 14 polegadas. Cada módulo abriga quatro baterias que carregam o combustível do Leaf. Com garantia de 100 mil quilômetros ou oito anos,os quase 50 kits compõem o centro vital do Leaf, sendo que sua troca corresponderia a 50% do valor do carro. A ausência de peças como filtros de ar, correias de transmissão, velas, coxins e óleo, típicos de carros a combustão, demandam reparos menores. A capacidade das baterias é de 24 kWh, o que permite um deslocamente por até 160 quilômetros numa estrada ideal, plana e sem obstáculos -- a autonomia, porém, pode variar em função do tipo de condução e do uso de ar condicionado e, principalmente, ar quente.